Para que uma igreja cresça é necessário que a liderança local e os membros estejam dispostos a pagar o preço. Se deixada a usa sorte, sem nenhum cuidado, a igreja pode definhar até morrer. Como vimos no artigo anterior, tal como uma planta, é preciso adubar o terreno, através do treinamento oferecido por uma liderança capacitadora. Cada crente deve saber o seu lugar no corpo, através dos dons, e falar da sua fé com entusiasmo. Neste artigo continuaremos a estudar outras características de uma igreja que cresce.
4. DEPARTAMENTOS QUE FUNCIONAM.
A igreja de Antioquia possuía departamentos que funcionavam. Quando lemos a descrição que Lucas faz daquela igreja se destaca que o centro das atividades de Paulo e Barnabé nesta comunidade era o ensino (veja At 11.26). Além de ter um departamento de educação eficiente esta igreja investia no departamento missionário (cap. 11.20, 21) e de assistência social (vers. 29 e 30). Ela era uma igreja que atendia as necessidades da comunidade de dentro e de fora dela. Cada departamento era liderado pela pessoa certa e isso contribuía para a sua prosperidade.
Em muitas de nossas igrejas os oficiais escolhidos para os seus diversos departamentos não recebem treinamento adequado para exercerem a sua função com eficiência. Por isso, muitos diretores de jovens imaginam que realizar uma reunião lítero-musical por mês na igreja, e realizar algum retiro espiritual ao longo do ano está cumprindo o seu papel. O diretor de Escola Sabatina imagina que basta ele dirigir a classe dos professores e dirigir a Escola Sabatina sábado após sábado é suficiente para achar que o seu departamento vai bem obrigado. O diretor missionário da igreja pensa fazer os minutos missionários da Escola Sabatina e organizar campanhas de distribuição de folhetos em datas efemérides (dia de finados, da Independência, Páscoa, etc.) é mais do que se espera para que se considere que esteja fazendo um ótimo trabalho. Acontece que no reino de Deus não basta fazer apenas aquilo que nos pedem para fazer. Devemos andar mais uma milha. Neste ponto você deve se perguntar: Mas, o que mais eu posso fazer?
Além de não termos departamentos da igreja que tenham desenvolvido todo o seu potencial, há ainda a necessidade de se criarem novos departamentos. Algumas de nossas igrejas tem se despertado para esta realidade e tem tomado a iniciativa de formarem novos ministérios. O público que frequenta as nossas igrejas são tão heterogêneos que há necessidade da criação de novos departamentos. Por exemplo, com o avanço das novas tecnologias é necessário que cada igreja tenha um diretor de propaganda e marketing. Ele seria responsável por divulgar os eventos e atividades da igreja entre os de dentro e de fora da comunidade local. Ele pode criar e manter o site da igreja, publicar o boletim informativo semanal, elaborar cartazes para divulgar eventos, escrever a matéria sobre eventos locais para ser publicado na mídia secular e na nossa revista denominacional, como a revista Observador da Verdade.
Outro departamento necessário é o da família. A direção deste departamento pode planejar retiros, encontros, semanas de oração sobre temas que possam ajudar as famílias da igreja local. Assim, pode surgir o departamento da Mulher, da Melhor Idade, dos Adolescentes, etc. Mas não basta criar estes departamentos. É preciso treinar a liderança delas capacitando-as para desempenharem a sua função com êxito.
Uma igreja que cresce tem departamentos que funcionam e desempenham suas funções em toda a sua potencialidade. Quando isso acontece a igreja costuma crescer de forma natural. Conforme a pesquisa de Schwarz 85% dos membros das igrejas que crescem afirmou que a sua comunidade tinha líderes preparados para liderar cada um dos seus departamentos. Esse número cai para 32% em igrejas que estão diminuindo de número. Este fator de crescimento está intimamente ligado ao primeiro ponto que apresentamos neste artigo. Uma igreja tem departamentos efetivos quando possui uma liderança capacitadora.
5. CULTO INSPIRADOR.
Se existe um conceito evangélico que pode ser interpretado de diferentes formas é a questão de definir o que seja um culto inspirador. Isso acontece por que as pessoas acreditam que o culto pode ser definido pela sua forma enquanto o que conta é o conteúdo. O culto é a soma de pessoas que individualmente busca adorar a Deus. Uma pessoa que está ao seu lado pode estar sentido o poder transformador do Evangelho e você pode achar que a reunião está uma chatice. Cada adorador deve buscar a Deus e o culto inspirador será a somatória destes corações contritos. Essa adoração deve acontecer no coração como resultado da ação do Espírito Santo no crente. Se deixarmos Ele atuar, nossa oração terá poder, nosso louvor virá da alma e a Palavra de Deus terá efeito sobre as nossas vidas.
Isso não quer dizer que não haja atitudes e ações que possam afetar a espiritualidade do culto. Quem dirige a reunião deve se preocupar em escolher os hinos e corinhos que vão ser cantados com critério. Cada momento do culto deve ser pensado, para que ele não se torne uma rotina. Não existe nada mais letal para o culto inspirador do que um roteiro litúrgico rígido e inflexível. É possível usar leituras responsivas e leituras de salmos de louvor antes de se cantar ou orar. Deve ser alternar hinos tradicionais com corinhos e apresentações de louvores que podem ser individual ou em grupo. É preciso elaborar uma liturgia que não se restrinja ao senta-levanta-ajoelha, apenas.
No outro extremo, outra coisa que pode “matar” a espiritualidade do culto é a atitude de alguns liturgos de quererem se tornar o centro do culto. Eles se estendem nas boas-vindas, é minucioso ao dar os anúncios e depois da pregação sempre tem um comentário para complementar o sermão que foi apresentado.
O fator mais importante para transformar os cultos em reuniões inspiradoras é a pregação bíblica. Por mais inspirador que seja a primeira parte litúrgica do culto, uma mensagem sem vida ou virtude pode colocar tudo a perder. A igreja cresce quando a pregação é baseada na Palavra de Deus. Alfred Garvie comenta que “os períodos de cadência [da igreja] foram concomitantes com a perda de poder do púlpito; e as épocas de avivamento e reforma, foram precedidas pela renovação da influência dos pregadores.”[1] John Knox também pensa assim: “A pregação nos primeiros séculos e a pregação em todos os períodos mais vitais e fecundos da história da Igreja tem sido bíblica.”[2]
Um culto inspirador é marcado por uma adoração vibrante e uma pregação bíblica. Essas características eram encontradas no culto da igreja cristã primitiva em geral e não apenas na Antioquia. Podemos notar estes dois elementos no comentário que Lucas faz sobre a igreja em Jerusalém: “Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos (pregação) e à comunhão, ao partir do pão e às orações (adoração) [...] Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus (adoração), e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.” (At 2.42, 46, 47, parênteses nosso). O resultado de uma igreja com um culto vibrante será o crescimento natural.
6. GRUPOS FAMILIARES.
Nos primeiros séculos do cristianismo, os seguidores de Cristo realizavam suas reuniões religiosas em casa. Quando Paulo escreveu uma carta a Filemon enviou saudações “à igreja que se reúne com você em sua casa.” (Fm 2). No fim da sua carta aos Romanos o apóstolo dos gentios envia uma saudação especial a dois de seus colaboradores, Priscila e Áquila. Ele saúda também “a igreja que se reúne na casa deles.” (Rm 16.3 e 4). A Igreja de Roma estava localizada na casa deste casal de missionários. Este era o padrão. Assim era em todos os lugares. Os primeiros templos para reuniões públicas só foram construídos depois que o império Romano adotou o cristianismo como religião oficial do Estado. Por esta razão, os cultos da igreja tinham forte caráter familiar.
A Igreja na Antioquia também se reunia em uma casa de família. Como o ambiente era tão familiar, nada mais natural do que os crentes chamarem uns aos outros de irmãos. Em um ambiente assim as pessoas se sentiam a vontade e amparados. Em uma grande cidade, onde parte da população era formada por migrantes que vinham de regiões interioranas, encontrar um ambiente familiar e acolhedor exercia uma forte atração sobre as pessoas. Uma das causas do crescimento daquela antiga igreja eram os pequenos grupos familiares.
Hoje, como no passado, precisamos resgatar este ambiente familiar em nossos cultos. Isso pode ser possível através da formação de pequenos grupos. A igreja local pode organizar seus membros seguindo este método de evangelismo. Este método de trabalho não é nenhuma inovação, mas apenas o retorno a forma como a igreja cristã primitiva organizava as suas comunidades eclesiásticas.
A pesquisa do Instituto de Crescimento de Igreja confirmou que os pequenos grupos são um princípio universal de crescimento da igreja.Quanto maior é a igreja, tanto maior é a importância do princípio dos grupos familiares com vistas ao crescimento dela.Nas grandes igrejas é mais difícil das pessoas se conhecerem e desenvolverem relacionamentos significativos.Os pequenos grupos podem mudar esta situação para melhor.
A adoção dos pequenos grupos como estratégia missionária tem o selo da aprovação divina:
“A formação de pequenos grupos como base de esforço cristão, foi-me apresentada por Aquele que não pode errar. Se há na igreja grande número de membros, convém que se organizem em pequenos grupos a fim de trabalhar, não somente pelos membros da própria igreja, mas também pelos incrédulos.” 3TS 84.
7. EVANGELIZAÇÃO FOCADA.
Um conceito equivocado mantido por muitos crentes é a ideia de que todos os membros da igreja local devem ser evangelistas. Para estes cristãos sinceros uma igreja ideal seria formada apenas por evangelistas. É verdade que todos os cristãos devem pregar o evangelho, mas nem todos temos o chamado de Deus para serem evangelistas. Nem todo tem o dom de evangelizar. Ellen White confirma esta verdade quando escreveu:
“Temos esperança de ver toda a igreja reavivada? Tal tempo nunca há de vir. Há na igreja pessoas não convertidas, e que não se unirão em fervorosa, prevalecente oração. Precisamos entrar na obra individualmente. Precisamos orar mais, e falar menos.” 1ME 122.
Segundo estudos do Dr. Juan Carlos Miranda uma igreja ativa e que está em crescimento tem os seus membros distribuídos da seguinte maneira: cerca de 40% dos membros estão trabalhando dentro da Igreja e cerca de 20% trabalhando pelos de fora. A porcentagem dos chamados membros inativos, que costumamos denominar de “membros de banco”, estão entre 35% a 40% dos frequentadores regulares desta mesma igreja.[3] Sempre haverá uma parte da igreja estará apenas preocupado com a sua própria salvação e que não se porá a disposição para colaborar na Obra de Deus. É claro que igrejas inativas e que estão em decadência tem um grupo de membros inativo muito maior.
Se a maioria dos membros da igreja não vai estar envolvida na evangelização com os de fora como ela pode estar crescendo?Segundo estudos de Peter Wagner apenas 10% dos cristãos tem o dom de evangelista. “Se cada cristão ao qual Deus concedeu o dom do evangelismo alcançar duas pessoas por ano para Jesus (o que é ser realista, pois se trata de cristãos com o dom do evangelismo), então o número de cristãos duplicará em quatro anos somente por meio desse engajamento!”[4]
A tarefa dos demais cristãos é servir aos não cristãos encaminhando-os para a igreja. Lá ele deve ser colocado em contato com o evangelista que vai encaminhá-lo aos pés de Cristo. Ele pode realizar este trabalho de forma da pregação pública ou por meio do contato pessoal. Esta parceria entre o evangelista e os demais membros da igreja que estão envolvidos no trabalho missionário promoverá o crescimento da igreja.
Na igreja de Antioquia o Espírito Santo escolheu a Paulo e Barnabé para serem evangelistas (At 13.2). A igreja reconheceu este chamado, orando, impondo a mão e enviando estes dois missionários para evangelizar o mundo. Graças a esta parceria hoje você e eu e um terço do mundo é formada por cristãos. Se quisermos alcançar o restante do mundo precisamos seguir este padrão bíblico.
8. RELACIONAMENTO FRATERNAL DOS SEUS MEMBROS.
Existe uma íntima relação entre a capacidade de amar de uma igreja e o seu potencial de crescimento.Em muitas igrejas se forma pequenos grupos fechados, que costumamos chamar de “panelinhas”. Estes pequenos subgrupos que se formam na igreja são constituídos por amigos de infância e parentes próximos. Em geral, os participantes dessas “panelinhas” acham o clima da igreja muito aconchegante e amistoso e não percebem que os novos crentes e interessados têm dificuldade de se “enturmar”. É como comenta Schwartz:
“Esses cristãos consideram-se ‘calorosos’ e ‘abertos’ em relação aos novos, mas comunicam de forma não verbal, em geral involuntariamente, a seguinte mensagem: ‘Vocês não pertencem ao nosso grupo’.”[5]
Ser uma comunidade aberta a novos membros era uma das características mais marcantes da igreja de Antioquia. Foi este fato que chamou a atenção da igreja em Jerusalém. Ela foi a primeira igreja cristã a aceitar sem restrições a presença de gentios entre os seus membros. Estes crentes não faziam distinção entre judeus e gregos. Todos eram irmãos em Cristo, salvos pelo Seu sangue.Estudo realizado por uma grande denominação cristã identificou que a principal causa de apostasia entre os membros era a falta de relacionamento fraternal. Em 70% dos casos a principal razão para o abandono da fé estava relacionada com a falta de companheirismo na igreja. Se quisermos ver nossas igrejas crescendo de forma natural e espontânea precisamos estimular o espírito de camaradagem e companheirismo entre os seus frequentadores.
CONCLUSÃO
Para que sua igreja cresça é preciso que cada uma das marcas que apresentamos acima esteja presente. Alguns aspectos podem estar funcionando de forma satisfatória na sua comunidade. Se isso já acontece você precisa investir nas outras áreas em que sua igreja esteja falhando. Isso deve acontecer de forma harmônica para que nenhum ponto seja esquecido ou abandonado.
Fazer uma igreja crescer exige agir fora da nossa zona de conforto, ou seja, romper a acomodação natural que em geral uma igreja vive. Isso dá trabalho, e muitas pessoas podem se opor a estas tentativas de avanço. Contudo, os resultados que se colherão provarão que todo o esforço valeu a pena!