

Um fiel remanescente em meio às ondas de apostasia nos séculos II e III
- Em: História
- Por: Pasquale Lemmo
Na visão o apóstolo João contempla Jesus no meio dos castiçais, símbolo da igreja, segurando em Sua mão direita as sete estrelas, símbolo dos mensageiros fiéis(Apc. 1:12,16,20). Cristo proveu graça e meios para preservar a fé genuína entre os poucos que constituíam o remanescente, em todas as épocas de apostasia generalizada. O surgimento remanescentes fiéis verificou-se nos Séculos II e III, quando ondas de mundanismo, apostasia da fé, e doutrinas e princípios errôneos de interpretação da Bíblia, procuravam adentrar e moldar a fé dos cristãos. Um remanescente se levantou em protesto contra esta deturpação da fé, e para levantar a bandeira da verdade.
A Escola de Antioquia, tornou-se o centro da verdadeira fé, um farol da verdade que formou missionários que continuaram a preservar a fé primitiva dos apóstolos. O Senhor sempre preservou e levantou um fiel remanescente em meio às grandes apostasias. Portanto, a história confirma que um fiel remanescente lutou contra os erros que começavam a penetrar na igreja durante os Séculos II e III. Eles formaram congregações separadas espalhadas em todas as Províncias do Império. Foram chamados por diferentes nomes: montaneses, novatianos, puritanos, etc, e suas igrejas, cultos e fé peculiar foram testemunho da verdade durante os Séculos III, IV, V, e mesmo até a época do imperador Justiniano
MONTANISMO
"Montanismo", diz o historiador Hurst," foi uma reação contra o espírito de mundanismo e a frouxidão da disciplina eclesiástica que aparecia na igreja durante os intervalos das perseguições. Montanismo via chegar erros de caráter sério, e propôs removê-los mediante um ensinamento mais rigoroso e o exemplo de abnegação. Montanismo foi em última análise uma reação em favor do cristianismo primitivo. "
O movimento montanista surgiu na segunda metade do século II, na região da Frígia, espalhou-se por muitas partes do oriente. Apesar de ser condenado por vários concílios, algumas congregações montanistas até a época de Justiniano. Dessa época em diante não são mais vistos pelos historiadores eclesiásticos. No Norte da África , com a adesão de Tertuliano, os montanistas sobreviveram por muito tempo sob o nome de Tertulianistas.
"Sua última aparição acima da superfície" diz o historiador Schaff, "foi no reinado de Justiniano. Ele promulgou dois editos contra os montanistas, um em 530 e o outro em 532 d. C. Após esta data o movimento montanista saiu de cena para reaparecer sob vários nomes e formas e em novas combinações: novatianos,donatistas, montanheses, puritanos etc. "
Os montanistas enfatizavam: A obra e os dons do Espírito Santo como uma urgente necessidade para manter a pureza da igreja e de seus membros; pregavam uma disciplina mais rígida por parte da igreja em relação aos vacilantes e apóstatas; condenavam o segundo matrimônio como sendo contrário ao plano de Deus e não se harmonizar com a pureza da vida cristã no Espírito Santo; defendiam a importância de não negar a fé mesmo diante do matírio; enfatizavam também a importância das profecias.
O testemunho de João Wesley em favor do movimento montanista: “Pelas melhores informações que podemos colher naqueles tempos distantes parece que, Montano não somente foi um bom homem, mas um dos melhores homens que viveu sobre a Terra; e que seu crime foi que ele severamente reprovava aqueles que profundamente se diziam cristãos enquanto que não estavam em Cristo nem andavam como Cristo andou, mas se conformavam, tanto no temperamento como na prática, à presente geração perversa. "
O MOVIMENTO NOVATIANO
O movimento novatiano surgiu na época da grande perseguição do imperador Décio, cerca dos anos 251,252. Robert Robinson, em sua importante obra: Pesquisas Eclesiásticas analisando o movimento Novatiano, afirma:
"Novatiano, um pastor da igreja de Roma, um homem de grande conhecimento, publicou vários livros em defesa da fé. Sua pregação era eloqüente e cativante, e sua moral irrepreensível. Ele viu com grande dor a depravação intolerável da igreja. Os cristãos num espaço de uns poucos anos eram tolerados por um imperador e perseguidos por outro. Nas épocas de prosperidade muitas pessoas aceitavam a igreja por propósitos banais. Em tempos de adversidade estes negavam a fé, e voltavam à idolatria. Quando passava o perigo, estes voltavam novamente à igreja com todos os seus vícios para corromper outros pelo seu exemplo.
"Os bispos amantes do proselitismo, encorajavam tudo isto; e transferiam a atenção dos cristãos da antiga plataforma da virtude para as vãs formalidades de um culto exterior e cheio de pompa, com doutrinas adulteradas ou mescladas com o paganismo.
"Na morte do bispo Fabiano, Cornélio, um pastor e zeloso defensor de aceitar uma multidão de relapsos, foi apontado como candidato. Novatiano se opunha a ele. Mas Cornélio conseguiu ser eleito. E como Novatiano não via nenhuma perspectiva de Reforma, antes pelo contrário, uma onda de imoralidade introduzida na igreja, ele se separou, e com ele uma grande multidão.
"Novatiano formou uma igreja e foi eleito presbítero. Um grande número seguiu seu exemplo, e em todo o império igrejas puritanas foram constituídas e floresceram através dos 200 anos que se seguiram. Posteriormente quando as leis penais os obrigaram a ficar no anonimato, e adorar a Deus em secreto, eles se distinguiram por uma variedade de nomes, e a sucessão deles continuou até a época da Reforma do Século XVI.
"Os inimigos de Novatiano dizem que ele foi o primeiro anti-papa; e no entanto não havia nenhum papa naquela época, no senso moderno da palavra.
"Eles dizem que Novatiano é o autor da heresia do Puritanismo; e no entanto eles sabem que Tertuliano havia se separado da igreja cerca de 50 anos antes pela mesma razão. E Privatus, que era um homem velho no tempo de Novatiano, tinha, com alguns outros repetidamente condenado as alterações que estavam ocorrendo, e que, por não serem ouvidos, se desligaram e formaram congregações separadas.
"Eles estigmatizam Novatiano de ser o pai de uma inumerável multidão de congregações de puritanos por todo o império; e no entanto ele não tinha nenhuma outra influência sobre qualquer uma delas, a não ser seu bom exemplo. As pessoas por toda parte tinham as mesmas reclamações e suspiravam por alívio. E quando um homem tomou sua posição pela virtude, chegou a crise. As pessoas observaram o remédio proposto, e aplicavam os mesmos meios para obter alívio.
"Eles culpam este homem e todas estas igrejas pela severidade de suas disciplinas. No entanto esta diciplina rigorosa, era a única regra das igrejas primitivas, e o exercício desta tornava a coerção civil desnecessária.
"Alguns exclamavam: é uma disciplina bárbara recusar readmissão de pessoas na comunhão cristã, porque vacilaram na idolatria e vício. Mas Novatiano dizia: Podeis ser admitidos entre nós pelo batismo, ou se algum católico foi batizado antes, pelo rebatismo. Mas se você cair na idolatria, nós o separaremos de nossa comunhão, e de forma alguma vos readmitiremos. Que Deus não permita que injuriemos quer vossa pessoa, propriedade ou caráter, ou mesmo julgar a verdade de vosso arrependimento ou vosso estado futuro.
"Os novatianos eram chamados de puritanos, um nome que não foi escolhido por eles mesmos, mas que foi aplicado a eles pelos seus adversários. Disto podemos concluir que o comportamento deles era simples e irrepreensível.
NOVATIANO - ESCRITOR
"Novatiano parece ter possuído muitos talento. Mosheim fala dede como "um homem de incomparável eloqüência e conhecimento. "
"Ele escreveu várias obras, das quais duas foram preservadas. Uma delas fala sobre o assunto da Divindade. É dividido em trinta e uma seções. As primeiras 8 relatam o Pai, trata de Sua natureza, poder, bondade, justiça, etc, e a devida oração a Ele. As seguintes 20 seções falam sobre Cristo. O que os profetas do Antigo Testamento predisseram concernente a Ele, o cumprimento de suas profecias, a natureza de Cristo, e como as Escrituras provam Sua Divindade. Refutação aos argumentos dos sabelianos. Mostra que foi Cristo que apareceu aos patriarcas Abrão, Jacó, Moisés, etc. A seção 29 trata sobre o Espírito Santo. Como foi prometido e dado por Cristo. Seu ofício e operações sobre o coração e na igreja. As últimas duas seções recapitulam os argumentos anteriormente apresentados. A obra parece ter sido escrita no ano 257, seis anos depois de ter-se separado da igreja.
"O outro tratado é sobre o assunto das cerimônias Judaicas, endereçado na forma de carta a suas igrejas e escrito durante seu exílio ou escondido no tempo de perseguição. Fala da natureza típica da lei cerimonial apontando para Cristo, mas adverte os cristãos contra o comer coisas sacrificadas aos ídolos. " Dr. A. Clarke's - A Literatura Sagrada na História.
A vindicação dos novatianos:
"Dr. Lardner em Sua Credebility of the Gospel History, Cap. 47, aborda com grande erudição e clareza o assunto dos novatianos. Dionísio, bispo de Alexandria escreveu muitos tratados contra os novatianos, e isto revela que sua disciplina rigorosa era nutrida por muitos. Fábio, bispo de Antioquia foi um dos amigos que favorecia os novatianos. Mariano, bispo de Arles, era firme nos princípios novatianos na época que Estevão foi bispo de Roma. Uma igreja foi formada em Cártago da qual Máximo foi pastor.
"Sócrates, o historiador, fala de suas igrejas em Constantinopla, Nice, Nicomédia e Cotioeus na Frígia, todas no Século IV - estas ele menciona como seus principais lugares no Oriente, e ele supõe que os novatianos eram igualmente numerosos no Ocidente. Qual era o número deles nessas cidades não somos informados, mas ele calcula que os novatianos tinham 3 igrejas em Constantinopla.
A Expansão dos Novatianos:
"Os novatianos tinham entre eles algumas pessoas notáveis e de talentos nobres. Entre estes destacam-se - Agejius, Acesius, Sirinnius e Marciano, todos em Constantinopla. Sócrates menciona um Marcos, presbítero dos novatianos na Sintya, que morreu no ano 439.
"Em realidade os tratados escritos contra eles por vários autores da igreja católica, tais como: Ambrósio, Paciano e outros; as observações feitas por Basil e Gregório Nazianzen sobre eles; e os relatos de Sócrates e Sozomen em suas Histórias Eclesiásticas - são provas que os novatianos eram numerosos, e que igrejas desta denominação eram encontrados na maior parte do mundo nos Séculos IV e V.
"A grande extensão do movimento novatiano, diz Dr. Lardner, é manifestada dos nomes dos autores que os mencionam e de escritos contra eles, e das muitas partes do império romano onde os novatianos eram encontrados. " Lardner Works, Vol. II, pág. 57.