Antes que a Sé Romana insistisse em submeter a região do Piemonte, as igrejas ali mantiveram-se independentes durante séculos. Estes séculos de tranqüilidade e certo sossego fundamentaram a verdade no coração dos crentes valdenses, propiciaram um ambiente para o trabalho dos pastores e o cultivo daquelas virtudes que caracterizam a igreja como depositária da verdade. Alguns historiadores descrevem e analisam esse período:
*Nos distritos montanhosos as pessoas se apegam por mais longo tempo os costumes antigos. Froom, um historiador adventista, comenta:
A Província do Piemonte é assim chamada porque está situada ao pé das montanhas - os Alpes que separam a Itália da França. As planícies do Piemonte estão repletas de cidades e vilas. E atrás delas está uma cadeia de montanhas de grande majestade, com picos cobertos de neve, e montanhas de pedra onde correm cachoeiras.
Foi aqui que Deus achou oportuno preparar um lugar para a igreja que seria perseguida durante a grande tribulação. Aqui a igreja evangélica da Itália manteve sua independência de Roma, e onde a tocha da verdade continuou a iluminar na longa noite que pairou sobre a cristandade.
Nos distritos montanhosos as pessoas se apegam por mais longo tempo aos antigos costumes e fé, e são menos afetados pelas mudanças que ocorrem que ocorrem no mundo que os cercam. Assim esse recanto isolado nos Alpes formou um refúgio no qual no qual a fé pôde ser preservada. Ao mesmo tempo sua localização central oferecia acesso tanto do norte e sul, oriente e ocidente. A terra de Canaã oferecia as mesmas vantagens geográficas.
*Durante as invasões das tribos bárbaras à Itália, nos séculos V, VI e VII, o vale do Piemonte foi poupado pela providência divina. George Faber comenta:
- Com tremenda rapidez, o dilúvio das invasões bárbaras inundaram todo o império Romano Ocidental. Um período de dois séculos se desenrola, quando torrentes migratórias de muitos povos começaram a entrar em Províncias de comparativa tranqüilidade. Mas o refúgio dos Alpes dos primitivos cristãos ergueu sua cabeça acima do dilúvio, e preservou seu sagrado depósito - os cristãos valdenses.
Onde quer que as nações góticas se precipitassem sobre a Itália, sua marcha invariavelmente cruzava ou os Alpes Rhatian ou os Alpes Julian. Não pude encontrar nenhuma evidência, que os Alpes Cotian estiveram sob a esfera das suas marchas.
Sob a Providência divina, a localidade peculiar destas montanhas as tornaram isoladas. E assim, em meio de tormentas, os valdenses estavam seguros dentro de suas casas, como que seqüestrados dentro de seu refúgio.
Finalmente os dez reinos foram estabelecidos pelas principais tribos góticas. E como comenta um historiador, - as nações vitoriosas da Alemanha estabeleceram um novo sistema de costumes e governo nos países ocidentais da Europa. Quando a revolução foi completada, ouvimos que miraculosamente a igreja foi preservada no deserto. -
* A retidão moral de suas vidas e comportamento preservou os valdenses de perseguições mais duras entre os Séculos VI, VII, VIII, IX, X, XI. William Beattie, historiador valdense, ano 1838, comenta:
- Como um povo distinto, os valdenses se tornaram primeiramente conhecidos na história no início do Século IX, durante a vida de Cláudio, bispo de Torino - o Wicleff de seus dias, e um fervoroso advogado do cristianismo primitivo.
Entretanto, pela tradição passada cuidadosamente através de uma linhagem antiga de ancestrais, - eles traçam sua origem desde o início do evangelho, e professam manter as mesmas doutrinas que eles receberam dos apóstolos. Paulo e Tiago filho de Alfeu são apresentados como tendo levado as primeiras mensagens das boas novas da salvação nestes vales. Os vales do Piemonte achavam-se durante estes séculos VI, VII, VIII sob a jurisdição da diocese de Torino. Os valdenses, levando uma vida tranqüila, exemplar e simples nos seus afastados vales entre as montanhas, não haviam ainda despertado a suspeita da igreja romana.
Até ao Século IX, de modo especial nas regiões afastadas de Roma, muito do espírito original do cristianismo perdurava nas mentes de uma parte dos cristãos. Mas gradualmente isto foi minado e inovações penetraram - altares rivais foram estabelecidos sob a aprovação papal, e a adoração da Divindade, Pai, Filho e Espírito Santo foi poluída pela introdução de imagens, para as quais oblações eram oferecidas, e dias apontados para serem guardados como dias santos.
Assim, o que enriquecia a igreja em uma perspectiva material destruía a pureza do evangelho - impulsionando o rebanho para peregrinações; estabelecia muitas penitências como oferta pelo pecado; derribou os altares erguidos pelos apóstolos; e substituiu o único intercessor entre Deus e os homens pela introdução de uma multidão de divindades.
Durante a geral onda de corrupção, no entanto, os valdenses permaneceram firmes. Fortalecidos pelo exemplo de seus excelentes pastores, sob cuja jurisdição espiritual eles desfrutavam as bênçãos de uma fé sadia; mantiveram-se inabaláveis pela força do exemplo, nem foram enganados pelas seduções daqueles que advogavam um novo e imponente ritual.
Eles consideravam a adoração de imagens e as ofertas apresentadas às relíquias dos santos, não somente como desviando as mentes do sagrado canal de devoção, mas também como um insulto contra a razão, uma degradação do culto cristão e em oposição direta aos seus princípios.
Suas regras de vida e doutrina eram tiradas das Escrituras, e, por este estandarte infalível suas opiniões religiosas eram moldadas e exemplificadas na prática.
Embora suficientemente diferentes em suas vidas, conversação e prática religiosa para serem tidos como suspeitos de não aceitarem as orientações e doutrinas da igreja; contudo, a pureza que tão notavelmente resplandecia de suas vidas, seu caráter pacífico, e a integridade moral de que eram distinguidos, ainda os escudavam da perseguição, e mesmo engrandecia os valdenses junto aqueles que entravam em contato com eles.
Assim, inculcando paz e boa vontade e vivendo na obscuridade para serem tidos como objetos de ressentimentos políticos, eles tornaram-se os fiéis depositários da sagrada verdade, que um dia haveria de criar profundas raízes no solo, e convidar nações para participar de seus frutos.
Nesse meio tempo, foi sancionado as inovações de um concílio anterior. A adoração de imagens foi reconhecida, e em um concílio convocado pelo papa Adriano em Nice no ano 792 d. C a igreja romana se distanciava ainda mais dos ensinos da Bíblia. Pompa, cerimônias e festas religiosas foram multiplicados. Novos santos eram acrescentados ao calendário; cidades, igrejas e comunidades recebiam nomes de santos e eram dedicados para serem protegidos por eles. A simplicidade da primitiva adoração havia-se degenerado em cerimônias exteriores pomposas.
E na proporção que a corrupção invadia a igreja romana, os aspectos diferentes do princípios de fé dos valdenses tornavam-se mais evidentes. Como uma lâmpada torna-se brilhante em meio à escuridão, o resplendor do exemplo dos valdenses tornava-se mais e mais visível e era cada vez mais sentido. Mas, embora isto era evidente a todos que entravam em contato com os valdenses, não foi ainda razão para destruir a paz deles. A influência de retidão moral, a íntegra observância àqueles preceitos que chegaram a eles provenientes dos primeiros pregadores do cristianismo, demonstrou-se para eles uma salvaguarda.
Assim, embora não isentos de provas, os vales por um longo período eram um cenário de comparativa tranqüilidade. Seus barbes ( pastores ) ou professores teológicos, treinavam seus jovens no conhecimento das Escrituras, e estenderam suas colônias em numerosas ramificações na Itália e países vizinhos.
* Faber afirma que os valdenses até ao final do século XI, estiveram sujeitos a vários tipos de perseguições mais brandas:
- Com respeito às perseguições sofridas pelos piamonteses vaudois anterior ao Século XII, conhecemos pouco. A longa reclusão nas fortalezas dos Alpes, assemelhava-se à mulher que fugiu para o deserto no Apocalipse, a quem seus descendentes foram comparados. Deus lhes preparou um lugar no deserto para serem alimentados tanto espiritual com temporal, armazenando muito conhecimento.
Mas da linguagem de Claudius, de Atto, de Damiciano e de Rodolfo de Tindon, está claro que eles eram tidos com desprezo e como heréticos inveterados. E um verso do poema Nobre Lição mostra que embora no final do Século XI eles ainda não haviam sido provados para selar sua fé com sangue - contudo estiveram expostos a perseguições menores como de roubo, pilhagem, fraudulentas calúnias, que os empobreceram e os privaram de legalmente obter sua sobrevivência. A espécie de provações aqui mencionadas é outra evidência interna que o poema A Nobre Lição foi escrito no ano 1100.
Tivesse esse poema sido escrito depois daquele tempo, quando Pedro Valdo começou seu ministério, perseguições de caráter mais violento teriam sido mencionadas. Contudo nenhuma perseguição dessa espécie é mencionado na Nobre Lição. Pelo contrário são descritas apenas prisão e perda de propriedades, não porém torturas e perda de vida.
Portanto, não hesito em subscrever a opinião de Raynonard com relação a data da Nobre Lição - "La date de l'an 1100, que lemos no poema, merece inteira confiança. -
* Nos Vales do Piemonte, a sarça da verdade ardia e não era consumida. Faber comenta:
- Nos Vales dos Alpes, pelos cristãos valdenses, a antiga fé do cristianismo foi preservada, através de todos os séculos da Idade Escura das inovações supersticiosas, - foi preservada incontaminada e pura. "Eis que a sarça ardia e não era consumida. " O Anjo do Senhor estava ali e os braços do Poderoso Deus de Jacó era sua proteção. Portanto, o homem do pecado, o filho da perdição não podia destruí-la, e os inimigos foram incapazes de desarraigá-la pela violência. -
* Os Vales do Piemonte - a terra de Gosen dos Valdenses. Boyler comenta:
- Não podemos encontrar nas Histórias Eclesiásticas que os Vaudois, ou cristãos dos Vales do Piemonte, foram perseguidos sob os reinados de Nero, Domitiano ou qualquer outro dos imperadores pagãos, que tão cruelmente perseguiram os cristãos.
É provável, entretanto, que durante estas cruéis perseguições, muitos fiéis cristãos se refugiaram para estes vales para escapar da perseguição, e para fugir das mãos sanguinárias dos cruéis assassinos.
Como vimos na França durante a última perseguição, quando muitos cristãos da igreja Reformada fugiram para os bosques e montanhas, e se esconderam nas cavernas e rochas para escapar das mãos dos cruéis e impiedosos dragões, e para evitar, mediante a fuga, o perigo de renunciar sua fé; assim, a igreja é representada pela mulher mencionada em Apocalipse 12;6, fugindo para o deserto para escapar da fúria do dragão. E não há um deserto mais terrível do que as montanhas dos Alpes, que são cobertas com neve oito ou nove meses do ano, no meio dos quais acham-se os vales do Piemonte.
É mencionado que no deserto a mulher teve um lugar preparado por Deus para ela, onde pudesse ser alimentada por mil duzentos e cinqüenta dias ( dias proféticos, ver Ez. 4:7 ). Os Vales do Piemonte foi o lugar que Deus preparou para salvaguardar Sua igreja - pois a verdadeira igreja sempre esteve ali desde os tempos dos apóstolos até os nossos dias (Século XVII) sem nenhuma interrupção ou falta de sucessão. De formas que enquanto o mundo se maravilhava após a besta, os habitantes destes vales seguiam Jesus Cristo e andava de acordo com a verdade do evangelho.
Os Vales do Piemonte foi a verdadeira terra de Gósen ,que estava iluminado com a luz celestial, enquanto o novo Egito achava-se coberto com uma espessa e palpável escuridão de ignorância e erro. E os valdenses tinham em suas mãos uma brilhante tocha que resplandecia na espessa escuridão com esta inscrição: Lux lucet in Tenebris - Luz Resplandece nas Trevas. -
UMA SUBLIME REFLEXÃO
Em 533-538 d. C, o bispo de Roma foi declarado pelo imperador Justiniano como sendo: O corregedor dos hereges e o Cabeça das igreja. Teve início então a grande tribulação mencionada por Cristo e que duraria 1260 dias proféticos, ou seja 1260 anos literais (Ez. 4:7 ). Durante este período cumpriria plenamente a obra que foi predita em Daniel 7:25; 8:12; 11:36-39: Pisar a pés a verdade, blasfemar do Altíssimo, mudar os tempos e as leis, perseguir os santos do Altíssimo, remover os olhos do povo do sacrifício e intercessão de Cristo, para os sacerdotes e mediação dos santos; colocar a Tradição acima das Escrituras, etc.
Enquanto dogmas, festas,procissões eram promulgados em número crescente a cada geração, os teólogos e professores recorriam cada vez mais às argumentações da lógica, extraídas da filosofia de Aristóteles. As principais ordens monásticas - os beneditinos, os agostinianos, carmelitas e outras, espalhadas em toda a Europa, e infiltrados em todas as camadas da sociedade - eram os braços que sustentavam a influência e o poder desses dogmas na mente do povo.
Enquanto grandes revoluções políticas, sociais e religiosas agitavam o mundo - os valdenses, nos seus vales remotos, em meio as montanhas gigantescas dos Alpes viviam a vida simples do campo, adoravam a Deus na beleza de Sua santidade, e guiavam suas vidas de acordo com os ensinos de Cristo. "Ali, por mil anos testemunhas da verdade mantiveram a antiga fé. " - O Grande Conflite, p. 62.
A contemplação atenta da fé e experiência dos valdenses são como boas novas que vem de longe: Fortalece os ossos; avigora a nossa fé; promove perseverança para suportar provas; convida-nos a não retroceder, pois não há circunstâncias que justifiquem a vacilação com respeito aos princípios da verdade; anima-nos a fortalecer a religião na família e educação dos jovens; é um farol para os pastores, educar, guiar e dirigir para objetivos nobres, as faculdades mentais e espirituais do rebanho, especialmente os jovens; fortalece o povo de Deus a erguer bem alto e manter as cores vivas, a bandeira da verdade presente ( Sl. 60:4 ) que tem a inscrição: Aqui está a perseverança dos santos, aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e tem a fé de Jesus ( Apc. 14:12 ).
A experiência dos valdenses com a Bíblia, faz arder no coração o ardente desejo de maior zelo pela leitura, meditação e assimilação das verdades da Palavra de Deus. Eles seguiram o bom exemplo de Esdras: “Esdras dispôs o seu coração para buscar a lei do Senhor e para a cumprir e para ensinar a Israel os seus estatutos e juízos. " Esdras 7:10.
Na luz que tiveram, e isto por cerca de mil anos, os valdenses cumpriram um dos pilares que identifica a Igreja Remanescente: Foram um povo peculiar. Conservavam bem vivo na mente que os Senhor os havia chamado e escolhido para entrar em um relacionamento de concerto com eles; e os valdenses procuraram manter firme as condições e privilégios do concerto: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a Minha aliança, então sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos. . . vós Me sereis reino de sacerdotes e nação santa. " Ex. 19:5,6.