

Outra passagem da qual muitos procuram tirar conclusão errônea, para sustentar a falsa crença na sobrevivência de uma alma abstrata, consciente e imortal, é esta: “E transfigurou-Se (Jesus) diante deles; e o Seu rosto resplandeceu como o Sol, e os Seus vestidos se tornaram brancos como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com Ele” (Mateus 17:2-3).
Moisés tinha morrido já havia muitos séculos e, pergunta-se, como poderia ele ter aparecido, nessa ocasião, na presença de Jesus, no monte da transfiguração? Pretende-se, pois, tirar desse fato argumentos em favor da doutrina da imortalidade da alma. Crê-se que foi a “alma” de Moisés que apareceu ali. Mas a dita passagem não nos oferece nenhuma base para esse ponto de vista. Deixemos a Bíblia explicar-se por si mesma, a fim de lançar luz sobre este ponto.
Elias, todos sabem, “subiu ao Céu num redemoinho” (2 Reis 2:11), sem ver a morte. Por isso, não é de estranhar que ele ali aparecesse. Mas, insiste-se, Moisés morreu e foi sepultado (Deuteronômio 34:5-6). Como, pois, se há de explicar o aparecimento dele no monte, caso se negue a existência de uma alma abstrata, consciente e imortal a desligar-se do corpo depois da morte deste? Aos saduceus, que negavam a ressurreição, isto seria inexplicável: mas àqueles que creem na ressurreição, o aparecimento de Moisés não constitui mistério.
Moisés foi sepultado, mas não foi deixado na sepultura. O arcanjo Miguel, que é Cristo, disputou com o diabo “a respeito do corpo de Moisés” (Judas, verso 9), e, entende-se necessariamente, o libertou de seu poder, ressuscitando-o e trasladando-o para o Céu. “ [...] a morte reinou desde Adão até Moisés” (Romanos 5:14). Moisés foi o primeiro a quebrar a cadeia da morte que até aí se estendera em linha ininterrupta. Moisés, pois, pôde aparecer a Jesus e aos que com Ele se achavam no monte, visto ter sido ressuscitado. Convém notar, todavia, que a ressurreição e trasladação de Moisés, e o arrebatamento de Elias, sem ver a morte, são casos excepcionais.
Para negar a ressurreição de Moisés, os imortalistas citam as passagens que rezam: “Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem” (I Coríntios 15:20). “ [...] Jesus Cristo [...] é [...] . o primogênito dos mortos..” (Apocalipse 1:5). Mas estes textos não provam que não tenha havido ressurreição antes de Cristo. Jesus é “as primícias” em relação à grande colheita na ressurreição geral. A colheita geral, como no tipo, deve ter suas primícias. Essas primícias, entretanto, não necessitam ser o primeiro que jamais tenha ressuscitado, mas sim o primeiro a ressuscitar por conta da ressurreição geral, como penhor da mesma.
Outrossim, “primogênito” e “primícias” nem sempre denotam antecedência de tempo. Podem também significar preeminência. Ver exemplos em Êxodo 4:22: Jeremias 31:9; Hebreus 12:23; Tiago 1:18; Apocalipse 14:14. Poderíamos, pois, entender que as palavras “primogênito” e “primícias” designam antes posição de destaque que prioridade.
Mas, como quer que se interpretem as referidas expressões, não há dúvida de que houve ressurreições antes de Cristo ter ressurgido dentre os mortos, pois a Bíblia o confirma. Disse Paulo que as “mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos” (Hebreus 11:35). E, de fato, as Escrituras relatam vários casos de ressurreição: 1 Reis 17:22: 2 Reis 4:35; 13:21; Lucas 7:14; 8:55; João 11:43, 44.
Admite-se geralmente que a transfiguração foi uma demonstração em miniatura da segunda vinda de Cristo. Disse Jesus aos Seus discípulos: “Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino” (Mateus 16:28). Isto se cumpriu quando da transfiguração. Jesus então apareceu a três de Seus discípulos na majestade em que há de vir dos céus na consumação dos séculos. A aparência de Jesus transfigurado é descrita em termos semelhantes à descrição que Lhe é feita pelo apóstolo João, que O vira em visão na ilha de Patmos. (Mateus 17:2 e Apocalipse 1:13-16). Moisés e Elias representam as duas classes de salvos que hão de reunir-se com Jesus na Sua vinda. O primeiro simboliza os justos ressuscitados e o segundo os justos vivos transformados nessa ocasião. (1 Coríntios 15:51, 54; 1 Tessalonicenses 4:16, 17). Vemos, assim, quão misericordioso é Deus: dá-nos a promessa da ressurreição.