

Fui instruída pelo Senhor a chamar a atenção do nosso povo para a história de Salomão. Da história de seu reinado podemos aprender muitas lições proveitosas a fim de evitarmos o caminho que levou Israel à ruína.
Promissores foram os primeiros anos da vida de Salomão. Ao fazer ele da sabedoria de Deus a sua escolha, a glória do seu reino encheu o mundo de assombro. Ele poderia ter ido de força em força, de glória em glória, aproximando-se cada vez mais da semelhança com o caráter divino.
O Reino de Israel no Tempo de Salomão
No reinado de Davi e de Salomão, Israel atingiu o auge de sua grandeza. Salomão foi ungido e proclamado rei nos derradeiros anos de seu pai Davi, que abdicara em seu favor. Depois da morte do pai, "foi Salomão rei sobre todo o Israel." Por essa época, "eram os filhos de Judá e Israel tão numerosos quanto a areia que está à beira do mar." 1 Reis 4:1, 20.
A Extensão do Reino
"Dominava Salomão sobre todos os reinos desde o rio [Eufrates] até a terra dos filisteus e até ao termo do Egito. Estes reinos pagavam tributo, e serviram a Salomão todos os dias de sua vida. ... Dominava ... sobre todos os reis daquém do rio [Eufrates], desde Tifsa até Gaza, e tinha paz por todos os lados em redor.
"Judá e Israel habitavam seguros, cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira, desde Dã até Berseba, todos os dias de Salomão." 1 Reis 4:21-25.
"Quando Hirão, rei de Tiro, ouviu que haviam ungido a Salomão rei em lugar de seu pai, enviou os seus servos a Salomão, porque Hirão sempre fora muito amigo de Davi." 1 Reis 5:1.
"Salomão, filho de Davi, fortaleceu-se no seu reino, pois o Senhor seu Deus era com ele, e muito o engrandeceu." 2 Crônicas 1:1.
Cumprira-se a promessa feita a Abraão e confirmada por meio de Moisés: "Se diligentemente guardardes todos estes mandamentos que vos prescrevo, amando o Senhor vosso Deus, andando em todos os seus caminhos, e achegando-vos a Ele, também o Senhor de diante de vós expulsará todas estas nações, e despojareis nações maiores e mais poderosas do que vós. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; o vosso termo se estenderá do deserto ao Líbano, e do rio Eufrates ao mar ocidental. Ninguém subsistirá diante de vós." Deuteronômio 11:22-25.
A Oportunidade de Salomão
A última grande obra de Davi, em sua posição oficial, foi chamar mais uma vez a atenção do povo para a solene relação que tinham para com Deus como súditos de Seu governo teocrático. Convocando os príncipes de Israel e representantes de todas as partes do reino, conferiu, na presença destes, um inspirado encargo ao filho, investindo-o da autoridade real e ordenando que cumprisse fielmente os deveres que lhe haviam sido impostos.
"Conhece o Deus de teu pai", exortou o encanecido monarca, "serve-o com um coração íntegro e alma voluntária, pois o Senhor esquadrinha todos os corações, e penetra todos os desígnios e pensamentos. Se o buscares, será achado de ti; mas se O deixares, rejeitar-te-á para sempre. Olha, agora, pois o Senhor te escolheu para edificares uma casa para o santuário. Esforça-te, e faze a obra." 1 Crônicas 28:9, 10.
Através da obediência, os israelitas poderiam ter permanecido como cabeça das nações da Terra. Deus faria com que fossem exaltados "em louvor, em nome e em glória sobre todas as nações que criou, para que sejas povo santo ao Senhor teu Deus, como tem dito." Deuteronômio 26:1. "Todos os povos da Terra", disse Moisés, "verão que és chamado pelo nome do Senhor, e terão temor de ti." Deuteronômio 28:10. "Os povos que ouvirem todos estes estatutos, dirão: Este grande povo é realmente sábio e entendido." Deuteronômio 4:6.
Ninguém entendeu essas promessas melhor que Davi. O rei de Israel aprendeu por experiência própria quão duro é o caminho daquele que se afasta de Deus. Sentira a condenação da lei violada e colhera os frutos da transgressão; e toda a sua alma se agitava em solicitude para que os líderes de Israel fossem fiéis ao Senhor e para que Salomão obedecesse à lei de Deus, desviando-se dos pecados que enfraqueceram a autoridade de seu pai, amarguraram-lhe a vida e desonraram ao Senhor. Davi sabia que, para resistir às tentações que certamente assaltariam Salomão em sua elevada posição, seria preciso humildade de coração, constante confiança em Deus e incessante vigilância; pois as pessoas influentes são as que mais Satanás procura atingir com suas setas.
Ao sentir Davi que a morte se aproximava, o peso que lhe esmagava o coração ainda era por Salomão e pelo reino de Israel, cuja prosperidade dependia em tão grande parte depender da fidelidade de seu rei. "Deu ele ordem a Salomão, dizendo: "Eu vou pelo caminho de toda carne. Esforça-te, pois, e sê homem. Guarda as ordenanças do Senhor teu Deus, para andares nos seus caminhos, para guardares os seus estatutos e os seus mandamentos, os seus juízos e os seus testemunhos... para que prosperes em tudo o que fizeres e por onde quer que fores, e que o Senhor confirme a palavra que falou de mim, dizendo: Se teus filhos guardarem o seu caminho, para andarem perante a minha face fielmente, de todo o seu coração e de toda a sua alma, nunca te faltará sucessor ao trono de Israel." 1 Reis 2:1-4.
Oh! que oportunidade teve Salomão! Não devia ser apenas um guerreiro, um estadista, um soberano, mas um homem forte e bom, um exemplo de fidelidade, um mestre de justiça. Com terna solicitude Davi exortou Salomão a ser varonil e nobre, a mostrar misericórdia e magnanimidade para com seus súditos. As inúmeras experiências probantes e notáveis pelas quais Davi passara durante o curso de sua vida haviam-lhe ensinado o valor das mais nobres virtudes, levando-o a exclamar: "Quando um justo governa sobre os homens, quando governa no temor de Deus, é como a luz da manhã ao sair do sol de uma manhã sem nuvens, como o esplendor depois da chuva que faz brotar da terra a erva." 2 Samuel 23:2, 3.
Tivesse Salomão seguido a instrução divinamente inspirada de seu idoso pai, e seu reino teria sido um reino de justiça, tal qual aquele magnificamente descrito no Salmo 72.
Um Reino de Justiça
Ó Deus, dá ao rei a tua justiça,
E a tua retidão ao filho do rei.
Ele julgará o teu povo com retidão,
E os teus pobres com justiça.
Os montes trarão prosperidade ao povo,
e os outeiros o fruto da retidão.
Defenderá os aflitos do povo,
Salvará os filhos do necessitado,
E quebrantará o opressor.
Ele permanecerá enquanto durar o sol e a lua,
De geração em geração.
Ele será como a chuva sobre a erva ceifada,
Como os aguaceiros que umedecem a terra.
Nos seus dias florescerá o justo;
Abundância de paz haverá enquanto durar a lua.
Dominará de mar a mar,
E desde o Rio até as extremidades da terra.
Aqueles que habitam no deserto
Se inclinarão ante ele,
E os seus inimigos lamberão o pó.
Os reis de Társis e das ilhas trarão tributo;
Os reis de Sabá e de Seba oferecerão presentes.
Todos os reis se prostrarão perante ele,
E todas as nações o servirão.
Pois ele livrará o necessitado que clamar,
Como também ao aflito e ao que não tem quem o ajude.
Compadecer-se-á do pobre e do aflito,
E salvará as almas dos necessitados.
Libertará as suas almas do engano e da violência,
Pois precioso é o seu sangue aos olhos dele.
Tenha ele longa vida!
E se lhe dê do ouro de Sabá.
Continuamente se faça por ele oração,
E todos os dias o bendigam.
Haja abundância de cereal na terra;
Ondule sobre os cumes dos montes.
Como o Líbano, floresça o seu fruto;
Floresça como a erva do campo.
Permaneça o seu nome eternamente;
Que ele continue enquanto o Sol durar.
Todas as nações serão abençoadas nele,
E lhe chamarão bem-aventurado.
Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel,
O único que faz maravilhas.
Bendito para sempre seja o Seu glorioso nome;
Encha-se toda a Terra da Sua glória.
Amém e amém.
A Apostasia
Toda a história de Salomão poderia ter sido de acordo com esta inspirada profecia. Exaltado a uma posição de sagrada confiança, ele por algum tempo deu ouvidos aos sábios conselhos de Davi e trouxe glória para o nome do Deus de Israel. Os últimos anos de seu reinado, porém, foram deslustrados pelo orgulho, auto-suficiência e exaltação própria. O desejo de poderio político e engrandecimento pessoal levou-o a formar alianças com nações gentílicas. A prata de Társis e o ouro de Ofir eram procurados a elevado custo, mesmo com sacrifício da integridade e atraiçoamento de santos legados. A associação com idólatras corrompeu-lhe a fé. Um passo em falso levou a outro, até que foram derribadas as barreiras que Deus erigira para a segurança de Seu povo.
Gradual mas seguramente a vida de Salomão corrompeu-se pela conformidade com os costumes mundanos. Ao tomar em consideração a norma de justiça seguida pelas nações pagãs, começou a perder de vista o padrão da lei de Deus. Unindo-se em matrimônio com mulheres adoradoras de falsos deuses, entregou-se por fim à idolatria. O caráter que tinha sido puro e elevado deslustrou-se e degradou-se. A mente que, consagrada a Deus, fora uma vez inspirada a escrever as preciosas palavras de sabedoria encontradas no livro de Provérbios – aquela mente nobre – através das más associações e constante condescendência, tornou-se fraca em força moral. Salomão desonrou a si mesmo, a Israel e a Deus.
Por mais deplorável que possa parecer, o relato da apostasia de Salomão retrata o resultado da separação de Deus. Um passo em falso prepara o caminho para um segundo e um terceiro, de sorte que cada passo adicional é mais fácil de ser dado que o anterior. É nosso privilégio dar ouvidos à advertência de Deus na vida de Salomão. Como seguidores de Cristo, cumpre-nos honrar nosso Mestre pelo estudo de Seus ensinos e obediência a eles. Devemos manifestar nosso amor e temor a Deus pela recusa em conformar-nos à norma de direito prevalecente no mundo. Cuidemos para não nos afastarmos da simplicidade de nossa fé. A norma do direito que aos cristãos cumpre seguir deve ser sempre a norma apresentada nas Sagradas Escrituras. Devemos estar sempre precavidos contra toda influência mundana capaz de enfraquecer nossa força moral.
Fonte: Review and Herald, 17/08/1895