Os que falam com Deus
- Quando: 19/09
- Em: Vida Cristã
O cristianismo tem se tornado uma experiência unicamente sensorial: Preciso ver pra crer; Preciso tocar pra ter certeza; Preciso sentir pra acreditar.
O mundo esta mudando muito rápido e creio que você já tenha notado isso. A cada dia que passa parece que o tempo hábil vai diminuindo. Há quem diga que o dia de 24 horas já não é mais suficiente pra respondermos a todos os e-mails, whatsapss, twiter, instagran e etc. Segundo um artigo publicado pela revista veja, seriam necessários mais de 1700 anos para se assistir a todos os vídeos do youtube – ISSO EM 2011. De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade do Sul da Califórnia, os meios de comunicação despejam todos os dias sobre cada habitante do planeta, uma quantidade de informação equivalente a 174 jornais. Somos uma geração sobrecarregada de informações. Infelizmente, esse grande número de dados não tem tornado nosso planeta um lugar melhor pra se viver. Alguns acadêmicos já se arriscam a descrever mudanças no relacionamento humano causados pela difusão tecnológica. Há quem defina a sociedade atual como LÍQUIDA – Sem forma definida, volátil e extremamente adaptável.
Uma geração que precisa de remédios pra dormir, que precisa de academias pra se manter no peso ideal (nada contra), que precisa de remédios manipulados para não entrar em depressão, que precisa desabafar nas redes sociais para se sentir aliviado. São pessoas que perderam a esperança no coletivo e sentem-se mais seguros atrás da tela de um notebook ou de um smartfome. O mundo tem hoje uma geração cética que duvida da fé e zomba da religiosidade. Uma geração que precisa de sinais e acontecimentos extraordinários para acreditar. Talvez a geração exata da indagação de Jesus descrita no evangelho de Lucas: E quando o Filho do Homem vier, encontrará fé na terra?
Será que Jesus encontrará fé na minha cidade? No meu trabalho? Na minha casa? Mas a pergunta que não quer calar é: será que Jesus encontraria fé na minha igreja? Depende da concepção de fé que se tem. Não é difícil encontrar num raio de 2 km, pelo menos uma comunidade religiosa anunciando uma grande explosão de milagres com hora marcada – Eles repetem venham ver, venham tocar, venham sentir. O cristianismo tem se tornado uma experiência unicamente sensorial: Preciso ver pra crer; Preciso tocar pra ter certeza; Preciso sentir pra acreditar.
Como seria nossa relação com Deus se não sentíssemos? Se não víssemos? Se não tocássemos? Infelizmente somos afetados pelo ceticismo de nossa geração. Se eu pudesse ter uma audiência com os heróis da fé de Hebreus 11, já tinha uma pergunta certa para todos eles: Como vocês conseguiram acreditar mesmo sem ver?
E ao abrir a bíblia encontro os heróis da fé respondendo a minha pergunta de maneira natural: Nós não vimos o mar abrir... Nem o coxo andar... Também não nos lembramos de ter visto um gigante Cair... Porém escolhemos acreditar. E como qualquer estudante de minha geração, eu continuaria perguntando:
Porque escolheram acreditar mesmo sem ver? E com certeza ouviria de...
1) 1) Davi – Aprendi que Deus não precisa de elementos humanos para atuar.
Davi cresceu numa família grande nos arredores de Belém. E apesar de ter irmãos no serviço militar, Davi preferiu dedicar-se ao pastoreio do rebanho da família. Todavia mesmo enquanto desempenhava suas funções de pastor de ovelhas, aproveitava o tempo ocioso para compor, melhorar sua oratória e desenvolver seus métodos de defesa pessoal. Apesar de ser corajoso e destemido, Davi passou despercebido naquela importante visita do profeta Samuel. E mesmo sem ter feito campanha política, foi ungido o próximo rei de Israel.
A outra fase da vida de Davi foi como auxiliar do rei Saul. Sua primeira função no palácio foi tocar seu instrumento e cantar para o rei quando este se sentia atormentado. Função esta que Davi desempenhou tão bem a ponto de Saul nomeá-lo seu escudeiro. Nos próximos meses Davi alternou suas funções como música e escudeiro do rei e o pastoreio do rebanho de seu pai. Em certa ocasião seu pai solicitou que fosse ate o acampamento para colher notícias de seus irmãos. Enquanto esteve lá presenciou um soldado inimigo chamado Golias envergonhando seus irmãos, seu país e sua fé. Seu coração não podia ouvir tudo aquilo e ainda permanecer na zona de conforto. Sem demora prontificou-se a lutar com aquele soldado. Quando Davi pegou sua funda, guardou 5 pedras no bolso e fez uma oração, posso imaginar o tanto que os filisteus riram da cara de Davi. Posso imaginar que ate mesmo o exército israelita ficou com vergonha de ter um adolescente indo pra uma luta daquelas com 5 pedras e um estilingue. Porém mesmo sem ser o soldado mais forte, nem ter as melhores armas, Davi viu o gigante cair na sua frente e ouviu seu nome sendo aclamado na cidade.
Em outra ocasião enquanto estava numa caverna, teve a oportunidade de acabar com a vida de Saul e reivindicar o trono que já deveria ser seu há alguns anos atrás. Porém mesmo tendo vantagens sobre Saul e sabendo que ele seria o próximo rei de Israel, Davi não ousou adiantar o processo.
Irmãos estão percebendo algo em comum nesses três episódios da vida de Davi? Ele deixa bem claro que entende que Deus não precisa de campanha política para fazer um rei. Ele também faz questão de mostrar pra todo mundo que Deus não precisa de um soldado incomum ou de armas potentes para vencer uma batalha. E ainda ensina-nos que Deus não precisa de mãos humanas para cumprir seus propósitos em nossas vidas.
Esperar o tempo de Deus não é peculiaridade de uma sociedade imediatista como a nossa. Vivemos o agora, o hoje, o pra ontem. E é nesse imediatismo que os maiores arrependimentos de vida são forjados. São escolhas, relacionamentos, momentos, conversas e muitas outras oportunidades que foram “aproveitados” fora do contexto dos planos de Deus. E hoje infelizmente, muitos estão amargando as consequências de terem agarrado uma oportunidade sem ter consultado se realmente aquela seria sua melhor oportunidade de vida. Porém as coisas não precisam continuar assim.
Davi não viu o mar se abrir... Não viu o sol parar... Também não viu Jericó cair... Apesar disso escolheu acreditar no Deus que não precisa de elementos humanos para atuar de maneira maravilhosa.
Mas como qualquer outro estudante de minha geração, eu continuaria perguntando aos heróis da fé: Porque vocês escolheram acreditar mesmo sem ver? E ouviria do...
2) 2) Centurião – Compreendi que Jesus é maior que a morte.
Pra mim essa é uma das histórias mais fantásticas do novo testamento. Uma história com situações paradoxais, mas ao mesmo tempo recheada de quebra de paradigmas. Um relato que enaltece o amor incondicional de Deus pelo ser humano. Uma descrição exata de que a graça de Deus é maior que barreiras culturais, geográficas e religiosas.
Cafarnaum foi uma cidade importante para as rotas romanas do primeiro século. Apesar de ser uma cidade simples, o fluxo de pessoas naquela região era grande, não apenas por estar numa região fronteiriça, mas também porque muito próximo dali passava a Via Maris (Estrada do Mar) que ligava o Egito à Síria. Além de possuir um posto da alfândega tinha também a presença constante de um destacamento de 100 soldados. E foi nessa cidade Jesus estabeleceu seu quartel general por muito tempo.
Certo dia enquanto voltava de uma ação missionária, Jesus foi abordado pela autoridade militar daquela cidade que em poucas palavras falou: “Um de meus servos esta em casa enfermo e sofrendo muito.” Mesmo sem o centurião ter pedido nada, Jesus respondeu: “Eu irei curá-lo.” Porém aquele soldado expressou certa preocupação em receber Jesus em sua casa. Talvez porque sabia das encrencas religiosas que um judeu poderia enfrentar ao entrar na casa de um gentio. E suas próximas palavras são de chocar qualquer cristão: “Senhor dize-o uma palavra e meu servo será curado”. Fico me perguntando: O que levou um soldado romano acreditar que com uma palavra seu sevo teria a saúde reestabelecida? E pra completar, a bíblia dá a entender que eles nunca tinham se encontrado antes. O centurião apenas tinha ouvido falar de Jesus.
Por ter herdado quase todos os traços da cultura grega, Roma incorporou aos seus costumes religiosos quase tudo que um grego acreditava. Além de receber educação filosófica, um romano também era ensinado a atribuir todos os acontecimentos da natureza a alguma divindade do panteão romano. O amor era atribuído ao deus Cupido, o universo era responsabilidade do deus Júpiter, Marte era o deus das armas e Leto era o deus da morte e da velhice. E sempre que um romano desejasse receber uma graça de uma dessas divindades precisaria dar algo em troca. Além disso os romanos acreditavam em vida após a morte, tanto é que acreditavam que um enterro digno era essencial para um “boa passagem” para a vida depois da morte. Possivelmente aquele centurião já havia recorrido às divindades romanas, porém não tinha obtido resposta.
É nesse momento que aquele centurião escolhe acreditar num Deus que ele nunca tinha visto uma imagem. Um Deus a quem ele nunca tinha feito um ritual. Possivelmente nunca tinha visto uma manifestação de seu poder ao vivo. Ele apenas tinha ouvido falar de um Deus poderoso que era maior que a morte. E numa demonstração de fé radical decide acreditar que apenas uma palavra daquele Deus já seria suficiente. Fico pensando: Quantos sinais seriam necessários para nos convencer do poder de Deus? Hoje temos os relatos da bíblia, as profecias, o testemunho e ainda assim estamos mais céticos do que nunca.
O centurião não viu o gigante cair... Não viu a arca de Noé... Também não viu o cego ver... Porém mesmo assim escolheu acreditar que Deus era maior que a morte.
Porém como qualquer outro de minha geração, eu continuaria perguntando:
Porque escolheram acreditar mesmo sem ver? E ouviria dos...
3) 3) Três jovens hebreus – Descobrimos que a fé não esta ligada ao pragmatismo.
O pragmatismo é uma filosofia norte-americana que difunde a idéia de que uma coisa só pode ser considerada boa se der certo. Aparentemente é uma idéia corretíssima ate esbarrar-se com a teologia bíblica. Pois felizmente a existência de Deus e o sucesso de Suas ações, não estão associados ao fato das coisas darem certo. E aqueles jovens já tinham a noção de que a fé em Deus não deveria estar baseada no pragmatismo.
E uma das ocasiões em que fizeram questão de deixar bem claro essa idéia, foi na resposta que deram a Nabucodonosor no episódio do culto à estátua de ouro no campo de Dura. Leiamos Daniel 3.13-18 (A Mensagem): Furioso, o rei Nabucodonosor ordenou que Sadraque, Mesaque e Abede-Nego fossem trazidos. E, quando eles chegaram, Nabucodonosor perguntou: “Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, é verdade que vocês não respeitam meus deuses e se negam a adorar a estátua de ouro que mandei erguer? Vou dar a vocês uma segunda chance, mas, a partir de agora, quando o som começar a tocar, vocês devem se ajoelhar e adorar a estátua. E, se não o fizerem, serão jogados numa fornalha e ponto final. E que deus vai livrá-los de mim?”Sadraque, Mesaque e Abede-Nego responderam: “Sua ameaça não nos assusta. Se nos jogar na fornalha, o Deus a quem servimos pode nos salvar não só da fornalha como de qualquer outra coisa. E, mesmo que ele não o faça, não importa, ó rei. Ainda assim, não vamos servir aos seus deuses nem adorar a estátua de ouro que mandou erguer.” Sinto vontade de comemorar a resposta desses meninos com um Amém bem forte... Ou um glória a Deus do fundo do meu coração.
Poxa vida isso que é coragem! Desafiar Nabucodonosor? O grande Rei. São loucos mesmo! E pelo relato do texto eles dispensaram a segunda oportunidade do rei numa boa como se as ameaças do rei não significassem nada. Aqui eu aprendo que aqueles jovens não precisavam que as coisas dessem certas pra eles acreditarem em Deus. Eles estavam dispostos a acreditar em Deus ainda que Deus não os livrasse da morte. Ainda que tudo desse errado.
Que contraste com o cristianismo pragmático de nossos dias! Hoje vemos uma classe de pessoas que só conseguem orar de forma imperativa: Deus eu não aceito essa situação ou eu não aceito essa enfermidade! O mais chocante ainda é ver um cristianismo moderno que consegue atribuir as dificuldades e as provações à possesões demoníacas! Há quem diga que se o apostolo Paulo vivesse hoje e com a quantidade de sofrimento que passou na vida ministerial, não demoraria muito para alguém lhe convidar para uma sessão do descarrego. Infelizmente ser cristão hoje é apenas sinônimo de ter dinheiro e sucesso. Para muitos o cristianismo é um amuleto para que nada de mal aconteça ou para se estar protegido de todas as intempéries da vida.
Infelizmente esse pragmatismo tem batido na porta do seu e do meu coração todos os dias. São aquelas dúvidas que nos assaltam de vez em sempre: Mas você não é dizimista? Porque esta sem dinheiro! Porque perdeu o emprego! Porque estão doentes!
Os jovens hebreus não viram o gigante cair... Não viram o morto ressuscitar... Mas naquele dia eles escolheram acreditar na grandeza de um Deus que é maior que o fogo de uma fornalha aquecida 7 vezes mais. Naquele dia eles deram ao mundo o testemunho de que acreditavam em Deus ainda que tudo desse errado.
Conclusão
O texto que lemos para início de nossa reflexão hoje, nos diz: BEM AVENTURADO O QUE CRÊ SEM VER. Ou seja, existe uma benção especial em acreditar ainda que falte evidencias humanas. E os heróis da fé vivenciaram essas bênçãos em seus dias de vida.
O centurião viveu as bênçãos de entender que a morte não era o fim.
O rei Davi viveu as bênçãos de sentir que do nada Deus faria maravilhas.
Os jovens hebreus viveram as bênçãos que somente a maturidade da fé pode proporcionar.
Apelo
O contexto que envolve a bem aventurança aos que acreditam sem ver parece um quadro pintado em nossos dias. Tomé, um discípulo extremamente sensorial, afirma categoricamente que não iria acreditar a menos que visse, tocasse ou sentisse as marcas de Jesus. Quantas vezes você também não expressou o mesmo sentimento? Quantas vezes você também tem pedido pra tocar? Pra ver? Pra sentir?
Quantas vezes as dúvidas te assaltaram quando você não viu o mar se abrir.
Quantas vezes o ceticismo bateu na porta da sua vida quando a doença chegou.
Por quantas vezes você chegou a pensar que Deus estava te tratando com indiferença quando você perdeu o emprego.
Quantos de nós por não termos as experiências que desejamos, decidimos colocar Deus em modo espera!
Se você precisa ver pra acreditar, busque a graça de Deus. Se você precisa sentir para ter certeza, busque a graça de Deus. Se você deseja acreditar sem ver, permita-se ser abraçado pela graça de Jesus.
Profº Walter Vinicius