

Lamentável aspecto da experiência de Salomão foi sua suposição de que edifícios imponentes e magníficos mobiliário caracterizassem a obra de Deus. Esforçava-se por imitar o mundo e com ele competir. Perdeu de vista o princípio fundamental subjacente à influência que sempre deve exercida pelo povo de Deus — obediência a todo preceito da Sagrada Escritura. O real poder de Deus não consiste em números nem na riqueza e prosperidade mundana que se ostentem, mas em firme adesão a Sua palavra. A verdade obedecida torna-se o poder de Deus para salvação. Salomão teve a ambição de exceder a todas as outras nações em poder e grandeza. Foi seu desejo alcançar maior poder político, que o levou a formar alianças com nações idólatras, e selar essas alianças por meio de casamentos com princesas pagãs. Em conformidade com os costumes de nações circunvizinhas, manteve luxuosa corte em muitos aspectos sobrepujando em esplendor as cortes dos governantes de outros reinos. O luxo foi seguido de libertina extravagância. Vastas riquezas eram desperdiçadas e isso resultou em cobrança de pesados impostos aos pobres.
"Fiz para mim obras magníficas", declara Salomão (Eclesiastes 2:4). Entre estas estavam "os terraços de apoio, o muro de Jerusalém, como também a Hazor, a Megido e a Gezer." 1 Reis 9:15. "Também edificou a Tadmor no deserto, e a todas as cidades-armazéns em Hamate. Edificou também a alta Bete-Horom, e a baixa Bete-Horom, cidades fortificadas com muros, portas e ferrolhos; como também a Baalate, e todas as cidades-armazéns que Salomão tinha, e todas as cidades para os carros, e as cidades para os cavaleiros, e tudo o que, conforme o seu desejo, quis edificar em Jerusalém, no Líbano e em toda a terra do seu domínio." 2 Crônicas 8:4-6.
Tão envolvido estava Salomão por pensamentos de vaidades, que a perfeição e beleza do caráter foram passados por alto em sua tentativa de suplantar outras nações em ostentação exterior. Vendeu sua honra e sua integridade procurando glorificar a si mesmo perante o mundo, e finalmente se tornou um déspota. O poder e as riquezas obtidos com sacrifícios de retos princípios se constituíram para ele terrível maldição.
Quão assinalado é o contraste entre os ambiciosos desejos de Salomão de exaltar-se e a vida que o Filho de Deus viveu nesta Terra! O Salvador da humanidade nasceu de pais humildes num mundo ímpio e amaldiçoado pelo pecado. Foi criado obscuramente em Nazaré, pequena cidade da Galiléia. Começou Sua obra em pobreza e sem posição social no mundo. Não buscou a admiração ou o aplauso do mundo. Habitou entre os humildes. Segundo todas as aparências, era simples homem humilde, e tinha poucos amigos. Assim Deus apresentou o Evangelho de maneira em tudo diferente daquela que muitos julgam sábia, de proclamar o mesmo Evangelho nesta época.
Logo no início da dispensação evangélica ensinou Sua Igreja a confiar, não em posição mundana e esplendor, mas no poder da fé e obediência.
"O reino de Deus não vem com aparência exterior." Lucas 17:20 (VR). O Evangelho da graça de Deus, com seu espírito de abnegação, jamais pode estar em harmonia com o espírito do mundo. Os dois princípios são antagônicos. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, pois lhe parecem loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." 1 Coríntios 2:14.
Não é o porte ou a grandeza de um edifício que impressiona os corações, mas os princípios de retidão, e de justiça e eqüidade nele praticados. Nossas instituições caracterizarão a obra de Deus exatamente conforme a devoção e consagração dos obreiros, revelando o poder da graça de Cristo, de transformar a vida. Jamais devemos confiar na posição e no reconhecimento mundanos. Jamais devemos, no estabelecimento de instituições, procurar competir com instituições mundanas em tamanho ou esplendor. Alcançaremos a vitória, não erigindo imponentes edifícios que rivalizam com nossos inimigos, mas alimentando espírito cristão de mansidão e humildade. Cumpre-nos ser distintos do mundo porque Deus colocou Seu selo sobre nós, porque manifesta em nós Seu próprio caráter de amor. Nosso Redentor cobre-nos com Sua justiça.
À medida que Salomão continuava a conformar-se com os costumes do mundo, seu orgulho aumentou em grande proporção. E a prosperidade mundana que acompanhava sua apostasia era por ele considerada sinal do favor de Deus. Tão plenamente havia cedido às más influências que seu discernimento espiritual ficou quase destruído. Não podia ver as terríveis perdas espirituais sofridas pela nação, por haver ele introduzido no reino abundância do ouro de Ofir e da prata de Társis.
Atualmente existe o mesmo perigo de confundir a prosperidade com o favor do Céu. A prosperidade que com freqüência acompanha por um tempo os que se desviam de um claro "Assim diz o Senhor" para seguir caminho de sua própria escolha, não é garantia de aprovação divina. Os homens podem interpretá-la assim, mas não é sinal de que o Braço divino os esteja fazendo prosperar. Aprendamos todos uma lição da experiência de Salomão. Apesar de sua violação de um claro "Assim diz o Senhor", riquezas e honras mundanas lhe sobrevieram em abundância, e ele parecia ser grandemente abençoado. Isso se harmoniza com a declaração de Jó, de que o ímpio passa seus dias em prosperidade. E o salmista testifica:
"Quanto a mim, os meus pés quase se desviaram; pouco faltou para que escorregassem os meus passos. Pois eu tive inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios. . . . A soberba lhes cinge o pescoço como um colar; vestem-se de violência como de um adorno. Os olhos deles estão inchados de gordura; não têm limite as imaginações do seu coração. Zombam e falam com malícia; na sua arrogância ameaçam com opressão." Salmos 73:2, 6-8.
Como Salomão, os que estimam sua própria sabedoria acima da sabedoria do Senhor, sentirão por certo o triste resultado de seu proceder. Podem por algum tempo aparentemente prosperar, mas sua obra não permanece. O Senhor permite que passem por amargas experiências a fim de que tenham oportunidade de aprender que a verdadeira prosperidade não vem de ostentação exterior, mas somente pela conformidade com Sua vontade e propósito.
O modo de Deus agir é sempre o certo e prudente. Traz sempre honra ao Seu nome. A única segurança humana contra atitudes precipitadas e ambiciosas é manter o coração em harmonia com Jesus Cristo. A sabedoria humana não é digna de confiança. O homem é volúvel, cheio presunção, orgulho e egoísmo. Confiem totalmente no Senhor os obreiros que se empenham no serviço de Deus. Então revelarão estar dispostos a ser conduzidos, não por sabedoria humana, que é tão inútil para apoio como cana quebrada, mas pela sabedoria do Senhor, que disse: "Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não censura, e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com fé, não duvidando." Tiago 1:5, 6.
Companheiro cristão, conserva tua religião pura e imaculada. Interesses mundanos podem tentar-te a ceder em teus princípios, mas "que aproveitaria ao homem ganhar o mundo todo, e perder a sua alma?" Marcos 8:36. A grandeza mundana não equivale à integridade, honestidade, coração puro e nobre e firme propósito de fazer o que é reto. Nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como Aquele que possui o ornamento de um espírito manso e tranqüilo, não atingido pelo falso brilho e ostentação do mundo.