

“Ora Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para Ele vivem todos” (Lucas 20:38).
Havia entre os judeus uma seita, a dos caduceus, cujos adeptos negavam a ressurreição. Fizeram certa vez a Jesus uma pergunta capciosa sobre a ressurreição a ver se poderiam embaraçá-lO. Mas Ele lhes tapou a boca (Mateus 22:23-30). Em seguida Jesus lhes provou, pelas Escrituras, que ressurreição dos mortos haverá de fato. Disse-lhes: “E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos”. E acrescentou: “porque para Ele vivem todos” (Mateus 22:31, 32; Lucas 20:38).
Coisas futuras são, na Bíblia, frequentemente descritas como se já fossem presentes. Ver exemplos em Isaías 34:1,2; Ezequiel 28:16, 18; João 3:13; 17:11; Judas 14, 15: Apocalipse 13:8; etc. A isto o apóstolo Paulo assim se refere: “Deus [...] vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem” (Romanos 4:17). Na expressão: “para Ele vivem todos”, temos um caso típico desta natureza. Aqueles que morreram fiéis a Deus ainda não estão efetivamente vivos, pois ainda não ressuscitaram. Mas hão de ressuscitar e viver. “Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão”, escreveu Isaías (Cap. 26, verso 19). Quando Jesus disse que Deus é Deus “dos vivos”, “porque para Ele vivem todos”, Ele não disse isto como referência a uma suposta continuação de vida em seguida à morte natural, mas sim com referência à “ressurreição”, dando por aí a entender que a ressurreição é a única porta pela qual os mortos podem voltar à vida.
Estas mesmas considerações servem também para explicar a seguinte passagem: “Mas chegastes ao monte de Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; à universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hebreus 12:22, 23).
Todas estas gloriosas promessas se cumprirão no futuro, na segunda vinda de Cristo. Quando Ele vier, e não antes, é que seremos levados para o monte de Sião (Apocalipse 14:1). Por enquanto, só temos a promessa e esperança de ali chegar. No entanto, como Deus “chama as coisas que não são como se já fossem” (Romanos 4:17), aqueles crentes aos quais Paulo dirigiu a epístola, ainda que estavam vivos na carne, já haviam, biblicamente, chegado ao monte de Sião, à Jerusalém celestial, assim como Cristo, quando ainda se encontrava na Terra, disse que já não estava mais no mundo (João 17:11), e que já estava no Céu (João 3:13).
Até agora nenhum homem foi aperfeiçoado no sentido que Paulo quer dar, salvo algumas exceções expressamente relatadas na Bíblia. Os justos mortos só serão aperfeiçoados na ressurreição, pois “tendo (eles) tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados” (Hebreus 11:39, 40). A “promessa” que os heróis da fé e todos os demais fiéis “não alcançaram”, refere-se à pátria celestial, conforme nos revela Paulo na mesma epístola: “Porque também vos compadecestes dos que estavam nas prisões, e com gozo permitistes a espoliação dos vossos bens, sabendo que em vós mesmos tendes nos céus uma possessão melhor e permanente. Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa” (Hebreus 10:34-36). E referindo-se Paulo aos patriarcas. diz: “Todos estes morreram na fé, sem lerem recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na Terra. Porque, Os que isto dizem, claramente mostram que buscam uma pátria. E se, na verdade, se lembrassem daquela donde haviam saído, teriam oportunidade de tornar. Mas agora desejam uma melhor, isto é. a celestial. Pelo que também Deus Se não envergonha deles, de Se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade” (Hebreus 11:13-16).
Deus “nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas”, de conceder-nos a vida eterna (2 Timóteo 1:1; 1 João 2:25), de tornar-nos “participantes da natureza divina” (2 Pedro 1:4) e de entrarmos na pátria celestial (Hebreus 10:34-36), pois “não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura” (Hebreus 13:14). Estas promessas, porém, não são cumpridas por ocasião da morte. Os fiéis, desde o princípio do mundo, “morreram na fé, sem terem recebido as promessas” (Hebreus 11:13). E por que não as receberam? Responde o apóstolo: “ [...] para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados” (Hebreus 11:39, 40). Na segunda vinda de Cristo é que isto se cumprirá.