Este período foi de turbulência e sacudidura na igreja cristã. Satanás formulou outros planos. A perseguição movida por quase três séculos havia tão somente fortalecido a firmeza dos genuínos cristãos. Satanás portanto, procurou hastear sua bandeira dentro da própria igreja cristã. E. G. White descreve o panorama e os resultados da união da igreja cristã com o império:
"O grande adversário se esforçou então por obter pelo artifício aquilo que não lograra alcançar pela força. Cessou a perseguição, e em seu lugar foi posta a perigosa sedução da prosperidade temporal e honra mundana. Levavam-se idólatras a receber parte da fé cristã, enquanto rejeitavam outras verdades essenciais. Professavam aceitar a Jesus como o Filho de Deus e crer em Sua morte e ressurreição; mas não tinham convicção do pecado e não sentiam necessidade de arrependimento ou de uma mudança de coração. Com algumas concessões de sua parte, propuseram que os cristãos fizessem outras também, para que todos pudessem unir-se sob a plataforma da crença em Cristo.
"A igreja naquele tempo encontrava-se em terrível perigo. Prisão, tortura, fogo e espada eram bênçãos em comparação com isto. Alguns cristãos permaneceram firmes, declarando que não transigiriam. Outros eram favoráveis a que cedessem, ou modificassem alguns característicos de sua fé, e se unissem aos que haviam aceito parte do cristianismo, insistindo em que este poderia ser o meio para a completa conversão. Foi um tempo de profunda angústia para os fiéis seguidores de Cristo. Sob a capa de pretenso cristianismo, Satanás se estava se estava insinuando na igreja, a fim de corromper-lhe a fé e desviar-lhe a mente da Palavra da verdade.
"A maioria dos cristãos finalmente consentiu em baixar a norma, formando uma união entre o cristianismo e o paganismo. . . Alguns houve, entretanto, que não foram transviados. Mantinham-se ainda fiéis ao Autor da verdade e adoravam a Deus somente. . .
"Satanás exultou em haver conseguido enganar tão grande número dos seguidores de Cristo. Levou então seu poder a agir de modo mais completo sobre eles, e os inspirou a perseguir aqueles que permaneceram fiéis a Deus. Ninguém compreendeu tão bem como se opor à verdadeira fé cristã como os que haviam sido seus defensores; e estes cristãos apóstatas, unindo-se a companheiros semi-pagãos, dirigiram seus ataques contra os característicos mais importantes da fé de Cristo.
"Foi necessária uma luta desesperada por parte daqueles que desejavam ser fiéis, permanecendo firmes contra os enganos e abominações que se disfarçavam sob as vestes sacerdotais e se introduziram na igreja. A Escritura Sagrada não era aceita como a norma de fé. A doutrina da liberdade religiosa era chamada heresia, sendo odiados e proscritos seus mantenedores. " E. G. White, O Grande Conflito, págs. 39-42.
A igreja cristã, portanto, a partir de Constantino tornou-se a religião oficial do império. A observância do domingo é exaltado em lugar do dia de repouso do sábado bíblico, e outros costumes e observâncias do paganismo são introduzidos na igreja e rebatizados com outros nomes. Esse panorama produziu uma sacudidura na igreja:
"Depois de longo e tenaz conflito, os poucos fiéis decidiram-se a dissolver toda a união com a igreja apóstata, caso ela ainda recusasse liberta-se da falsidade e idolatria. Viram que a separação era uma necessidade absoluta se desejavam obedecer à Palavra de Deus. Não ousavam tolerar erros fatais a sua própria alma, e dar exemplo que pusesse em perigo a fé de seus filhos e netos. Para assegurar a paz e unidade, estavam prontos a fazer qualquer concessão coerente com a fidelidade para com Deus, mas acharam que mesmo a paz seria comprada demasiado caro com sacrifício dos princípios. Se a unidade só se pudesse conseguir comprometendo a verdade e a justiça, seria preferível que prevalecessem as diferenças e as consequentes lutas. " E. G. White, O Grande Conflito, pág. 42.
Um Vislumbre desse Processo de Sacudidura:
À medida que se fortalecia a união da igreja e o império, pequenos grupos ou famílias de cristãos genuínos, buscavam refúgio nos recantos mais isolados, para adorar a Deus de acordo com a fé primitiva:
* Os dogmas e tradições promulgados no Concílio de Nicéia e outros Concílios que se seguiram nos Séculos IV e V, eram agora impostos por leis imperiais, e impostas como regra a todos os cristãos. Aqueles que não aceitavam esses costumes e dogmas oriundos ou mesclados com o paganismo, preferindo seguir fielmente o ensino bíblico, eram estigmatizados como hereges, e sofriam todo tipo de perseguição. Esta foi outra causa de separação e sacudidura. À medida que as pressões aumentavam, pequenos grupos de todas as Províncias do Império, preferiam o anonimato e os lugares isolados.
* No Ocidente, as constantes invasões de tribos bárbaras no final do Século IV e por todo o Século V, na própria Roma e Províncias adjacentes em toda a Itália e Europa, criou um clima de grande instabilidade e insegurança social, política e religiosa. Esta foi outra causa que impeliu pequenos grupos de cristãos ao isolamento e lugares retirados. Os vales entre as montanhas do Piemonte foi um desses lugares de refúgio.
Durante os Séculos IV e V, levantaram-se reformadores, que ergueram suas vozes contra os males que eram aceitos na igreja, e clamavam em defesa da genuína fé cristã.
OS DONATISTAS
Donato, ordenado bispo em 313, tornou-se o grande representante do movimento denominado donatistas. Levou a causa deles com grande zelo e habilidade. Seu sucesso entre o povo comum era muito grande. A principal plataforma do movimento era: Eles combatiam veementemente a união da igreja com o império, a interferência do império em assuntos de fé, e a imposição por força imperial aos cristãos as decisões dos Concílios. A controvérsia estendeu-se por todo o século IV e chegou ao auge quando Agostinho entra na batalha contra os donatistas.
"A princípio" diz o historiador Hurst," Agostinho usou medidas mansas para fazê-los voltar à igreja, mas este método teve pouco sucesso. Enquanto alguns retornaram, a grande maioria recusou persistentemente voltarem à igreja novamente.
"O Sínodo de Cartago, 405 d. C. apelou para o imperador Honório a força-los a submissão. Ele os oprimiu tão fortemente quanto Constantino o havia feito, e então os convocou para defender suas teses em uma Polêmica Pública. Este debate com os donatistas ocorreu em Cartago no ano 411.
"Os donatistas foram representados com aproximadamente o mesmo número dos ortodoxos: 286 ortodoxos; 279 donatistas. O representante imperial decidiu contra os donatistas. Em 416 d. C. o imperador declara que todos que atendessem aos seus serviços o fariam com penalidade de morte. Uma pacificação foi alcançada com a invasão do norte da África pelos vândalos.
"Mas com o passar do tempo os donatistas fracassaram no seu objetivo principal. É seguro afirmar que a fonte da separação do movimento donatista era sua visão mais firme da pureza que deve caracterizar os cristãos. " Hurst.
Apesar do movimento donatista ter iniciado com uma mescla de princípios religiosos e políticos, no final de uma longa controvérsia de 200 anos, um grupo remanescente dos donatistas é mencionado por Mosheiam, em sua História Eclesiástica, denominado de Montanheses. Eles viviam isolados em montanhas, viviam do trabalho árduo do campo, e adoravam a Deus na simplicidade da fé cristã.
NESTÓRIO
"Nestório, primeiramente um monge e então um presbítero de Antioquia, pela força de sua ardente eloquência tornou-se, no ano 429, Patriarca de Constantinopla. Ele via o perigo do arianismo, e preparou-se com toda a força de seus talentos e posição contra seus defensores.
"Nestório foi atraído em direção a Pelágio devido a ênfase que o livre arbítrio ocupava em sua teologia. O termo "mãe de Deus" que havia sido freqüentemente aplicado a virgem Maria pela Escola de Alexandria, e por tais mestres como Orígenes, Atanásio, Basil e outros, lhe era ofensivo, sob o fundamento que Maria podia ter dado à luz à Cristo mas não à Divindade. E Nestório se opôs a essa ideia com grande veemência.
"Depois de várias batalhas e concílios onde suas ideias foram condenadas, e abandonado por aqueles que antes o haviam apoiado, o representante da Escola de Antioquia ficou desamparado. Ele foi banido e morreu na obscuridade.
"As Opiniões de Nestório:
"Há Três Pessoas na Divindade, e uma divina essência. Cristo possuía duas naturezas, a divina e a humana. O termo mãe de Cristo era o termo melhor do que mãe de Deus, pois este termo, mãe de Cristo, expressa a Divindade do Filho de Deus. " Hurst.
ERIUS - UM REFORMADOR DA ARMÊNIA
"No Século IV, Erius, um monge presbítero forma um novo movimento. Suas ideias foram espalhadas "diz o historiador Mosheim, "através da Armênia, Pontos e Capadócia. Sua principal doutrina era que os bispos não distinguem-se dos presbíteros por qualquer direito devido, e que de acordo com a instituição do Novo Testamento, seus ofícios e autoridade são as mesmas.
"Esta ideia, sabemos com certeza era altamente acalentada por muitos bons cristãos que não mais suportavam a tirania e arrogância dos bispos do Século IV. Havia outras coisas que Erius diferia das ideias de seu tempo: Ele condenava as orações pelos mortos, os jejuns estipulados pela igreja, a celebração pomposa da festa da Páscoa.
"Seu grande objetivo era levar o cristianismo à sua primitiva piedade; um propósito nobre e louvável. " Mosheim
JOVINIANO
"O avanço da superstição no Século IV, e as ideias errôneas que prevaleciam concernente à verdadeira natureza da religião, estimularam o zelo e os esforços de muitos para opor-se a corrente. Mas seus labores apenas os expuseram à infâmia e menosprezo.
"Destes dignos opositores das superstições reinantes o mais notável foi Joviniano. Um monge italiano que próximo do fim do Século IV, ensinou primeiro em Roma e posteriormente em Milão que:
"Todos aqueles que mantinham os votos que haviam feito com Cristo no batismo e viviam de acordo com as regras da piedade e virtude estabelecidas no evangelho, estavam intitulados para a recompensa futura;
"e que, consequentemente, aqueles que passavam seus dias em celibato, severas mortificações e jejuns, não eram, em virtude disto, mais aceitáveis aos olhos de Deus do que aqueles que viviam virtuosamente na aliança matrimonial, e nutriam seu corpo com moderação e temperança.
"Estas prudentes e piedosas opiniões que muitos começavam a adotar, foram primeiramente condenadas pela igreja de Roma, e posteriormente por Ambrósio, em um Concílio efetuado em Milão no ano 395.
"O imperador Honório endossou o procedimento autoritário dos bispos pela violência da arma secular, respondendo aos prudentes argumentos de Joviniano pelo terror de coercivas leis penais, e baniu o prelado para a ilha de Boa.
"Joviniano publicou suas opiniões em um livro. Jerônimo no início do Século V, escreveu um abusivo e irado tratado, tentando defender o costume da igreja e combatendo as ideias de Joviniano. " Mosheim, em sua História Eclesiástica.
VIGILANTES - Um Reformador
"Um pequeno número de eclesiásticos, animados pelo louvável espírito de Reforma, resolutamente procuraram arrancar as raízes desta superstição crescente, para levar a multidão iludida a retroceder desta disciplina vã, para a prática da sólida e genuína piedade. Mas os adeptos da superstição eram superiores em número e autoridade, e logo os reduziram ao silêncio, e tornaram esses nobres e piedosos esforços totalmente ineficazes.
"Temos um exemplo disto no caso de Vigilantes, um homem extraordinário por seu conhecimento e eloquência, que nasceu na Gaulia, transferindo-se depois para a Espanha, onde ele exercia a função de presbítero. Este eclesiástico retornando de uma viagem que havia feito à Palestina e Egito, começou, por volta do início do Século V , a propagar algumas doutrinas e a publicar repetidas exortações totalmente opostos as opiniões e costumes dos tempos.
AS OPINIÕES DE VIGILANTES:
". Negava qualquer veneração ao túmulo dos mártires e relíquias; censurava as peregrinações aos santos; menosprezava como ridículo os propalados milagres que se dizia estarem sendo efetuados pelos santos e relíquias; condenava o costume de realizar vigílias nesses templos; afirmava que o costume de queimar velas era oriundo do paganismo; pregava que orações dirigidas aos santos mortos eram destituídas de eficácia. Tratava com desdém, jejuns, mortificações, celibato do clero e vida monástica; afirmava que melhor é fazer doações do que enviar ofertas a Jerusalém.
"Havia entre os bispos da Gaulia e Espanha, alguns que apreciavam as opiniões de Vigilantes. Mas Jerônimo, o grande monge do Século, combateu este resoluto Reformador da religião com muita ira e fúria. Este projeto de remover a superstição foi sufocado em seu nascimento. E bom nome de Vigilantes permanece na lista dos hereges, e tido como herege por aqueles que sem qualquer compreensão dos fatos históricos e do ensino das Escrituras, cegamente seguem as decisões da tradição da antiguidade. " Mosheim - História Eclesiástica.
PELÁGIO E AGOSTINHO - a batalha sobre o Livre Arbítrio
No Século V foi palco de uma das maiores batalhas teológicas da História Eclesiástica. O tema: O Livre Arbítrio e a Graça Divina. Seus defensores: Agostinho, que defendia a tese - a irresistível graça divina a operar no coração dos eleitos, de um lado, e Pelágio de outro lado, que defendia a tese - que o homem retém o livre arbítrio para escolher aceitar a graça a graça divina ou não.
O veredicto da maioria dos historiadores tem enaltecido a posição de Agostinho nessa questão, atribuindo a Pelágio alguns erros com relação a natureza corrupta do homem depois da queda. No entanto, como aconteceu com muitos outros Reformadores no curso da História, as frases de Pelágio foram mal interpretadas, e colocadas na luz que seus oponentes queriam que estivessem, e não na luz que Pelágio as estava expressando.
Em síntese, o âmago do debate era o seguinte: A graça divina operando no coração daquele que é eleito, predestinado, pregava Agostinho, o impele irresistivelmente a aceitá-la, e viver em harmonia com ela. Com isto, Agostinho estabeleceu o fundamento da teoria da predestinação, que influenciou e foi aceita em maior ou menor grau, por muitos teólogos, instituições monásticas e eloquentes pregadores durante os séculos subsequentes.
Por outro lado, Pelágio defendia que: O homem tem a faculdade do livre arbítrio para escolher aceitar ou não a graça divina operando em seu coração. Ao defender isto Pelágio estava ecoando um princípio muito claro na Bíblia: “Hoje se ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações. "Hb. 6:15. "Escolhei hoje a quem sirvais"( Js. 24:15 ), foi o apelo de Josué ao povo de Israel. "Vinde e arrazoemos, diz o Senhor. . . Se quiserdes, e Me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados a espada; porque a boca do Senhor o disse. "Is. 1:18-20 ). "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e, cearei com ele e ele comigo. "Apc. 3:20.
Embora Agostinho seja honrado em toda a esfera católica e boa parte do mundo protestante, como um teólogo confiável, surgiram vozes no próprio seio da igreja romana que contestaram sua teologia sobre a predestinação. Mas é inegável que a influência do teólogo Agostinha moldou a visão de milhões no assunto da graça e salvação. Milman, grande historiador dos Estados Unidos no Século XIX, comenta o seguinte sobre Agostinho e sua influência: “No seu livro a Cidade de Deus, Agostinho estabeleceu as bases para o primado do Bispo de Roma acima de todos os outros bispos; outrossim ele defendeu os métodos de coerção civil usados pelo império para abafar o movimento donatista, estabelecendo assim as bases para a doutrina da inquisição postas em ação a partir do século XII; de suas obras, teólogos da igreja extraíram argumentos e princípios para defender alguns dogmas que foram impostos pela igreja nos séculos que se seguiram.
O TESTEMUNHO DE SMITH E WACE, SOBRE PELÁGIO:
"É duvidoso que Pelágio intentava inteiramente negar a graça em seu sentido mais profundo como uma agência interna. Pelágio condenou todos que diziam que a graça de Cristo não era necessário, não somente cada hora e cada momento, mas em cada ato. Juliano ( bispo de Eclanum, na Apulia, o discípulo de Pelágio que habilmente refutou Agostinho) descrevia a operação da graça como santificadora, estimulante, iluminadora do coração. Esta linguagem implica mais do que uma graça criativa. Fala da graça auxiliando a natureza humana, influenciando não apenas as faculdades intelectual para instrução e iluminação, mas também a vontade e a afeição mediante estímulo e afeição. " Citado por Hurst.
O TESTEMUNHO DE WESLEY SOBRE PELÁGIO:
"Eu francamente creio que a real heresia de Pelágio foi mais ou menos esta: Sustentar que os cristãos podem, pela graça de Deus, e não sem ela, avançar para a perfeição; ou em outras palavras "cumprir a lei de Cristo. "
"Quem foi Pelágio? Por tudo o que pude colher de autores antigos, eu creio que ele foi tanto um homem sábio e santo. Mas nada conhecemos exceto seu nome, pois seus escritos foram todos destruídos e nenhuma linha deles foi deixado. " Citado por Hurst.