Como vimos a divindade do Espírito Santo é claramente revelada na Bíblia. A dificuldade que os opositores têm apresentado é quanto Ele ser pessoal ou não e por fim, se Ele é distinto do Pai e do Filho. Nas próximas páginas vamos provar esses fatos à luz das Escrituras.
A. B. Langston[i] agrupa em quatro as características que definem uma personalidade. A Bíblia menciona essas características ao se referir ao Espírito Santo, deixando claro que ele é um ser pessoal.
A primeira prova da personalidade do Espírito Santo é que atributos pessoais são aplicados a Ele. Esses atributos são cinco: pensar, sentir, querer, consciência própria e direção própria. Uma energia, influência ou mesmo o vento não tem essas características. O prof. José Carlos Ramos lembra que “uma entidade pessoal é aquela que afeta as outras entidades pessoais e é afetada por elas.”[ii] Assim esses cinco atributos pressupõe a interação entre seres distintos. Segundo a Bíblia, essas características são encontradas no Espírito Santo?
O Espírito Santo pensa, pois Ele sabe o íntimo de Deus: “O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as coisas mais profundas de Deus. Pois, quem conhece os pensamentos do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus. Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente.” (1Co 2.10-12).
Na interpretação dessa passagem Ricardo Nicotra comete um erro básico. Para tentar descaracterizar a pessoalidade do Espírito Santo, o autor citado conclui que “assim como o homem tem um pneuma [espírito] como parte integrante do seu ser, Deus também tem um pneuma [espírito].”[iii] Contudo essa não é a intenção de Paulo. O paralelo que ele faz entre o espírito do homem e o Espírito de Deus não deve ser tomado em todos os aspectos ao pé da letra. Deus não tem um espírito, Ele é espírito (Jo 4.24), ao contrário do homem que tem um espírito (Gn 2.7; Ec 12.7). O próprio Paulo distingue Deus Pai do Espírito Santo no versículo 12, quando diz que “o Espírito [é] procedente de Deus”. Jesus ensinou aos seus discípulos que assim como o Pai o enviou ao mundo (Jo 14.24) assim o Espírito Santo seria enviado (vers. 25). Dessa forma Ele fez distinção entre o Pai e Ele e o Espírito e o Pai. Longe de negar a personalidade do Espírito Santo, Paulo a está enfatizando. Ele é Deus, pois apenas Deus conhece as coisas de Deus e é um ser pessoal e distinto, pois foi enviado por Ele.
O Espírito Santo tem sentimentos, também: a Bíblia fala que Ele pode ser entristecido (Ef 4.30). Paulo descreve esse atributo do Espírito Santo dentro de um contexto trinitariano. A tristeza que o Espírito Santo sente é resultado de vivermos uma vida indigna da salvação que o Pai e o Filho nos oferecem (veja o versículo 32).
Além disso, a Bíblia ensina que o Espírito Santo tem vontade, ou seja, poder de decisão. Ao falar sobre os dons espirituais, em 1Co 12, Paulo descreve a participação da divindade na aplicação dos dons espirituais na igreja do ponto de vista trinitariano. Ele diz que “há diferentes tipos de dons, mas o Espírito [terceira pessoa da divindade] é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor [segunda pessoa da divindade]. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus [primeira pessoa da divindade] quem efetua tudo em todos.” (1Co 12.4-6). Em relação aos dons cada membro da divindade tem uma função distinta. Enquanto é o Espírito Santo quem determina o dom que recebemos (veja vers. 11), O Filho define o campo de atuação, ou seja, o ministério (como fez com Pedro em Jo 21.15-19), o Pai é responsável pelo resultado do nosso trabalho (ver o cap. 3.7). Não é uma questão de citar nomes de forma aleatória, mas de definir funções claras de um propósito. Isso só é possível com seres pessoais, divinos ou humanos.
Nessa passagem, Paulo afirma que a definição dos dons que recebemos é obra do Espírito Santo. A partir do vers. 8 ele enumera vários dons, mas Paulo deixa claro que o dom é dado “pelo Espírito”. Por fim, ele conclui: “Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e Ele as distribui individualmente, a cada um, como quer”, 1.Co 12.11 (compare com Hb 2.4). Ele decide, determina, escolhe, como qualquer ser faz. Além disso, essa passagem chama a nossa atenção para o fato de que devemos nos sujeitar a Sua vontade. Devemos ser usados pelo Espírito, estar a sua disposição, e não querermos usá-lo segundo a nossa vontade.
O Espírito Santo tem consciência própria, ou seja, Ele tem intenção e propósito: “E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, por que o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus”, Rm 8.27. Nesta passagem, Paulo afirma três verdades importantes sobre o Espírito Santo que merece ser aprofundado. Primeiro, o apóstolo fala sobre a intenção do Espírito. Esse conceito envolve mais do que pensar, indica propósito.[iv] Em segundo lugar, a passagem diz que o Espírito Santo intercede pelos crentes. No versículo anterior, Paulo diz que Ele o faz com “gemidos inexprimíveis” (vers. 26), ou seja, Ele remove das nossas orações todo o palavreado inútil e revela nossos verdadeiros desejos diante de Deus. Em terceiro lugar, as Escrituras ensinam que além do Espírito Santo, o Filho (Rm 8.34; 1Jo 2.1) e o Pai (Jo 16.26, 27) também intercedem por nós. Isso revela que apesar de identificarmos a obra de interceder pelos pecadores como sendo feita por Cristo Jesus, tanto o Pai como o Espírito Santo também estão interessados na nossa salvação. Nesses e em outros aspectos, apesar de na obra de salvação cada membro da divindade desenvolve seu próprio papel as Escrituras revelam que essas atribuições não são exclusivas ou excludentes. Assim, na obra da criação e da redenção todos os membros da divindade são atuantes.
E por fim, o Espírito Santo tem auto-determinação, ou seja, direção própria. Por isso, Ele escolheu nos amar: “Recomendo-lhes, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que se unam a mim em minha luta, orando a Deus em meu favor.” Rm 15.30. Paulo, nesta passagem, descreve o sentimento do Espírito Santo por nós. Ele nos ama, tanto quanto o Filho e o Pai. Perceba que o contexto é trinitariano também, pois o apóstolo cita, na mesma passagem, o Senhor Jesus, o Espírito e Deus Pai.
Sobre o amor do Espírito Santo por nós, Langston comenta:
“O Espírito Santo é uma pessoa que nos ama. Façamos muito no mor de Deus, no amor de Jesus Cristo e bem pouco meditamos no amor do Espírito Santo para conosco. Mas não deve ser assim, porque o Espírito Santo não só está conosco sempre, mas também nos ama sempre. Se não fosse o grande amor de Deus, Jesus não teria vindo a este mundo. E se não fosse o grande amor do Espírito Santo, Ele não nos buscaria pra convencer-nos do pecada, da justiça e do juízo.”[v]
Além de nos amar o Espírito Santo quer ter comunhão conosco. Em 2Co 13.14: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam, com todos vocês.” Essa passagem é chamada de benção apostólica. É interessante a função que o apóstolo identifica com cada membro da trindade. Deus Pai é a fonte do amor, o Filho é o canal dessa benção, pois através dEle vem a graça e o resultado é a comunhão com o Espírito Santo. Em Fp 2.1, Paulo ensina que podemos ter “comunhão no Espírito”. Outros aspectos dessa passagem serão analisados no capítulo 7.
A segunda prova da personalidade do Espírito Santo é que a Bíblia atribui a Ele atos que só podem ser feitas por uma pessoa. Ele fala de forma pessoal: “Enquanto Pedro ainda estava pensando na visão, o Espírito lhe disse: ‘Simão, três homens estão procurando por você. Portanto, levante-se e desça. Não hesite em ir com eles, pois eu os enviei’.” Ele usa o pronome pessoal na primeira pessoa para referir-se a si mesmo. Isso acontece de novo em At 13.2: “Enquanto adoravam o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: ‘Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado’.
Além disso, no Apocalipse Ele aparece falando. No fim da cada uma das cartas enviadas por Jesus às igrejas da Ásia Menor aparece o Espírito Santo apelando: “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7, 11, 17, 29; 3.6, 13 e 22). Em Ap 14.13, lemos: “Então ouvi uma voz dos céus dizendo: ‘Escreva: Felizes os mortos que morrem no Senhor de agora em diante’. Diz o Espírito: ‘Sim, eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão’.” Por fim, no fim do Apocalipse o Espírito Santo aparece apelando com a Igreja: “O Espírito e a noiva dizem: ‘Vem!’” (Ap 22.17). Essa última passagem está em um contexto trinitariano. No capítulo 22 de Apocalipse, o Pai fala no versículo 13, o Filho no 16 e o Espírito Santo no 17.
Jesus falou aos discípulos sobre a vinda do Espírito Santo. Ele ensinou que a missão dEle seria testemunhar sobre o Filho. “Quando vier o Conselheiro, que eu enviarei a vocês da parte o Pai, o Espírito da verdade que provém do Pai, ele testemunhará a meu respeito”, Jo 15.26. Assim como o Filho veio glorificar o Pai (Jo 17.4), o Espírito Santo foi enviado para glorificar o Filho (Jo 16.14). Além de Jesus usar o pronome “Ele” para se referir ao Consolador, Ele descreve a obra dEle como sendo feita por um ser pessoal: viver (Jo 14.17), ensinar e fazer lembrar (ver. 26), convencer (cap. 16.8), guiar e falar (ver. 13), glorificar (ver. 14) e tornar algo conhecido (ver. 15). São ações feitas por um ser pessoal.
A terceira prova da personalidade do Espírito Santo é que a Sua missão só pode ser desempenhada por uma pessoa. Sobre a obra do Espírito Santo, Jesus ensinou: “Eu pedirei ao Pai, e Ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois Ele vive com vocês e estará em vocês.” (Jo 14.16, 17). Depois de ascender ao céu, para interceder por nós no santuário celestial, o Pai enviaria outro Conselheiro. Outras versões da Bíblia vertem a palavra grega Parácleto, usada nesta passagem, por Consolador (ARA), Auxiliador (NTLH), Valedor (BP) ou simplesmente a transliteram para o português (como fez a BJ, TB e a TEB). Essa palavra não tem correspondente em nosso idioma. Literalmente, ela refere-se a alguém chamado para estar ao lado de outra pessoa. Essa palavra é aplicada a Jesus também (1Jo 2.1). Portanto, se Jesus é o primeiro Parácleto, o Espírito Santo é o segundo. Enquanto esteve na Terra Cristo esteve ao lado de seus discípulos, orientando, confortando e preparando-os para o cumprimento da sua missão. Agora que Ele retornaria para o céu, deixaria alguém para estar ao seu lado dos seus seguidores. Mas agora esse relacionamento seria mais íntima e profunda, pois o Espírito Santo habitaria dentro deles e não ao seu lado apenas. Sobre isso comenta Langston:
“Às vezes temos pensado que melhor teria sido para nós os crentes, se pudéssemos ter vivido em companhia de Jesus quando Ele andava aqui na terra. Talvez tenhamos tido, às vezes, inveja dos apóstolos que andavam com Ele dia após dia. É verdade, porém, que os crentes de hoje têm privilégios maiores e mais gloriosos do que os próprios discípulos que com Ele conviveram. Se assim não fosse, Jesus não teria dito: ‘Convém que Eu vá.’ Sem dúvida era grande o privilégio dos apóstolos andarem com Jesus e habitarem com Ele; porém, muito maior ainda é o privilégio que temos de andar com o Espírito Santo e tê-lo habitando em nós, em vez de conosco.
“O Espírito Santo está em condições de manter uma relação muito mais íntima conosco do que Jesus poderia manter quando estava na carne. É um dos pensamentos mais confortantes é este, de termo no Espírito Santo uma pessoa tão real, tão divina, tão amável, tão digna da nossa confiança, tão pronta a nos socorrer como nos dias em que Jesus esteve aqui na terra. E, como já observamos, o Espírito Santo está em condições de fazer por nós o que Cristo na carne não podia fazer. O crente de hoje goza de privilégios que os primeiros apóstolos gozaram, a não ser depois da vinda desse Consolador. E como Jesus resolvia os problemas materiais dos Seus discípulos, o Espírito Santo, estando sempre presente em nossa vida, também pode resolver todos os problemas que se nos deparam.”[vi]
Existem duas palavras gregas que podem ser vertidas por “outro”: állos e héteros. Enquanto o primeiro termo é usado para se referir a duas coisas que quando comparadas são da mesma natureza, ou espécie. A outra palavra é usada para comparar duas coisas de natureza diferente. Quando Jesus refere-se ao Espírito Santo Ele usa állos, ou seja, o Parácleto seria alguém da mesma natureza, alguém tão divino como Ele.
A quarta prova da personalidade do Espírito Santo que lhe são feitas referências como a uma pessoa. A Bíblia afirma que o Espírito Santo pode ser entristecido (Is 63.10; Ef 4.30), insultado (Hb 10.29), podemos mentir-lhe (At 5.3), Ele sente ciúmes (Tg 4.5) e é doador de alegria (1Ts 1.6).
[i] LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática, p. 276-283.
[ii] A personalidade e a divindade do Espírito Santo (entrevista), Revista Adventista, julho 2004, p. 6.
[iii] NICOTRA, Ricardo. Eu e o Pai somos um, p. 23.
[iv] LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática, p. 278.
[v] LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática, p. 278.
[vi] Esboço de Teologia Sistemática, p. 282.