

No Apocalipse
Na introdução do Apocalipse a saudação foi escrita em forma de doxologia. “João às sete igrejas da província da Ásia: A vocês, graça e paz, da parte daquele que é, que era e que há de vir, dos sete espíritos que estão diante do seu trono, e de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra.” Ap 1.4,5. O título usado para referir-se a Deus Pai (Aquele que é, que era e que há de vir) remete-nos ao nome que Ele usou para se revelar a Moisés: “Disse Deus a Moisés: ‘EU SOU O QUE SOU. É isto que você dirá aos israelitas: EU SOU me enviou a vocês’.” Êx 3.14. Tanto em um caso como em outro os nomes de Deus Pai nos remetem para a Sua eternidade e imutabilidade.
O Espírito Santo é chamado de os “sete espíritos” que estão diante do trono (vers. 4). Sete, no livro do Apocalipse, significa plenitude, totalidade, portanto, esse nome dado ao Santo Espírito destaca a Sua divindade plena. O profeta Isaias também refere-se ao Espírito de Deus de sete formas diferentes: “Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo. (1) O Espírito do Senhor repousará sobre ele, (2) o Espírito que dá sabedoria e (3) entendimento, (4) o Espírito que traz conselho e (5) poder, o (6) Espírito que dá conhecimento e (7) temor do Senhor.” Is 11.1, 2. Mas adiante no livro do Apocalipse esse título será usado para se referir a Ele novamente.
Por fim, o apóstolo João refere-se a Jesus Cristo como sendo a “testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra” (vers. 5a). Ele é a testemunha fiel porque revelou a glória de Deus (Jo 1.18; 14.8, 9; 17.4). Ele é o primogênito dentre os mortos, não por que seja o primeiro a ressuscitar. Moisés já tinha ressuscitado antes dEle e havia sido recebido na glória (Jd 9; Mt 17.3). Ele é o primogênito dentre os mortos por que a Sua ressurreição é a mais importante dentre todas as que já aconteceram. A Sua ressurreição garantiu a vitória sobre a morte (Hb 2.14, 15; Ap 1.18). Por último, Jesus é chamado de “o soberano dos reis da terra” (vers. 5a). Na parte final do livro da Revelação Ele aparece montado em um cavalo, como um conquistador celestial, trazendo na sua coxa a seguinte inscrição: “Rei dos reis e Senhor dos Senhores”. (Ap 19.16). Esse título é uma declaração à favor da Sua divindade (1Tm 6.15, 16).
Por isso essa saudação inicial do livro do Apocalipse é chamada de doxologia: ela é uma exaltação ao Deus triuno maravilhoso a quem servimos.
João vai fazer referência a Trindade novamente no capítulo 4 e 5, na visão do trono de Deus no céu. Ele é levado, pelo Espírito, ao céu e lá ele vê “Aquele que estava assentado [no trono] era de aspecto semelhante a jaspe e sardônio.” (cap. 4.3). Essa descrição de Deus o Pai é semelhante aquela feita pelo profeta Daniel: “Enquanto eu olhava, tronos foram colocados, e um ancião se assentou. Sua veste era branca como a neve; o cabelo era branco como a lã. Seu trono era envolto em fogo, e as rodas do trono estava em chamas.” (cap. 7.9). A cor das chamas que envolviam o trono, conforme Daniel, é semelhante as tonalidades da jaspe e sardônio, vista por João.
Em seguida, ao descrever a sala do trono celestial, João vê “sete lâmpadas de fogo que são os sete espíritos de Deus”, cap. 4.5. No capítulo seguinte, João descreve o cordeiro (uma referência a Jesus) como tendo “sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra” (vers. 6). Essa passagem destaca a íntima relação que há entre a missão do Filho e a do Espírito Santo. Os sete chifres do cordeiro é uma referência a Sua onipotência, pois chifre é símbolo de poder (Dt 33.17; Zc 1.18-21). O vidente de Patmos diz que o cordeiro tem sete olhos, que destaca a Sua onisciência. Por fim, João diz que os sete chifres e os sete olhos “são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra” (vers. 6). Essa passagem nos remete a promessa que Jesus fez aos discípulos quanto a vinda do Conselheiro: “E eu [Jesus] pedirei o Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre” (Jo 14.16). “Quando vier o Conselheiro, que eu enviarei a vocês da parte do Pai, o Espírito da verdade que provém do Pai, Ele testemunhará a meu respeito.” (vers. 26). O Espírito Santo foi enviado ao mundo pelo Pai e pelo Filho (veja também o cap. 16.7).
Fechando a descrição da Divindade, no capítulo seguinte dessa visão, João vê “um Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono” (vers. 6). No versículo anterior ele é chamado de “Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi” (por ser sucessor de Davi Ele tem direito a reinar), ver. 5.
Por fim, na visão final do seu livro, o apóstolo vê a Nova Jerusalém, a Cidade Santa que descia dos céus (Ap 21.2). Então ele faz referência a “Aquele que estava assentado no trono” (vers. 5), que nos vers. 6 e 7 é identificado como Deus. O Cordeiro aparece na cidade, assentado sobre o trono, em co-regência com o Pai (Ap 21.22, 23; 22.1). Por fim, do trono fluía “o rio da água da vida”, que será “claro como cristal” (cap. 22.1). O próprio João explica, em seu evangelho, que esse rio é uma representação do Espírito Santo: “No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-se e disse em alta voz: ‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva’. Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nEle cressem. Até então o espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado.” (Jo 7.37-39). Portanto, no fechamento do Seu livro, João tem um deslumbre da Trindade na eternidade.
No capítulo 22, do Apocalipse, tal como na saudação inicial do livro, a Trindade se revela novamente. No vers. 12 e 13, o Pai fala: “Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.” No vers. 16 é a vez do Filho eterno se apresentar: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para dar a vocês este testemunho concernente às igrejas. Eu sou a Raiz e o Descendente de Davi, e a resplandecente Estrela da Manhã.” E, por fim, quem se manifesta o Espírito Santo: “O Espírito e a noiva dizem: ‘Vem!’ E todo aquele que ouvir diga: ‘Vem!’ Quem tiver sede, venha; e quem quiser , beba de graça da água da vida’.” (vers. 17). Nessa seção, o Pai é descrito como o absoluto, o Filho como soberano e governante do Universo e o Espírito Santo como apelando aos pecadores. É uma descrição do envolvimento da Divindade no plano da salvação.
No livro do Apocalipse o Espírito Santo tem um papel de destaque. Em várias ocasiões o escritor diz ter sido levado pelo Espírito (1.10; 4.2; 17.3; 21.10), da mesma forma como os profetas do AT (Ez 2.2; 8.3, etc). O Espírito inspirou a João como também a todos os escritores da Bíblia (2Pd 1.10, 21). Além disso, o Espírito adverte as sete igrejas da Ásia (Ap 2.7, 11, 17, 29; 3.6, 13, 22), e em conjunto com a noiva, convida os pecadores à salvação (cap. 22.11). Ele também consola (cap. 14.13). Essas ações destacam a Sua missão em favor da humanidade, como descrita por Jesus em Jo 14-16, e por fim destacam a realidade da Sua personalidade.
Conclusão
Muitas outras passagens poderiam ser citadas para aprofundar o nosso estudo sobre a Triunidade de Deus. Mas nossa preocupação ao longo desse estudo não foi gostar o assunto, mas demonstrar que ele está fundamentado nas Escrituras. Para entender essa verdade é preciso estudar os textos bíblicos em seus contextos e comparar passagens com passagem. Como essa doutrina está difundida ao longo da Bíblia é preciso ter uma visão global do que ela ensina.
O estudante deve ter a preocupação de não cair na armadilha da especulação filosófica. Quando vamos além do que está escrito podemos cair em algum engano. Talvez a falta de cuidado nesse ponto seja fruto do orgulho espiritual que leva a pessoa a não conseguir separar entre o que a Bíblia ensina de fato e o que gostaríamos que ela ensinasse.
Nesse ponto da nossa reflexão cabe a advertência da pena inspirada:
“A revelação que Deus de Si mesmo deu em Sua Palavra é para nosso estudo. Esta podemos procurar compreender. Mas além disto não devemos penetrar. O mais elevado intelecto pode esforçar-se até à exaustão em conjeturas concernentes à natureza de Deus, mas infrutíferos serão os esforços. Esse problema não nos foi dado a solver. Nenhuma mente humana pode compreender a Deus. Ninguém se deve entregar a especulações com referência a Sua natureza. A esse respeito, o silêncio é eloqüente. O Onisciente está acima de discussão. [...] Somos tão ignorantes acerca de Deus como criancinhas; mas, como criancinhas, é-nos dado amá-Lo e obedecer-Lhe.” CBV 429, 430.