Mesmo nesse longo período de trevas que pairou sobre o mundo cristão, sobreviveu, tanto no oriente como no ocidente, fiéis testemunhas de Deus e de sua verdade. Tornaram-se luz em meio às trevas. Com os ensinos da Bíblia ardendo em seus corações, corajosamente avançaram dentro de regiões distantes e iluminaram a muitos, fundaram igrejas, formaram missionários que defendiam o claro ensino de Cristo nas Escrituras e não as vãs tradições e superstições introduzidas pela igreja romana. Destaque especial é dado a obra de Columba e os labores dos missionários formados na escola teológica de Iona. Um remanescente fiel também existia na África Central e entre os armênios na Ásia.
E. G. White comenta:
"Foi tática de Roma obliterar todo vestígio de dissidência de suas doutrinas ou decretos. Tudo que fosse herético, quer pessoas, quer escritos, procurava ela destruir. . .
Nenhuma igreja dentro dos limites da jurisdição romana ficou muito tempo sem ser perturbada no gozo da liberdade de consciência. Mal o papado obtivera poder, estendeu os braços para esmagar a todos os que se recusassem a reconhecer-lhe o domínio; e, uma após outra, submeteram-se ao seu governo.
Na Grã-Bretanha o primitivo cristianismo muito cedo deitou raízes. O evangelho, recebido pelos bretões, nos primeiros séculos, não se achava então corrompido pela apostasia romana. A perseguição dos imperadores pagãos, que se estendeu até mesmo àquelas praias distantes, foi a única dádiva que a primeira igreja da Bretanha recebeu de Roma. Muitos dos cristãos, fugindo da perseguição na Inglaterra, encontraram refúgio na Escócia; daí a verdade foi levada à Irlanda, sendo em todos estes países recebida com alegria.
Quando os saxões invadiram a Bretanha, o paganismo conseguiu predomínio. Os conquistadores desdenharam ser instruídos por seus escravos, e os cristãos foram obrigados a retirar-se para as montanhas e agrestes. Não obstante, a luz por algum tempo oculta continuou a arder. Na Escócia, um século mais tarde, brilhou ela com um fulgor que se estendeu a mui longínquas terras. Da Irlanda vieram o piedoso Columba e seus colaboradores, os quais, reunindo em torno de si os crentes dispersos da solitária ilha de Iona, fizeram desta o centro de seus trabalhos missionários. Entre estes evangelistas encontrava-se um observador do sábado bíblico, e assim esta verdade foi introduzida entre o povo. Estabeleceu-se uma escola em Iona, da qual saíram missionários, não somente para a Escócia e Inglaterra, mas para a Alemanha, Suíça e mesmo para a Itália. . .
Em terras que ficavam além da jurisdição de Roma, existiram por muitos séculos corporações de cristãos que permaneceram quase que inteiramente livres da corrupção papal. Estavam rodeados de pagãos e, no transcorrer dos séculos, foram afetados por seus erros; mas continuaram a considerar a Escritura Sagrada como a única regra de fé, aceitando muitas de suas verdades. Estes cristãos acreditavam na perpetuidade da lei de Deus e observavam o sábado do quarto mandamento. Igrejas que se mantinham nesta fé e prática, existiram na África Central e entre os armênios, na Ásia. " E. G. White, O Grande Conflito, págs 58-60
Mas entre os arautos da verdade nesse período tão obscuro, os valdenses destacam-se de maneira especial. São intitulados a igreja no deserto; a depositária dos tesouros da verdade; como testemunhas da verdade que mantiveram a antiga fé durante mil anos. E. G. White comenta:
"Mas dentre os que resistiram ao cerco cada vez mais apertado do poder papal, os valdenses ocupam posição preeminente. A falsidade e corrupção papal encontraram a mais decidida resistência na própria terra em que o papa fixara a sede. Durante séculos as igrejas do Piemonte mantiveram-se independentes. . .
A fé que durante muitos séculos fora mantida e ensinada pelos cristãos valdenses, estava em assinalado contraste com as falsas doutrinas que Roma apresentava. Sua crença religiosa baseava-se na Palavra escrita de Deus - o verdadeiro documento do cristianismo. Mas aqueles humildes camponeses, em seu obscuro retiro, excluídos do mundo e presos à labuta diária entre rebanhos e vinhedos, não haviam por si sós chegado à verdade em oposição aos dogmas e heresias da igreja apóstata. A fé que professavam não era nova. Sua crença religiosa era a herança de seus pais. Lutavam pela fé da igreja apostólica - "a fé que uma vez foi dada aos santos. "Judas 3. "A igreja no deserto"e não a orgulhosa hierarquia entronizada na grande capital do mundo, era a verdadeira igreja de Cristo, a depositária dos tesouros da verdade que Deus confiara a Seu povo para ser dada ao mundo. . .
Por trás dos elevados baluartes das montanhas - em todos os tempos refúgio dos perseguidos e oprimidos - os valdenses encontraram esconderijo. Ali, conservou-se a luz da verdade a arder por entre as trevas da Idade Média. Ali, durante mil anos, testemunhas da verdade mantiveram a antiga fé. " E. G. White, O Grande Conflito, págs. 60-62