Assim como os justos, ao morrerem, não vão para o Céu, também os injustos não vão para o tormento quando morrem, mas são reservados no pó da terra para o dia do juízo, para então receberem o castigo merecido: “ [...] sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar os injustos para o dia do juízo, para serem castigados” (2 Pedro 2:9). Se os mortos fossem diretamente para o Céu ou para o inferno, que necessidade teria Deus de marcar um dia para julgá-los? Será que o julgamento dos “mortos” (Apocalipse 20:12) se destina a apurar se estes de fato merecem estar no Céu ou no tormento, onde, segundo a crença popular, devam encontrar-se desde o dia da morte? Será que, depois do juízo, se dirá a alguns dos que devam agora estar no Céu: “Saí deste lugar e ide paia o inferno; vós estais aqui por engano!”?; ou a alguns dos que agora devam estar nas chamas: “Saí deste lugar de tormento e ide para o Céu!”? Se o homem recebe seu galardão na morte, que necessidade há de um juízo na consumação dos séculos? Suponha o leitor amigo o fato de um juiz meter um réu na prisão, por uns dez anos, para depois examinar seu caso, a ver se ele era de fato digno desse castigo. Não é repugnante esta ideia? No entanto, os que se dizem mestres em religião, pretendem que primeiro vem a recompensa para os justos ou o castigo para os ímpios, e depois o juízo.
O julgamento tem por fim averiguar quais, dos que estão reservados nos sepulcros, merecem o Céu e quais o castigo. Antes disso ninguém receberá seu galardão. “Mas pela tua dureza e coração impenitente”, diz Paulo, “entesouras para ti ira no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, que há de retribuir a cada um segundo as suas obras; com a vida eterna, por certo, aos que, perseverando em fazer obras boas, buscam glória, e honra, e imortalidade; mas com ira e indignação aos que são de contenda, e que não se rendem à verdade, mas que obedecem à injustiça” (Romanos 2:5-7 - F). Por aí vemos que antes do “dia do juízo” ninguém receberá sua recompensa, pois como poderiam os injustos ser castigados antes de ser julgados?
Jesus certa vez lançou em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos Seus milagres o não se haverem arrependido, dizendo: “Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidon fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso Eu vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidon, no dia do juízo, do que para vós. E tu, Capernaum, que te ergues até os céus, serás abatida até os infernos; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Porém Eu vos digo que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti” (Mateus 11:21-24). Como pode alguém ler estas passagens e ao mesmo tempo sustentar que os habitantes dessas cidades impenitentes já estejam sofrendo o rigor do castigo desde o dia em que morreram? Porventura Jesus aqui não afirma claramente que esses pecadores só sofrerão o rigor do castigo no dia do juízo?
Quando chegar o dia da execução do juízo sobre “os que fizeram o mal”, terá lugar a “ressurreição da condenação” (João 5:29). Os ímpios mortos permanecem no pó da terra até esse dia. Não vão para o tormento imediatamente em seguida à morte, pois não podem ser castigados antes de ser condenados, e só o serão na “ressurreição da condenação”.