

Deus tem um espírito?
“Pois, quem conhece os pensamentos do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus.” 2Co 2.11.
Essa passagem tem sido usada para se tentar negar a personalidade do Espírito Santo. Já comentamos essa passagem, mas observe como o Espírito de profecia usa esse texto para provar que o Espírito Santo é um ser pessoal:
“O Espírito Santo é uma pessoa, pois dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus. Uma vez dado esse testemunho, traz consigo mesmo sua própria evidência. Em tais ocasiões acreditamos e estamos certos de que somos filhos de Deus. [...]
“O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com nosso espírito que somos filhos de Deus. Deve ser também uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus. ‘Por que qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.’ 1Co 2.11.” Ev 616, 617.
O Espírito Santo é o Espírito de Cristo?
“Entretanto, vocês não estão sob o domínio da carne, mas do Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o espírito de Cristo, não pertence a Cristo.” Rm 8.9.
Segundo os que negam a distinção entre Espírito Santo e Cristo Paulo estaria usando os termos “Espírito Santo” e “Espírito de Cristo” de forma intercambiável. Assim, eles concluem que o Espírito Santo é Jesus. Se o raciocínio deles for levado um passo além podemos chegar a outra conclusão equivocada. Se lermos com atenção essa parte do capítulo perceberemos que o autor não cita apenas o Espírito Santo e o Espírito de Cristo de forma intercambiável, mas também o Espírito de Deus. Assim, se o Espírito de Cristo é o Espírito Santo então o Espírito de Deus (referência ao Pai) é o Espírito de Cristo. Portanto, Paulo estaria ensinando que Pai e Filho são a mesma pessoa, da mesma forma que o Espírito Santo é Cristo.
Na primeira parte do capítulo 8 de Romanos (vers. 1-17) Paulo descreve como o crente pode viver a vida cristã de forma plena na medida que se sujeita ao Espírito Santo. Nessa seção, o apóstolo enumera a obra do Espírito na vida do crente: Ele nos liberta do pecado (vers. 2, 9, 10, 13), nos dá uma nova vida (vers. 4), uma nova mente (vers. 5) que produz vida e paz (vers. 6), além de nos garantir a ressurreição (vers. 11) e o sentimento de adoção (vers. 14 a 16). Esse texto revela não só como o Espírito Santo trabalha em nosso favor na vida cristã, mas também de como as outras pessoas da divindade estão envolvidas também.
Quando Paulo usa o termo Espírito de Cristo e Espírito de Deus está revelando a completa unidade da natureza da Trindade, bem como da Sua obra em favor da salvação da humanidade.
“Quando o título ‘Cristo” é aplicado a Jesus, confirma que Ele foi o cumprimento desses três cargos do AT [rei, profeta e sacerdote]. Neste contes, o Espírito de Cristo implica que o Espírito Santo possui também este ministério tríplice do ungido. Trata-se de um ministério profético em que Ele revela a mensagem de Deus para a humanidade (veja 2Pd 1.21); um ministério sacerdotal que oferece um sacrifício aceitável pelo pecado (veja Hb 9.14); e um ministério real em que Ele reina no reino mais amplo de Deus (veja Rm 8.2).
“No NT, a expressão ‘em Cristo’ é geralmente utilizada para descrever a relação entre o cristão e Jesus como de união e comunhão. Este aspecto do significado do título Cristo está igualmente presente não título Espírito de Cristo. A união e a comunhão com Deus gozadas pelos cristãos são possíveis devido à habitação interior do Espírito Santo (veja 1Co 6.19). Isto significa que o Espírito Santo é o membro da trindade com quem os cristãos tendem a se relacionar mais diretamente em sua união e comunhão com Deus.”[i]
Para Walter T. Conner a relação que existe entre o Espírito Santo e Cristo é tão íntima que vai além de um representar ou outro. Ele não foi enviado ao mundo para tomar o lugar de Jesus. Ele explica que
“A vinda do Consolador significaria que Jesus estava para vir a eles (Jo 14.18). Com a vinda do Espírito eles deveriam ter a permanente presença do Pai e de Cristo (Jo 14.23). [...] O Espírito vem, portanto, não para deslocar a Cristo, antes para fazê-lo real. A presença do Espírito significa a presença espiritual de Cristo.
“Paulo, portanto, fala do Espírito de Deus como o Espírito de Cristo, Ele passa do Espírito de Deus ou o Espírito de Cristo permanecendo em nós para a idéia da permanência de Cristo em nós de tal maneira a demonstrar que todas as três expressões sustentam a mesma realidade. Na verdade, o cristão não pode, em sua experiência, separar a permanente presença de Deus, de Cristo e do Espírito uma da outra.”[ii]
O Espírito Santo é o Espírito de Jesus?
“Paulo e seus companheiros viajaram pela região da Frígia e da Galácia, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia. Quando chegaram a fronteira da Mísia, tentaram entrar na Bitínia, mas o espírito de Jesus os impediu.” At 16.6, 7.
O contexto dessa passagem é útil para perceber que longe dela negar a doutrina da trindade, ela a confirma. Lucas termina o relato dizendo que “depois que Paulo teve essa visão, preparando-nos, imediatamente para partir para a Macedônia, concluindo que Deus nos tinha chamado para lhes pegar o evangelho.” (vers. 10). Portanto, o contexto da passagem é trinitariano, pois Lucas cita o Espírito Santo (vers. 6), o Espírito de Jesus (vers. 7) e Deus (vers. 10).
O Espírito Santo é o sopro de Jesus?
“E com isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o Espírito Santo’.” Jo 20.22.
Nesse momento os discípulos receberam o Espírito Santo, ou isso só aconteceu dez dias depois que foi feita essa promessa? Essa promessa é proléptica, ou seja, promessa de que mais tarde os discípulos receberiam o Espírito Santo, Portanto, Jesus está ilustrando a promessa que eles iriam receber ainda.
O Espírito Santo é dado através de Jesus, no sentido de que através de Seu sacrifício Ele tornou possível todas as dádivas divinas ao homem crente. Nesta passagem o Senhor não está falando da pessoa do Conselheiro prometido (Jo cap. 14-16), mas do poder de Deus mediante o qual os discípulos seriam capacitados para realizar a obra de pregar o evangelho no mundo.
F. F. Bruce comenta esse versículo:
“O Espírito é cedido pelo sopro de Jesus. O verbo usado (emphysao) é o mesmo que a LXX usa em Gênesis 2.7, quando Deus, depois de formar o ser humano do pó da terra, ‘lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente’, e também na ordem dada ao Espírito (pneuma), em Ezequiel 37.9: ‘Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam’. Porém, na presente situação a dádiva da vida não está em vista, mas sim a capacitação para o ministério.”[iii]
O Espírito Santo pode ser derramado?
“E, depois disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões. Até sobre os servos e as servas derramarei do meu Espírito naqueles dias.” Jl 2.28, 29.
O argumento de que o Espírito Santo não pode ser uma pessoa por que Deus prometeu “derramá-lo” e isso não pode ser feito com uma pessoa não precede. Se o derramamento do Espírito Santo fosse evidência contra a sua personalidade, então Paulo não poderia ser uma pessoa: “Contudo, mesmo que eu esteja sendo derramado como oferta de bebida” (Fp 2.17). “Eu já estou sendo derramado como uma oferta de bebida.” (2Tm 4.6). Se o apóstolo é uma pessoa e poderia ser “derramado”, dizer que o Espírito Santo não é por que a Bíblia fala o mesmo dEle dificilmente pode ser usado como argumento contra a sua personalidade.
O mesmo pode-se dizer da expressão “encher” quando se refere ao Espírito Santo (Ef 5.18). Satanás também pode encher alguém e nem por isso deixa de ser um ser pessoal. A Bíblia ensina que Satanás, um ser sabidamente pessoal, entrou em Judas (Lc 22.3). Personalidade não é o mesmo que corporalidade.