

“Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no Qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca..” (1 Pedro 3:18-20).
Muitos cristãos, por má compreensão, pensam que Jesus, durante os “três dias” que permaneceu no seio da terra, foi pregar aos que supõem estar sofrendo os “tormentos do inferno”. Em apoio deste ponto de vista, ainda citam a seguinte passagem: “Porque por isto foi pregado o evangelho também aos mortos, para que, na verdade fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito”. 1 Pedro 4:6.
Vamos, por um momento, admitir esta ideia, a ver se a mesma suporta um exame bíblico. Já mostramos, em capítulos anteriores, que os mortos não estão nem no Céu nem no inferno, mas jazem inconscientes no pó da terra. Mas vamos admitir por um instante a teoria imortalista da teologia popular. Se Jesus foi pregar o Evangelho aos que “estão ardendo no inferno”, então resulta que deve para eles ainda haver alguma esperança. Foi-lhes pregar para que fins? Para que “vivessem segundo Deus em espírito”. Leiamos bem o referido verso e meditemos bem sobre seu significado. Então os que “estão nas chamas infernais”, às quais “foram condenados para toda a eternidade”, ainda poderão salvar-se — é a conclusão a que se chegaria obrigatoriamente. Mas a Bíblia mostra que após a morte ninguém pode mudar sua condição nem sua sorte. Quem morreu injusto permanece injusto. Um pecador, morrendo sem arrependimento e sem conversão, não poderá, depois da morte, cumprir as condições da salvação e alcançar a vida eterna. Só enquanto vive pode fazer isto. Eclesiastes 9:5, 6, 10; Hebreus 9:27. Os próprios imortalistas reconhecem esta verdade, citando em seu apoio Lucas 16:25, 26. E não há dúvida a respeito. Mas os versos em questão —1 Pedro 3:18-20; 4:6 — mostram positivamente que o Evangelho foi pregado aos mortos, porque ainda havia para eles a esperança de viverem. Evidentemente, pois, não se trata aqui de mortos em sentido literal. Todo crente, antes de sua conversão, era morto. O Evangelho lhes foi pregado e ressuscitaram. “Estando nós ainda mortos” “em ofensas e pecados”, Deus, pelo Evangelho, nos vivificou. (Efésios 2:1, 5). Ver também 1 Timóteo 5:6; Apocalipse 3:1.
Aos espíritos que estavam em prisão Cristo não pregou em pessoa, mas sim por meio do Espírito. O “Espírito de Cristo” (1 Pedro 1:11), que estava em Noé, pregou aos antediluvianos em prisão. Mas que prisão era essa? Evidentemente, a prisão do pecado. Naqueles dias, “enquanto se preparava a arca”, Cristo também Se empenhou em “proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos” (Isaías 61:1; Lucas 4:19), mas os presos do cativeiro do pecado eram rebeldes e não aceitaram as advertências.
Não se trata aqui de espíritos desencarnados de malfeitores a sofrer as penas de um inferno conforme o pinta a teologia popular. Os “espíritos” de que Pedro fala são os próprios antediluvianos, pois a Bíblia algumas vezes usa “espíritos” com o sinônimo de “pessoas”. Esses espíritos “noutro tempo foram rebeldes”. Isto indica que sua rebelião já cessou. Cessou porque foram destruídos pelo dilúvio.