

“Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer na Geena tanto a alma como o corpo” (Mateus 10:28).
Procuram os imortalistas estribar-se nesta passagem para sustentar a doutrina da imortalidade da alma. Dizem que, se alguém pode matar o corpo sem poder matar a alma, é porque esta é imortal. Mas esta passagem, em realidade, não favorece de maneira nenhuma aos imortalistas; antes, pelo contrário, coloca a teoria popular da sobrevivência da alma em dois grandes embaraços. Primeiro: Declara que não só a alma vai para a Geena, mas também o corpo, ao passo que a crença popular diz que somente a alma é ali lançada. Segundo: Declara que não só o corpo perece na Geena, mas também a alma. A alma é portanto perecível.
Na passagem em estudo, “alma” tem o significado de “vida”. Nós temos a promessa da vida eterna, a qual os ímpios não nos podem tirar, ainda que nos matem, pois, desde que permaneçamos fiéis até a morte, ser-nos-á dado participar da “ressurreição da vida” (João 5:29). Neste sentido é que os ímpios não podem matar-nos a alma.
Mas alguém ainda poderá objetar dizendo: “Como é que a alma, se lhe dermos o significado de ‘vida’, pode perecer? Parece não haver sentido em dizer-se que a vida é suscetível de morte”. Em linguagem bíblica, todavia, isto é possível. Exemplos: “ [...] livrareis as nossas vidas da morte” (Josué 2:13). “Mas se alguém aborrece a seu próximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e lhe mata a alma (“nefech”), e se acolhe a alguma destas cidades..” (Deuteronômio 19:11 - tradução literal). “Aproximou-se a sua alma à corrupção, e a sua vida ao que traz a morte” (Jó 33:22). Biblicamente, coisas abstratas, como, por exemplo, a vida ou a morte, podem ser personificadas, isto é, tratadas como se fossem pessoas ou objetos tangíveis. A “vida” pode “passar pela espada” (Já 33:18), e “a morte” pode ser lançada “no lago de fogo” (Apocalipse 20:14), etc.