

“Suspenso na cruz, Cristo era o Evangelho. ... ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!’ João 1:29. Não conservarão nossos membros de igreja o olhar no Salvador crucificado e ressurreto, no qual estão centralizadas suas esperanças de vida eterna? Esta é nossa mensagem, nosso argumento, nossa doutrina, nossa advertência ao impenitente, nosso encorajamento para os que choram, a esperança para todo crente.”
Antes de apresentar um estudo objetivo acerca da doutrina da salvação, é necessário enfatizar sua importância entre as demais doutrinas do cristianismo. Começando pela perspectiva apostólica, passando pelos Reformadores, chegamos aos nossos dias. À luz de muitas declarações do Espírito de Profecia que incentivam a reflexão, estamos felizes em saber que esta mensagem cumprirá plenamente seu propósito. Somos gratos a Deus por essa certeza.
Todos os que compreendem a perspectiva divina têm a clara convicção de que esta mensagem constitui a espinha dorsal do corpo de doutrinas da fé cristã.
PERSPECTIVA PAULINA
“Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho... Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue Evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema... Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o Evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.” Gálatas 1: 6, 8, 11 e 12.
Um estudo analítico e profundo da teologia de Paulo, apresentado nas epístolas dele, leva-nos claramente ao centro de seu pensamento teológico: O Evangelho de Cristo o alcançou por meio da revelação de Jesus Cristo. Tendo sido fruto da revelação divina, ninguém, nem mesmo um anjo do Céu poderia fazê-lo renunciar essa convicção. Assim, Paulo escreveu: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.” Gálatas 1:8.
Esta declaração mostra o ponto central e a importância que Paulo dedica ao Evangelho de Cristo entre as demais doutrinas cristãs. Isso indica que, para o apóstolo, o Evangelho de Cristo – justificação pela fé/salvação somente pela graça – é o núcleo em torno do qual gravitam as outras doutrinas. Portanto, o desagrado de Deus repousa sobre a tentativa de subordinar esta
doutrina a qualquer outra doutrina. Se alguém procurar ir além do que Cristo revelou a Paulo, ele diz: “Seja anátema.”
Mesmo o leitor superficial perceberá que as expressões “em Cristo Jesus”, “na graça de Cristo” “por Cristo Jesus” são encontradas nas epístolas, e em quase todos os capítulos, evidênciando ser Cristo o tema central, não apenas dos sermões de Paulo, mas, acima de tudo, o lema da vida dele. O que ocorreu bem cedo em sua experiência ministerial cristã foi o que o motivou a tomar uma decisão inteligente, notável, digna de ser imitada por todos os ministros de Cristo hoje: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” 1 Coríntios 2:2.
PERSPECTIVA DOS REFORMADORES
O sistema de doutrinas de Lutero e outros Reformadores, tão rico e diversificado, tem, igualmente, um centro. A partir dele, tudo o mais torna-se fácil, convincente, evidente. O próprio Lutero mostra que esse centro é a doutrina da justificação pela fé, a “única Rocha sólida” sobre a qual a igreja repousa: “Cristo deseja que nossa atenção seja centrada nesta doutrina principal, nossa justificação diante de Deus, para que creiamos nEle.” Luther’s Works, vol. 23, pág. 109.
Lutero entedia que a igreja somente podia ser definida como igreja se tivesse compreensão correta a respeito da justificação pela fé. Tudo o mais era secundário. Sem o entendimento exato a respeito deste assunto, toda igreja cairia em formalismo morto. De acordo com Lutero, este é o ponto sobre o qual toda a questão devia ser decidida.
Para Johannes Bugenhagen, amigo de William Tyndale, existe um centro absoluto de vida e doutrina, o qual é o tema da justificação pela fé. A declaração dele, convincente, era de que Cristo, nossa Justiça, é a única doutrina cristã. Calvino, Zuínglio, Melâncton, Lefèvre, Farel, e outros, todos mantiveram a mesma posição: a justificação unicamente pela Fé é a base de toda doutrina verdadeira.
Este assunto, Justificação pela fé, não é simples ponto doutrinário. Trata-se do ponto central, não estabelecido por Paulo ou Lutero, mas revelado pelo próprio Jesus Cristo. Os reformadores não criaram este centro. Eles apenas o descobriram. Isto abalou o próprio fundamento de Roma e, em poucos anos, revolucionou o mundo.
PERSPECTIVA ADVENTISTA
1. Para esclarecer questões.
“A indisposição de ceder a opiniões preconcebidas, e aceitar esta verdade, estava à base de grande parte da oposição manifestada em Mineápolis contra a mensagem do Senhor através dos irmãos [E. J.] Waggoner e [A. T.] Jones. Promovendo aquela oposição, Satanás teve êxito em afastar do povo, em grande medida, o poder especial do Espírito Santo que Deus anelava comunicar-lhes. O inimigo impediu-os de obter a eficiência que poderiam ter tido em levar a verdade ao mundo, como os apóstolos a proclamaram depois do dia de Pentecostes. Sofreu resistência a luz que deve iluminar toda a Terra com a sua glória. Pela ação de nossos próprios irmãos tem sido, em grande medida, conservada afastada do mundo.” Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 234 e 235.
“Alguns de nossos irmãos têm expressado receio de que estejamos dando demasiada ênfase ao assunto da justificação pela fé. Espero, porém, que ninguém fique desnecessariamente
alarmado. Oro nesse sentido, pois não há perigo em apresentar essa doutrina como é exposta nas Escrituras. No passado, se não tivesse havido negligência em instruir adequadamente o povo de Deus, agora não haveria necessidade de chamar a atenção especial [para essa doutrina]. ... As grandíssimas e preciosas promessas a nós concedidas nas Escrituras têm sido perdidas de vista, em grande extensão, justamente como o inimigo de toda a justiça pretendia que fosse. Ele estendeu sua sombra densa entre nós e nosso Deus, para que não vejamos o verdadeiro caráter divino. O Senhor proclamou-Se a Si mesmo como sendo ‘misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade’.” Review and Herald, 1º de abril de 1890.
“Reiteradas vezes tem sido apresentado a mim o perigo de nutrir, como povo, falsas idéias acerca da justificação pela fé. Durante anos, tem-me sido mostrado que Satanás trabalharia de maneira especial para confundir a mente quanto a esse ponto. A lei de Deus tem sido enfatizada e apresentada às congregações de maneira destituída do conhecimento de Jesus Cristo, à semelhança da oferta de Caim. Foi-me mostrado que muitos se mantém afastados da fé, devido às idéias embaralhadas e confusas acerca da salvação, e porque os pastores têm trabalhado de maneira errônea para alcançar os corações. O tema que durante anos tem sido recomendado com insistência à minha mente é a justiça imputada de Cristo. Tendo sido este assunto constantemente enfatizado diante de mim, tenho estranhado que este não se tenha tornado o tema de sermões em nossas igrejas em todas as partes do país. Eu o tenho apresentado em quase todo sermão e palestra que hei proferido.” Fé e Obras, pág. 18.
O LUGAR DA JUSTIFICAÇÃO
“Se, mediante a graça de Cristo, Seu povo se tornar novos odres, Ele os encherá com o vinho novo. Deus concederá mais luz. Antigas verdades serão recuperadas e postas na moldura da verdade. Onde quer que forem, os obreiros hão de triunfar. Sendo embaixadores de Cristo, cumpre-lhes pesquisar as Escrituras, procurar as verdades ocultas sob o pó do erro. Todo raio de luz recebido deve ser comunicado aos outros. Um interesse predominará, um assunto absorverá todos os outros – Cristo, Justiça nossa.” Review and Herald, 23 de dezembro de 1890.
“O sacrifício de Cristo, como expiação pelo pecado, é a grande verdade em torno da qual se agrupam as outras. ... Isto precisa ser o fundamento de todo discurso feito por nossos pastores.” Gospel Workers, pág. 190.
“Nunca se deve pregar um sermão sem apresentar a Cristo, e Ele crucificado, como a base do Evangelho.”Idem, 158.
“Suspenso na cruz, Cristo era o Evangelho. Agora, temos a mensagem: ‘Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’. Não conservarão nossos membros de igreja o olhar fixo no Salvador crucificado e ressurreto, em quem está centrada sua esperança de vida eterna? Esta é nossa mensagem, nosso argumento, nossa doutrina, nossa advertência ao impenitente, nosso encorajamento para os que choram, a esperança para todo crente. Se pudermos suscitar um interesse na mente dos homens que os leve a fixar os olhos em Cristo, poderemos afastar-nos, recomendando-lhes tão somente que continuem a fixar o olhar no Cordeiro de Deus. Aquele cujos olhos estão fixos em Jesus abandonará tudo. Morrerá para o egoísmo. Crerá em toda a Palavra de Deus, a qual é tão gloriosa e admiravelmente exaltada em Cristo.
“Quando o pecador contempla a Jesus como Ele é, um Salvador Todo-compassivo, esperança e segurança lhe tomam posse da alma. Desvalido, sem reserva nenhuma, ele se apega a Jesus.
Ninguém, ao contemplar a Cristo crucificado, poderá permanecer por muito tempo na dúvida. A incredulidade não mais existe.” The SDA Bible Commentary [E. G. White Comments], vol. 6, pág. 1113.
“O tema que atrai o coração do pecador é Cristo, e Este crucificado. Na cruz do Calvário, Jesus é revelado ao mundo em incomparável amor. Apresentai-O assim às multidões famintas. A luz de Seu amor desviará homens das trevas para a luz, da transgressão para a obediência e verdadeira santidade. Contemplar a Jesus sobre a cruz do Calvário desperta a consciência para o hediondo caráter do pecado como nada mais o pode fazer.” Review and Herald, 22 de novembro de 1892.
IMPORTÂNCIA DA MENSAGEM
“Vários me escreveram, indagando se a mensagem da Justificação pela fé é a mensagem do terceiro anjo. Tenho respondido: ‘É a mensagem do terceiro anjo, em verdade’.” Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 372.
“Foram-me mostrados três degraus: a primeira, a segunda e a terceira mensagens angélicas. Disse o meu anjo assistente: “Ai de quem mover um bloco ou mexer num alfinete dessas mensagens. A verdadeira compreensão delas é de vital importância. O destino das almas depende da maneira em que são recebidas.” Primeiros Escritos, pág. 258.
“Em Sua grande misericórdia, o Senhor enviou preciosa mensagem a Seu povo, por intermédio dos Pastores Waggoner e Jones. Esta apresentava, de maneira mais preeminente diante do mundo, o Salvador crucificado, o sacrifício pelos pecados de todo o mundo. Mostrava a justificação pela fé no Fiador, convidava o povo para receber a justiça de Cristo, que se manifesta na obediência a todos os mandamentos de Deus. Muitos perderam Jesus de vista. Deviam ter conservado fixo o olhar em Sua divina pessoa, em Seus méritos e em Seu imutável amor pela família humana. Todo o poder foi entregue em Suas mãos, para que Ele pudesse conceder ricos dons aos homens, transmitindo a inestimável dádiva de Sua justiça ao débil ser humano. Esta é a mensagem que Deus manda proclamar ao mundo. É a terceira mensagem angélica que deve ser proclamada com alto clamor e regada com o derramamento de Seu Espírito Santo em grande medida.” Testemunhos para Ministros, págs. 91 e 92.
SUMÁRIO
Estudo cuidadoso, analítico e profundo acerca da teologia de Paulo, como se encontra nas epístolas dele, claramente faz com que o pesquisador chegue ao centro do pensamento teológico Paulino: O Evangelho de Cristo. Para o apóstolo, isto significa que o Evangelho de Cristo (ou salvação somente pela graça, ou justificação pela fé) é o núcleo em torno do qual gravitam todas as demais doutrinas.
Lutero, Calvino e outros Reformadores, todos mantiveram a mesma posição: Justificação somente pela fé é a base de toda doutrina verdadeira.
Ellen G. White está em harmonia com Paulo e os Reformadores quando declara que “nunca se deve pregar um sermão sem apresentar a Cristo, e Ele crucificado, como a base do Evangelho.” Obreiros Evangélicos, págs. 158 e 159.
“Suspenso na cruz, Cristo era o Evangelho. ... ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!’ João 1:29. Não conservarão nossos membros de igreja o olhar no Salvador crucificado e ressurreto, no qual estão centralizadas suas esperanças de vida eterna? Esta é nossa
mensagem, nosso argumento, nossa doutrina, nossa advertência ao impenitente, nosso encorajamento para os que choram, a esperança para todo crente.” SDA Bible Commentary, vol. 6, pág. 1113.
“A mensagem da justiça de Cristo há de soar desde uma até a outra extremidade da Terra, a fim de preparar o caminho ao Senhor. Esta é a glória de Deus com que será encerrada a mensagem do terceiro anjo.” Testimonies, vol. 6, pág. 19.
Autores: Davi P. Silva e Joraí P. da Cruz