

Depois da queda de nossos primeiros pais, “Satanás ordenou a seus anjos que fizessem um esforço especial a fim de inculcar a crença da imortalidade inerente do homem; e, tendo induzido o povo a receber este erro, deveriam levá-lo a concluir que o pecador viveria em estado de eterna miséria. Agora o príncipe das trevas, operando por meio de seus agentes, representa a Deus como um tirano vingativo, declarando que Ele mergulha no inferno todos os que Lhe não agradam, e faz com que sempre sintam a Sua ira; e que, enquanto sofrem angústia indizível, e se contorcem nas chamas eternas, Seu Criador para eles olha com satisfação. Assim o príncipe dos demônios reveste com seus próprios atributos ao Criador e Benfeitor da humanidade [...]
“Quão repugnante a todo sentimento de amor e misericórdia, e mesmo ao nosso senso de justiça, é a doutrina de que os ímpios mortos são atormentados com fogo e enxofre num inferno eternamente a arder; que pelos pecados de uma breve vida terrestre sofrerão tortura enquanto Deus existir! Contudo esta doutrina tem sido largamente ensinada, e ainda se acha incorporada em muitos credos da cristandade. Disse ilustrado doutor em teologia: ‘A vista dos tormentos do inferno exaltará para sempre a felicidade dos santos. Quando veem outros que são da mesma natureza e nascidos sob as mesmas circunstâncias, mergulhados em tal desgraça, e eles distinguidos de tal maneira, isto os fará sentir quão felizes são!’ Outro empregou estas palavras: ‘Enquanto o decreto da condenação está sendo eternamente executado sobre os vasos da ira, o fumo de seu tormento estará sempre e sempre a ascender à vista dos vasos de misericórdia, que, em vez de se compadecerem daquelas miseráveis criaturas, dirão: Amém, Aleluia! louvai ao Senhor!’
“Onde, nas páginas da Palavra de Deus, se encontra tal ensino? Perderão os remidos no Céu todo sentimento de piedade e compaixão, e mesmo os sentimentos comuns de humanidade? Devem tais sentimentos ser trocados pela indiferença do estoico, ou a crueldade do selvagem? Não, absolutamente; não é este o ensino do Livro de Deus. Os que apresentaram as opiniões expressas nas citações acima, podem ser homens ilustrados e mesmo sinceros; mas estão iludidos pelos sofismas de Satanás. Este os leva a interpretar mal terminantes expressões das Escrituras, dando à linguagem a coloração de amargura e malignidade que a ele pertence, mas não ao Criador. ‘Vivo Eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva: convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que razão morrereis?’ (Ezequiel 33:1 I).
“Que ganharia Deus se admitíssemos que Ele Se deleita em testemunhar incessantes torturas; que Se alegra com os gemidos, gritos e imprecações das sofredoras criaturas por Ele retidas nas chamas do inferno? Poderão esses hórridos sons ser música aos ouvidos do Amor infinito? Insiste-se em que a inflição de intérmina miséria aos ímpios mostraria o ódio de Deus ao pecado, como a um mal ruinoso à paz e à ordem do Universo. Oh, terrível blasfêmia! Como se o ódio de Deus ao pecado seja a razão por que este se perpetua. Pois, segundo os ensinos desses teólogos, a contínua tortura, sem esperança de misericórdia, enlouquece suas infelizes vítimas, e, ao derramarem elas sua cólera em maldição e blasfêmias, estão para sempre aumentando sua carga de crimes. A glória de Deus não é encarecida, perpetuando-se desta maneira o pecado, em constante aumento, através de eras intérminas.
“Está além do poder do espírito humano avaliar o mal que tem sido feito pela heresia do tormento eterno. A religião da Bíblia, repleta de amor e bondade, e abundante de misericórdia, é obscurecida pela superstição, e revestida de terror. Ao considerarmos em que cores Satanás esboçou o caráter de Deus, surpreender-nos-emos de que nosso misericordioso Criador seja receado, temido e mesmo odiado? As opiniões aterrorizadoras acerca de Deus, que pelos ensinos do púlpito são espalhadas pelo mundo, têm feito milhares, e mesmo milhões de céticos e incrédulos.
“A teoria do tormento eterno é uma das falsas doutrinas que constituem o vinho das abominações de Babilônia, do qual ela faz todas as nações beberem. Apocalipse 14:8; 17:2. Que ministros de Cristo hajam aceito esta heresia e a tenham proclamado do púlpito sagrado, é na verdade um mistério. Eles a receberam de Roma, assim como receberam o falso sábado. É verdade que tem sido ensinada por homens eminentes e piedosos; mas a luz sobre tal assunto não lhes chegou como a nós. Eram responsáveis apenas pela luz que resplandecia em seu tempo; nós o somos pela que brilha em nossa era. Se nos desviamos do testemunho da Palavra de Deus, aceitando falsas doutrinas porque nossos pais as ensinaram, caímos sob a condenação pronunciada sobre Babilônia; estamos a beber do vinho de suas abominações”. O Conflito dos Séculos, págs. 533-536, E. G. White.
Para que o prezado leitor possa melhor avaliar a repugnância da herética e antibíblica doutrina do tormento eterno, citamos a seguir um trecho de um livro para crianças, intitulado “A Cena do Inferno”, publicado em Dublin, Irlanda:
“Criancinha, se fores ao inferno, haverá um diabo ao teu lado, para te bater. Ele continuará batendo-te dia após dia, para todo o sempre, sem nunca parar. A primeira pancada tornará teu corpo tão ruim como o de Jó, coberto da cabeça aos pés de feridas e úlceras. A segunda tornará teu corpo duas vezes pior do que o de Jó [...] Como ficará então o teu corpo depois que o diabo o tenha estado batendo a cada momento por centenas de milhões de anos sem parar?”
Pode haver coisa mais pervertedora e mais destruidora da fé e do amor a Deus do que esta mentira calculada a atemorizar as crianças?