

Introdução
Durante a pandemia do covid-19 a OMS (Organização Mundial de Saúde) e o Ministério da Saúde recomendaram várias medidas a serem adotadas para prevenir a doença, entre elas, o distanciamento social. A aglomeração tornou-se algo prejudicial, de risco, que deve ser evitado para afastar o vírus mortal.
Cidades e torres
Quando Deus criou a Terra, “[...] ele não a criou para estar vazia, mas a formou para ser habitada.” Isaías 45:18. Não planejou aglomeração. Veio dEle a ordem: “Enchei a terra.” Gen. 1:28; 9:1. Mas para contrariar os planos do Criador, os homens disseram: “Não sejamos espalhados por toda a terra [...] edifiquemos para nós uma cidade e uma torre”. Gen. 11:4. “Não era desígnio de Deus que o povo se aglomerasse nas cidades, se apinhasse em cortiços.” A Ciência do Bom Viver, p. 363.
Lições da natureza
Jardineiros e agricultores sabem que a aglomeração faz muito mal ao desenvolvimento das plantas e hortaliças. Por isso, após o nascimento das sementes sempre bem juntinhas, aglomeradas, é necessário fazer o transplante para ralear o jardim, pois não se desenvolveriam tão juntinhas como nascem. Árvores frutíferas também precisam ser podadas e replantadas para produzir.
Igrejas ou torres?
Tratando-se de nossas congregações, há uma tendência natural de aglomeração de pessoas em uma igreja ou localidade quando deviam estar espalhadas em diversas regiões em atendimento à ordem de Cristo “Ide por todo mundo”. Marcos 16:15.
Igrejas com muitas pessoas – o que ocorre especialmente em grandes cidades ou capitais - têm maiores chances de se envolverem em dificuldades: “Reunir tantos crentes num lugar, tende a estimular suspeitas e maledicências. Muitos se absorvem em olhar e escutar o mal.” T8, p. 83.
Outro fator agravante em congregações grandes é o fato de não realizarem trabalho proporcional ao número de seus membros. Normalmente ocorre que “meia dúzia” de irmãos carregam as responsabilidades enquanto maioria dos irmãos não passam de espectadores ociosos.
“Muitos dos membros de nossas grandes igrejas praticamente nada realizam. Eles poderiam fazer um bom trabalho se, em vez de se aglomerarem, se dispersassem por lugares ainda não atingidos pela verdade. As árvores plantadas junto demais umas das outras não se desenvolvem. Elas são transplantadas pelo jardineiro a fim de terem espaço para crescer, e não ficarem mirradas e débeis. O mesmo procedimento daria bons resultados em nossas igrejas grandes. Muitos membros estão morrendo espiritualmente por falta dessa atividade. Estão-se tornando fracos e incapazes. Se fossem transplantados, teriam espaço para crescer fortes e vigorosos. Não é desígnio de Deus que Seu povo forme colônias, ou se agrupe em grandes comunidades. Os discípulos de Cristo são representantes Seus na Terra, e Deus tem por desígnio que se espalhem por todo o país, nas cidades e vilas, como luzes em meio às trevas do mundo.” T8, p. 244.
Ainda outro grande prejuízo observado em grandes igrejas é o de muitos irmãos de variados talentos não terem oportunidade de fazerem uso deles por não haver carência de mão-de-obra naquela congregação. Boa parte dos ociosos nas igrejas se estivessem em congregações com maiores necessidades de recursos humanos poriam seus talentos em uso. Isso, além de ajudar no trabalho resultaria em uma grande multiplicação de seus talentos e dons pelo uso. A aglomeração faz atrofiar a igreja e os que ali assistem, pois os talentos da maioria ficam sem uso. Referindo-se a aglomeração, a inspiração alerta: “Da forma como está, uns poucos homens estão carregando pesadas responsabilidades.” T8, p. 149.
Reprovação quanto à aglomeração
A aglomeração em grandes igrejas foi um tema amplamente tratado no Espírito de Profecia como algo que deve ser evitado para que a mensagem alcance lugares ainda não explorados. Está claro nas orientações que Deus não quer que sigamos os planos daqueles que foram os construtores da Torre de Babel: “Quando as árvores, num bosque, estão muito próximas umas às outras, não conseguem crescer de modo saudável e fortes. Transplantem as árvores de seu bosque apinhado. Deus não é glorificado quando tantas vantagens se centralizam num só lugar. Provejam espaço. Coloquem suas plantas em muitos lugares, onde uma não ficará dependente de outra. Dêem-lhes espaço para que cresçam. É isso que o Senhor deseja de vocês.” T8, p. 147.
Nos dias de Ellen White, Battle Creek se tornou um ótimo lugar para adventistas viverem. Havia boa escola da igreja para os filhos estudarem, hospital, casa publicadora, igreja grande e emprego para muita gente. Assim, pessoas de diversas regiões interioranas afluíram para a sede, para formar um grande centro de operações da igreja. A maioria dos textos usados neste artigo foram escritos quando Ellen White estava na Austrália e se dirige a este grande centro de operações adventista que fez aglomeração em detrimento de sua missão de espalhar o evangelho. Tudo isso “foi escrito para aviso nosso”. I Coríntios 10:11.
“Centralizar tantas coisas num único lugar é um erro; favorece o egoísmo. Battle Creek está recebendo mais do que é capaz de compartilhar, em termos de vantagens. Se os importantes interesses ali estabelecidos se dividissem e subdividissem, outras igrejas seriam fortalecidas. Devemos trabalhar sem qualquer egoísmo na grande vinha do Senhor, dividindo o tempo, o dinheiro, os interesses educacionais, e os institutos ministeriais, de tal modo que um número tão grande quanto possível receba os benefícios. A ambição que leva os homens a centralizar tantas instalações em Battle Creek deve ser restringida, de modo que outros lugares possam ser abençoados com os benefícios que alguns planejaram deixar naquela cidade. Ao empreendermos tanto num só lugar, uma forma errada de educação está sendo provida ao povo.” T8, p. 135.
A inspiração traça um paralelo entre a orgulhosa Jerusalém e Battle Creek, a cidade sede das atividades adventistas:
“Corria-se o perigo de que Battle Creek se tornasse como a Jerusalém dos tempos antigos — um centro poderoso. Se não prestarmos atenção a estes conselhos, os males que arruinaram Jerusalém nos sobrevirão. Orgulho, exaltação do eu, negligência dos pobres, e parcialidade para com os ricos — foram esses os pecados de Jerusalém. Hoje, quando grandes interesses são erguidos num mesmo lugar, os obreiros sentem-se tentados a manifestar egoísmo e orgulho. Se cederem a essa tentação, não mais estarão laborando com Deus.” Testemunhos para a Igreja, vol. 8, p. 133.
“As pessoas são estimuladas a se estabelecer em Battle Creek, oferecendo assim sua influência para a construção de uma moderna Jerusalém. Isso não está de acordo com a vontade de Deus. Desse modo, outros lugares são privados das instalações que deveriam abrigar. Ampliem seus espaços; espalhem-se; sim, mas jamais em um único lugar. Vão estabelecer outros centros de influência em lugares onde nada, ou quase nada, tem sido realizado. Rompam essa massa consolidada. Difundam os salvadores raios de luz, levando-os aos cantos escuros da Terra. Precisa ser realizada uma obra semelhante à da águia que alvoroça a sua ninhada.” T8, p. 150.
Outras diversas expressões foram usadas pela inspiração para reprovar este erro como: “Interesses superdimensionados”, “A obra está por demais centralizada.”, “campos novos são deixados intactos.”, “a visão precisa ser ampliada”. T8, p. 59. A afluência de pessoas para a sede da obra nesse tempo foi tão grande ao ponto de que “O coração da obra ficou congestionado.” T8, p. 82.
O castigo
Devido a insistência dos líderes e membros de Battle Creek persistirem no erro da aglomeração, Deus enviou castigos terríveis para chamar a atenção para Sua vontade. O sanatório foi destruído por um incêndio em 25 de fevereiro de 1902, depois, no final do mesmo ano, foi incendiada a casa publicadora, Review and Herald, em 30 de dezembro de 1902. E nós? Vamos precisar que haja um incêndio para mostrar nossos erros de estratégia missionária? Oro para que não seja necessário!
Transplantar é a solução!
No plano divino igrejas devem ser desdobradas e divididas para se multiplicarem. A grande dificuldade que encontramos ao propor o desdobramento de uma igreja grande para o surgimento de outras, é a ideia equivocada de que a igreja sede vai ficar em desvantagem ou prejuízo. Mas esta é uma visão humana, Deus que tudo sabe não vê assim: “Transplantai mudas de vosso denso viveiro. Deus não é glorificado por ter tão imensas vantagens centralizadas em um lugar. Necessitamos de sábios jardineiros que transplantem mudas para várias localidades e lhes proporcionem meios pelos quais possam crescer”. Health, Philanthropic, and Medical Missionary Work, pp. 49, 50.
“Quando as árvores, num bosque, estão muito próximas umas às outras, não conseguem crescer de modo saudável e fortes. Transplantem as árvores de seu bosque apinhado. Deus não é glorificado quando tantas vantagens se centralizam num só lugar. Provejam espaço. Coloquem suas plantas em muitos lugares, onde uma não ficará dependente de outra. Dêem-lhes espaço para que cresçam. É isso que o Senhor deseja de vocês. Os meios gastos na ampliação das vantagens em Battle Creek, que se encontram superdimensionadas e já ultrapassaram os limites razoáveis, deveriam ser empregados no estabelecimento de postos missionários em outros lugares. Vocês precisam ampliar seus planos e alargar o seu campo de operações. Vocês deveriam enviar homens sábios às cidades e vilas que ainda não receberam a mensagem do evangelho. Escolham os melhores homens que puderem, e dêem-lhes a oportunidade de se tornarem guardadores de almas e carregadores de seus fardos. Que eles tenham a oportunidade de desenvolver os talentos que no passado estiveram ociosos.” T8, p. 147.
“Necessitamos de jardineiros sábios, que transplantem árvores para diferentes localidades, dando-lhes assim vantagens que as habilitarão a crescer.” T8, p. 148.
Estes jardineiros que estão sendo convocados, são ministros, pastores, anciãos, dirigentes de igrejas e demais líderes locais.
O conselho dos dois terços
Tomando ainda como exemplo a igreja de Battle Creek Deus dá detalhes de como o desdobramento de igreja maiores deve ser realizado: “Se dois terços do povo de Battle Creek fossem lavoura do Senhor em outras partes, teriam espaço para se desenvolver [...] Houvesse acaso havido boa vontade de seguir os caminhos do Senhor em Seus planos, muitos estabelecimentos estariam agora florescendo em outros lugares [...] Tire-se o povo dos grandes centros, e estabeleça-se interesse em outros lugares, é a recomendação feita. Houvessem essas instruções sido atendidas, houvessem sido distribuídos os recursos, o dinheiro gasto nos edifícios a mais em Battle Creek haveria fartamente proporcionado dois novos edifícios em outras localidades, e os três haveriam crescido e dado frutos como não se têm visto, por haverem os homens preferido seguir sua própria sabedoria”. Conselho sobre educação, p. 198.
De acordo com o texto acima, ao contrário do que pensam os que se opõem a este plano, ao invés de decrescer o número da igreja sede, eles aumentarão e darão origem a mais dois lugares de pregação. Em acordo com esta orientação cada igreja grande deve ser dividida em três grupos. Os três crescerão!
Esta estratégia, dos dois terços está em acordo com o plano de formação de pequenos grupos: “A formação de pequenos grupos como base de esforço cristão, foi-me apresentada por Aquele que não pode errar.” Serviço Cristão, p. 72.
Simulação de desdobramento de igrejas
Como seria se dois terços dos membros da igreja onde você assiste fossem transferidos para um grupo menor ou alguma localidade onde não há um farol da verdade? Suponhamos que a igreja onde você congrega tenha cem membros. No plano divino, dois terços desse total, neste caso, sessenta e seis pessoas, dariam origem a mais duas igrejas com trinta e três membros cada uma delas! Não seria uma maravilha?! Assim, todos os membros da congregação se envolveriam no trabalho de multiplicar igrejas e ganhar almas para Cristo.
Não estou sugerindo que haja um movimento para prejudicar igrejas que já tem muita carência de pessoas para a realização dos trabalhos. Mas nas congregações onde a liderança perceba que tem uma classe ociosa, precisa-se transplantar para produzir.
Se você já participou de um projeto que desdobrou igreja e não deu certo, tente novamente. Se nunca participou, faça esta experiência. Vai valer a pena! O plano é perfeito. Se há algo de errado talvez esteja nos métodos, nas plantas ou até mesmo nos jardineiros.
De uma coisa temos certeza: Deus não está nenhum pouco interessado em formar grandes congregações, como nós estamos. Está sim, interessado que centenas e milhares de congregações sejam espalhadas e estabelecidas em lugares remotos da Terra.
Em acordo com estas orientações divinas “grandes igrejas são péssimo negócio!” “É-nos dada a ordem: “Acrescentai novos territórios”. Conselhos sobre Saúde, p. 217.
Reprovação ao comodismo
“Tendo ante si o mundo todo em necessidade do evangelho, os professos cristãos congregam-se onde eles mesmos possam desfrutar os privilégios do evangelho. Não sentem a necessidade de ocupar novo território, levando a mensagem da salvação para as regiões de além. Recusam-se a cumprir a ordem de Cristo: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura.” Marcos 16:15.” T8, p. 119.
Fazer a obra do modo de Deus
Não somente no aspecto do desdobramento de igrejas maiores, mas em todos os sentidos, “Houvesse a igreja de Cristo feito a obra que lhe era designada, como Ele ordenou, o mundo inteiro haveria sido antes advertido, e o Senhor Jesus teria vindo à Terra em poder e grande glória.” O Desejado de todas as nações, p. 634.
Nosso lema deve ser espalhar para evangelizar! Desdobrar para multiplicar! Mais cidade, menos bairro! Mais mundo, menos Brasil! “O campo de Deus é o mundo”. T8, p. 56. “O mundo é o nosso campo de atividades”. T8, p. 135.
É tempo de mudar
O tema que estamos tratando, da aglomeração, está intimamente relacionado pelo menos a dois outros temas de igual importância. Temas bastante conhecidos de nós e um tanto ignorados: evangelização e vida no campo. No período pós-pandemia é o tempo apropriado para falarmos em mudanças de localidades. Muitas pessoas que não conhecem nossa mensagem estão se mudando para regiões interioranas para fugirem da aglomeração das cidades e todos os prejuízos que ela traz, estão em busca de paz. “Sérias aflições encontram-se perante nós; e sair das cidades tornar-se-á uma necessidade para muitas famílias”. Vida no campo, p. 11.
Agora é um tempo apropriado para darmos atenção às orientações divinas e fazer valer o conhecimento que temos adquirido no que diz respeito a instalação de novos centros missionários. “Quantas vilas e cidades estão sendo completamente negligenciadas! Nosso povo está se prejudicando ao amontoar-se em um só lugar”. T8, p. 147.
Aos líderes de Sua igreja, Cristo diz: “Educai nosso povo a sair das cidades para o campo, onde possam obter um pequeno pedaço de terra, e fazer um lar para si e para seus filhos”. Vida no campo, p. 17.
Devemos planejar esta saída. Não egoisticamente, mas para levar a luz onde as trevas ainda têm o domínio. Minha oração é que Deus nos guie na direção apontada por Ele para a realização de Seus soberanos planos. Amém!
Referências:
WHITE, E. G., Testemunhos para a igreja. v. 8. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006.
_________. Vida no campo. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004.
_________. Conselhos sobre Saúde. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007.
_________. O Desejado de todas as nações. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000.
_________. Serviço cristão. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007.
_________. Conselho sobre educação. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007.
_________. Ciência do bom viver. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1905.
_________. Fundamentos da educação cristã. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007.
_________. Health, Philanthropic, and Medical Missionary Work.