O SÁBADO - E A IGREJA NO DESERTO
A longa noite de trevas que pairou sobre o mundo cristão sob a influência cativante dos dogmas, festas e tradições da igreja romana, foi tão forte e extensa,- que mesmo na gloriosa luz da Reforma do Século XVI, que restaurou um grande número de verdades do evangelho primitivo - que a santidade do sábado como dia de repouso indicado no mandamento da lei de Deus, como o verdadeiro dia do Senhor, não foi percebido nem compreendido pelas igrejas reformadas.
À medida que a mudança da observância do dia do sábado para o domingo era imposta aos cristão em todo o mundo, a partir da época de Constantino,e por algum tempo genuínos cristãos tementes a Deus "fossem gradualmente levados a considerar o domingo como possuindo certo grau de santidade, ainda mantinham o verdadeiro sábado como o dia santo do Senhor, e observavam-no em obediência ao quarto mandamento. "- O Grande Conflito, pág. 50. Nas muitas congregações e grupos dos novatianos espalhados em todas as províncias romanas durante os séculos IV e V, - a verdade do sábado foi preservada.
Por todo o período da Idade Escura, "muitos cristãos acreditavam na perpetuidade da lei de Deus e observavam o sábado do quarto mandamento. Igrejas que se mantinham nesta fé e prática, existiram na África Central e entre os armênios, na Ásia. " Idem, p. 60.
Do Centro Missionário de Iona, a luz do verdadeiro dia de repouso foi preservada por Columba e seus colaboradores. "Entre estes evangelistas encontrava-se um observador do sábado bíblico, e assim esta verdade foi introduzida entre o povo. Estabeleceu-se uma escola em Iona, da qual saíram missionários, não somente para a Escócia e Inglaterra, mas para a Alemanha, Suíça e mesmo para a Itália. " - Idem, p. 59. Estes missionários enviados a tantos lugares distantes, ajudaram a preservar o respeito e a observância do sábado durante quase trezentos anos - nos Séculos VII, VIII, IX.
Quando Roma começou a pressionar mais fortemente o região do Piemonte para que se submetessem aos ritos da Sé Romana, levando muitos vizinhos dos valdenses a aceitar a cobertura de Roma, então os valdenses se refugiaram no interior das montanhas, e preservaram a fé primitiva, diz o historiador J. A. Wylie. Quando Roma insistiu em submeter as igrejas do Piemonte, e alguns de seus dirigentes cederam,houve uma separação. Os valdenses estavam "decididos a manter sua fidelidade a Deus, e preservar a pureza da fé. Houve separação. Os que se apegaram à antiga fé, retiraram-se; alguns, abandonando os Alpes nativos, alçaram a bandeira da verdade em terras estrangeiras; outros se retraíram para os vales afastados e fortalezas das montanhas, e ali preservaram a liberdade de culto a Deus. " - O Grande Conflito, 61- Esses valdenses que foram a terras estrangeiras, e aqueles que se retraíram para os vales mais afastados, continuaram a preservar a memória do sábado.
"Entre as principais causas que levaram a verdadeira igreja a separar-se de Roma, estava o ódio desta ao sábado bíblico. . . As igrejas que estavam sob o governo do papado, logo foram compelidas a honrar o domingo como dia santo. No meio do erro e superstição que prevaleciam, muitos, mesmo dentre o verdadeiro povo de Deus, ficaram tão desorientados que ao mesmo tempo em que observavam o sábado, abstinham-se do trabalho também no domingo. . . Durante séculos de trevas e apostasia, houve alguns dentre os valdenses que negavam a supremacia de Roma, rejeitavam o culto às imagens e guardavam o verdadeiro sábado. " Idem, págs, 61,62
"Nos anos 1500, declara Erasmo, estes boêmios não apenas guardavam o sábado, mas eram chamados sabatistas. "- Cox, the Literature of the Sabath Question, págs. 201,202.
Portanto a verdadeira observância do sábado não se perdeu totalmente entre os valdenses. A Reforma do Século XVI, gloriosa em muitos aspectos, não compreendeu a luz que resplandece do sábado, e a restauração do sábado, predita em Isaías 58:12,13, é parte do evangelho eterno que deve ser pregado em nossos dias. É uma característica do povo de Deus hoje (Apc. 14:12); é o sinal de identificação que aceitamos os privilégios e condições do concerto ( Ez. 20:12,20); deve ser guardado e santificado em harmonia com os requisitos mencionados em Isaías 58:12,13.
OS VALDENSES - ZELO PELA LEI DE DEUS
A tática de Roma de obliterar e destruir todo vestígio de dissidência de suas doutrinas e decretos - tudo que fosse herético, quer pessoas quer escritos, é testificada por muitos historiadores, como Morland, S. V. Bompiani, E. G. White, e muitos outros.
Muitos escritos e tratados anteriores ao ano 1100, perderam-se nas muitas perseguições sofridas pelos valdenses através dos séculos. Alguns tratados da época de 1100, 1120 foram recuperados nas visitas feitas pelo enviado oficial do governo inglês à região do Piemonte logo após o grande massacre do ano 1655. Visitando a região ele resgatou muitos escritos originais dos valdenses, que ele levou para a Inglaterra, e estão depositados na biblioteca da Universidade de Cambridge.
Entre estes tratados estão sermões, poemas históricos e doutrinários, explicações do Pai Nosso e dos Dez Mandamentos, explicações dos artigos de fé, exortação ao arrependimento e ao temor de Deus, explicação sobre as obras do anti-Cristo, etc. A leitura dos títulos das obras originais preservadas durante o massacre de 1655, e o exame desses escritos revelam que os valdenses enfatizavam a importância da lei, do arrependimento e contrição, da fé e piedade singela,da temperança e da separação dos profanos costumes do mundo, de ser um cristão ligado a Deus em concerto de submissão e obediência ao Pai, Filho e Espírito Santo, etc.
TÍTULOS DE ESCRITOS ORIGINAIS DOS VALDENSES RESGATADOS POR MORLAND, EM 1655-1658, E DEPOSITADOS NA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE
1. O Temor do Senhor
2. O anti-Cristo e suas obras
3. Explicação da Oração do Pai Nosso
4. Explicações de diversas passagens dos Evangelistas e Apóstolos
5. Frases dos Antigos relacionadas ao arrependimento
6. Tratado concernente a punição do pecado
7. Tratado concernente as alegrias do Paraíso
8. Uma carta a todos os fiéis
9. Poema intitulado Consolação
10. Sermões com claras instruções para os fiéis
11. Poema a Nobre Lição
12. Explicação dos Dez Mandamentos
13. Tratado sobre vícios e pecados mortais
14. Tratado concernente aos dons do Espírito Santo
15. Tratado concernente às 4 virtudes fundamentais
16. Tratado concernente à riqueza e a graça
17. Vários sermões de textos das Escrituras
18. Várias exortações para confessar pecados uns aos outros e a Deus
19. Um sermão sobre o Temor de Deus
20. Um tratado sobre Tribulação
21. Tratado sobre sofrimento e perseverança
22. Comentários breves sobre: O Evangelho de Mateus; Lucas Cap. 1; O Evangelho de João; Atos dos Apóstolos; Primeira Epístola aos Coríntios; Epístola aos Gálatas; aos Efésios; aos Filipenses; Primeira Epístola aos Tessalonicenses; Segunda Epístola a Timóteo; Hebreus Cap. 11; Primeira e Segunda Epístola de Pedro.
ADAM BLAIR, COMENTA O TRATADO - EXPLICAÇÃO DOS DEZ MANDAMENTOS
- Entre os documentos que temos dos valdenses, uma Explicação dos Dez Mandamentos, datada por Boyer no ano 1120. Contém um compêndio de moralidade cristã. Supremo amor a Deus é proclamado, e é condenado recorrer à influência dos planetas e feiticeiros. Os males da adoração a Deus por meio de imagens e ídolos, são apontados. Um solene juramento para confirmar qualquer coisa duvidosa é permitido, mas o juramento profano é condenado. A observância do sábado, terminando todo trabalho secular. Aplicação na vida cristã na prática de boas obras; a edificação do caráter através da oração e o ouvir a Palavra de Deus, são enfatizados. - Blair, History of the Valdenses, vol. 1. pág. 220.
E. G. WHITE, COMENTA
-Deus providenciou para Seu povo um santuário de majestosa grandeza, de acordo com as extraordinárias verdades confiadas à sua guarda. Para os fiéis exilados, eram as montanhas um emblema da imutável justiça de Jeová. Apontavam eles a seus filhos as alturas sobranceiras, em sua imutável majestade, e falava-lhes dAquele em quem não há mudança nem sombra de variação; cuja Palavra é tão perdurável como os montes eternos. Deus estabeleceu firmemente as montanhas e as cingira de fortaleza; braço algum, a não ser o Poder infinito poderia movê-las do lugar. De igual maneira estabelecera Ele a Sua lei - fundamento de Seu governo no Céu e na Terra. O braço do homem poderia atingir a seus semelhantes e destruir-lhes a vida; mas esse braço seria impotente para desarraigar as montanhas de seu fundamento e precipitá-las no mar, como para mudar um preceito da lei de Jeová ou anular qualquer de Suas promessas aos que Lhe fazem a vontade. Na fidelidade para com a Sua lei, os servos de Deus deviam ser tão firmes como os outeiros imutáveis.
As montanhas que cingiam os fundos vales eram testemunhas constantes do poder criador de Deus e afirmação sempre infalível de Seu cuidado protetor. Esses peregrinos aprenderam a amar os símbolos silenciosos da presença de Jeová. Não condescendiam com murmurações por causa das agruras da sorte; nunca se sentiam abandonados na solidão das montanhas. Agradeciam a Deus por haver-lhes provido refúgio da ira e crueldade dos homens. Regozijavam-se diante dEle na liberdade de prestar culto. Muitas vezes, quando perseguidos pelos inimigos, as fortalezas das montanhas se provara ser defesa segura. De rochedos elevados entoavam eles louvores a Deus e os exércitos de Roma não podiam fazer silenciar seus cânticos de ações de graças. - O Grande Conflito, págs 62,63.