

Samuel Morland, descreve os Processos da Inquisição:
Os valdenses, o pequeno rebanho de Cristo nos vales do Piemonte, em virtude do isolamento e obscuridade da região, e habitando em seus vales e montanhas, por muitos séculos desfrutaram certa paz e tranqüilidade, e preservaram a pureza daquela doutrina que lhes foi entregue por Cristo e Seus apóstolos.
À medida que a besta do Apocalipse estendia cada vez mais sua influência e poder, cobrindo o mundo com as densas nuvens escuras da corrupção da fé cristã, os verdadeiros Natãs de forma alguma podiam beber tais abominações; fizeram tudo ao seu alcance para opor-se a essa onda de apostasia, tornando-se freqüentemente mártires por causa do testemunho que deram. Por causa deste resoluto e fiel testemunho contra tais inovações da doutrina cristã, foi que eles se tornaram objetos da ira de seus inimigos e da fúria da igreja romana.
Os primeiros meios usados pelos seus inimigos para exterminá-los foram os trovões dos papas, os anátemas, os decretos canônicos, a constituição e os decretos da igreja, e tudo que pudesse torná-los odiosos aos reis e príncipes e povo da Terra - proibindo-os de toda forma de comunhão e sociedade com seus vizinhos; sentenciando-os como homens indignos, incapazes de qualquer responsabilidade, honra, herança, inclusive de ter um lugar de sepultura entre os cristãos; confiscando seus bens, herança dos filhos, demolindo suas casas.
Estas sentenças podem ser comprovadas por algumas cartas do papa Alexandre III, como também de muitos outros papas, com instruções formais do que devia ser feito contra aqueles que eram considerados hereges. Nessas cartas e editos temos a descrição exata das ordens que os papas impuseram sobre reis, príncipes, magistrados, cônsules e povo, exigindo-lhes que fizessem uma minuciosa inquisição, que fechassem os portões da cidade, que não permitissem a fuga de ninguém, e matar sem misericórdia aquelas pobres inocentes ovelhas, dando ao acusador 1/3 dos despojos de suas vítimas, como também estabelecendo alguns castigos sobre aqueles que procurassem ocultá-los.
Mas com o passar do tempo, quando estes meios foram julgados muito brandos para obter o objetivo, pois não obstante toda diligência, aquele povo começou a multiplicar-se extraordinariamente, e seus ministros não paravam de ensinar e pregar às suas respectivas congregações, que o papa era o anti-Cristo, a missa uma abominação, a hóstia um ídolo, o purgatório uma fábula,etc.
Então Inocêncio III, que assumiu o trono papal em 1198, tomou medidas para instituir um método para exterminá-los, enviando alguns inquisidores apontados para cumprir esta obra. , dando-lhes poderes extraordinários de: Primeiro estabelecer uma forma de Processo como achassem melhor, e depois entregá-los aos magistrados, e em seguida levá-los à guilhotina. Por esses meios, em poucos anos, eles encheram a maior parte da cristandade com os mais formidáveis e lamentáveis espetáculos de suas barbaridade e crueldades anti-cristãs.
Agora que o poder desses inquisidores era ilimitado e sem restrição e plenamente visível pelas suas práticas, pois tinham poder para convocar o povo quando o desejassem ao som do sino; tinham o poder de se oporem aos próprios bispos, se achassem oportuno, e levar avante os seus próprios processos; tinham poder de prender aqueles que desejassem e aqueles que desejassem soltar. Toda espécie de acusação era válida para eles! Um feiticeiro ou uma prostituta era uma testemunha válida para tirar a vida de qualquer dos valdenses hereges! E o pior de tudo, não havia nenhuma necessidade de confrontar os depoimentos ou examinar os documentos, mas era suficiente apresentá-los perante o Inquisidor, sem testemunhas. Se alguma pessoa fosse rica, sua riqueza era uma prova suficiente, quer para convencê-los de heresia ou como simpatizante da heresia. Nenhum advogado ousava defender sua causa, nenhum escrivão (juiz) recebia qualquer Ata em favor deles.
Quando alguém era apanhado no laço da Inquisição, ele sabia com certeza de que nunca escaparia. Se fosse solto era apenas como zombaria para trazê-los novamente - como o gato algumas vezes faz com o rato para depois matá-lo. E como se fosse pequeno o castigo de tirar-lhes a vida, foi feita muita sentença daqueles sanguinários inquisidores contra os próprios ossos daqueles pobres valdenses, removendo-os da sepultura, depois de trinta anos e então queimados publicamente nas ruas e lugares públicos; seus filhos eram processados e não podiam herdar suas terras e possessões, por medo de serem condenados como hereges.
E para manter o povo em agitação, aqueles inquisidores levavam em triunfo seus prisioneiros e cativos freqüentemente em procissão, forçando alguns a se açoitarem a si mesmos a medida que marchavam nas ruas, e outros a usar casacos vermelhos com cruzes amarela, com o nome de que foram convictos de algum erro notório e que a próxima falta que cometessem seriam condenados como hereges sem remissão. Outros eram obrigados a segui-los descalços, sem chapéu, com uma var em suas mãos, e desta maneira prosseguiam andando pelas ruas, proibidos de entrar nas igrejas.
E o que não é inferior a esses castigos, muitos eram enviados como penalidade, a fazer viagens mesmo à Terra Santa, ou algum outro remoto recanto do mundo, por um determinado tempo, sem exigirem qualquer coisa ao retornarem, nem tampouco sobre suas propriedade, ou que familiaridades aqueles inquisidores haviam tido com suas esposas na ausência deles - pois então haveriam de ser acusados como relapsos e pessoas impenitentes, e portanto incapazes de serem perdoados.
Além de todas estas práticas, os inquisidores tinham uma certa forma de engano sutil, de astutos estratagemas, por meio dos quais eles em geral regulamentavam todos os seus processos contra os valdenses, como pode ser visto nas Máximas e Regras de Precaução, que apresentaremos a seguir, e que a Providência permitiu vir à luz, mesmo que haviam sido concebidos e ocultados pelos filhos das trevas, nos secretos recintos e desígnios ocultos.