

(Review and Herald, 09/11/1905)
A arca do concerto
Além do véu interior do tabernáculo do deserto, construído no tempo de Moisés, estava o Santo dos Santos, onde se centralizava o serviço simbólico de expiação e intercessão. Nesse compartimento ficava a arca, uma caixa de madeira de acácia, coberta de ouro por dentro e por fora, com uma coroa de ouro ao redor. Foi feita para nela serem colocadas as tábuas de pedra em que Deus mesmo inscrevera os Dez Mandamentos. Por isso foi chamada a arca do testemunho de Deus, ou a arca do concerto, pois os Dez Mandamentos foram a base do concerto feito entre Deus e Israel.
A tampa da arca sagrada chamava-se o propiciatório. Este foi trabalhado de uma sólida peça de ouro e era encimado por querubins de ouro, em pé, um de cada lado. Uma asa de cada anjo se estendia para o alto, enquanto a outra se dobrava sobre o corpo em sinal de reverência e humildade. A posição dos querubins, com o rosto voltado um para o outro e olhando reverentemente para baixo em direção à arca, representa a reverência com que a hoste celestial considera a Lei de Deus, e o interesse da mesma hoste no plano da Redenção. Sobre o propiciatório estava o Shekinah, a manifestação da presença divina; e em meio aos querubins Deus tornava conhecida Sua vontade.
Em toda a época de Moisés e Josué, e dos Juízes e Reis de Israel, a arca do concerto foi considerada símbolo da presença de Deus entre o Seu povo. Foi a arca que guiou as hostes de Israel quando atravessaram o Jordão e entraram na Terra prometida. Circundada de um halo de glória a arca foi levada em volta dos muros de Jericó por sacerdotes trajando as vestes que denotavam seu sagrado ofício. Durante a conquista de Canaã, Gilgal foi o centro de operações da nação judaica e o local de permanência do tabernáculo. Posteriormente, Siló, uma pequena cidade de fácil acesso a todas as tribos, foi escolhida como local mais favorável para tabernáculo da congregação.
A arca permaneceu em Siló por trezentos anos até que, por causa dos pecados da casa de Eli, caiu nas mãos dos filisteus, e Siló ficou em ruínas. Pela providência de Deus, a arca voltou, intacta, aos israelitas, e foi colocada na casa de um levita em Quiriate-Jearim, que ficava a aproximadamente 15 quilômetros de Jerusalém. Ali ficou por muitos anos, até que Davi, à frente de um cortejo triunfal, com sacrifícios, dança e música, levou a arca para Jerusalém e a colocou na tenda que havia preparado para sua recepção.
A Transferência da Arca Para o Templo
Depois de Salomão concluir a construção do templo, reuniu os anciãos de Israel e os homens mais influentes entre o povo, para fazer subir a arca da aliança do Senhor da cidade de Davi. Esses homens se consagraram a Deus e, com grande solenidade e reverência, acompanharam os sacerdotes que conduziam a arca. "E a levaram para cima, e a tenda da congregação, juntamente com todos os utensílios sagrados que nela havia. Os sacerdotes e os levitas trouxeram-nos para cima, e o rei Salomão, e toda a ongregação de Israel, que se ajuntara a ele, estavam todos diante da arca, sacrificando ovelhas e bois, que não se podiam contar nem numerar, pela sua multidão." 1Reis 8:4, 5.
Salomão seguiu o exemplo de seu pai Davi. A cada seis passos ele oferecia sacrifícios. Com cântico, música e grande cerimônia, "os sacerdotes introduziram a arca da aliança do Senhor no seu lugar, no santuário mais interior do templo, no Santo dos Santos, debaixo das asas dos querubins. Os querubins estendiam as asas sobre o lugar da arca, e cobriam por cima a arca e os seus varais." 1 Reis 8:6, 7.
Um esplendoroso santuário fora construído segundo o modelo mostrado a Moisés no monte e posteriormente apresentado pelo Senhor a Davi. Além dos querubins em cima da arca, Salomão fez dois outros anjos de maior dimensão, cada qual postado em uma extremidade da arca, representando os anjos celestes como guardiães da Lei de Deus. É impossível descrever a beleza e esplendor desse santuário. Ao seu interior a arca sagrada foi levada com solene reverência pelos sacerdotes e colocada em seu lugar sob as asas dos dois majestosos querubins, postados sobre o piso.
O coro sagrado elevou suas vozes em louvor a Deus e sua melodia foi acompanhada por toda sorte de instrumentos musicais. E enquanto os átrios do templo ressoavam com louvores, a nuvem da glória de Deus tomou posse da casa, como no passado havia enchido o tabernáculo do deserto.
"Saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor, de modo que os sacerdotes não podiam ter-se em pé para ministrar, por causa da nuvem, pois a glória do Senhor enchera a casa do Senhor." 1 Reis 8:10, 11.
Sombras das Coisas Futuras
Como o santuário terrestre construído por Moisés conforme o modelo a ele mostrado no monte, o templo de Salomão, com todos os seus serviços, era "uma parábola para o tempo presente, em que se oferecem tantos dons como sacrifícios"; seus dois lugares santos eram "figuras das coisas que estão no Céu"; Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote é "ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor fundou, e não o homem." Hebreus 9:9, 23; 8:2. Quando em visão foi concedida ao apóstolo João uma vista do templo de Deus no Céu ele contemplou ali "diante do trono. . . sete lâmpadas de fogo". Ele viu um anjo "tendo um incensário de ouro. Foi-lhe dado muito incenso, para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono." Aqui foi permitido ao profeta contemplar o primeiro compartimento do santuário no Céu; e ele viu ali as "sete lâmpadas de ouro" e o "altar de ouro", representado pelo castiçal de ouro e o altar do incenso no santuário terrestre. Ainda se abriu outra vez o "templo de Deus" e ele olhou para o interior do véu, para o Santo dos Santos. Aí ele contemplou a arca do seu testemunho representada pelo receptáculo sagrado construído por Moisés para conter a Lei de Deus (Apocalipse 4:5; 8:3; 11:19).
No ministério do tabernáculo terrestre que servia de "figura e sombra das coisas celestiais", o Santo dos Santos era aberto somente no grande dia da expiação, o típico dia do juízo, separado para a purificação do Santuário. Portanto o anúncio "Abriu-se no Céu o templo de Deus, e a arca de Sua aliança foi vista no Seu santuário" (Apocalipse 11:19) indica a abertura do lugar santíssimo do santuário celeste no fim dos 2.300 dias — em 1844 — quando Cristo ali entrou para concluir a obra da expiação. Os que pela fé seguiram seu grande Sumo Sacerdote quando Ele entrou em Seu ministério no Lugar Santíssimo, contemplaram a arca do concerto.
O Santuário no céu é o verdadeiro centro da obra de Cristo em favor do homem. Ele diz respeito a toda alma que vive na Terra. Abre à vista o plano da redenção, levando-nos até o fim do tempo e revelando o resultado triunfal da controvérsia entre a justiça e o pecado. É da máxima importância que todos examinem exaustivamente esses assuntos e sejam capazes de dar a cada um que lhes pedir a razão da esperança que neles há.
Vivemos no grande dia da expiação. No cerimonial típico, enquanto o sumo sacerdote fazia expiação por Israel, exigia-se de todos que afligissem a alma pelo arrependimento do pecado e pela humilhação, perante o Senhor, para que não acontecesse serem extirpados dentre o povo. De igual modo, todos quantos desejem seja seu nome conservado no livro da vida, devem agora, nos poucos dias de graça que restam, afligir a alma diante de Deus, em tristeza pelo pecado e em arrependimento verdadeiro. Deve haver um exame do coração, profundo e fiel. O espírito leviano e frívolo, alimentado por tantos cristão professos, deve ser deixado. Há uma luta intensa diante de todos os que desejam subjugar as más tendências que porfiam pelo predomínio. A obra de preparação é uma obra individual. Não somos salvos em grupo. A pureza e devoção de um, não suprirá a falta destas qualidades em outro. Embora todas as nações devam passar em juízo perante Deus, examinará Ele o caso de cada indivíduo com um escrutínio tão minucioso e penetrante como se não houvesse outro ser na Terra. Cada um deve ser provado, e achado sem mancha ou ruga ou coisa semelhante.
Solenes são as cenas ligadas à obra final da expiação. Momentosos os interesses nela envolvidos. O juízo ora se realiza no santuário celestial. Há muitos anos esta obra está em andamento. Breve, ninguém sabe quão breve passará ela aos casos dos vivos. Na augusta presença de Deus, nossa vida deve passar por exame. Atualmente, mais do que em qualquer outro tempo, importa a toda alma atender à admoestação do Salvador. "Vigiai e orai! Não sabeis quando será o tempo." Marcos 13:33. "Se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei." Apocalipse 3:3
Quando se encerrar a obra do juízo de investigação, o destino de todos terá sido decidido para vida ou morte. O tempo da graça finaliza pouco antes do aparecimento do Senhor nas nuvens do céu. Nesse tempo, Cristo declara: "Quem é injusto, faça injustiça ainda; que está sujo, suje-se ainda; quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, santifique-se ainda. Eis que cedo venho! A Minha recompensa está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra." Apocalipse 22:11,12.
Os justos e os ímpios estarão ainda a viver sobre a Terra em seu estado mortal – os homens estarão a plantar e a construir, a comer e a beber, completamente alheios à decisão final e irrevogável que será pronunciada no santuário celestial. Antes do Dilúvio, após haver Noé entrado na arca, Deus a fechou com ele dentro e com os ímpios do lado de fora. Durante sete dias, porém, sem saber que a sua condenação estava fixada, o povo continuou a levar sua vida descuidada e amante do prazer, escarnecendo das advertências que anunciavam um juízo impendente. "Assim", diz o Salvador, "será também a vinda do Filho do homem." Mateus 24:27.
Silenciosa e imperceptível como um ladrão noturno, virá a hora decisiva que fixa o destino de cada homem, sendo retraída para sempre a oferta de misericórdia ao homem culpado.
"Portanto, vigiai" para que o Salvador "não vos encontre dormindo." Marcos 13:35. Perigosa é a condição dos que, cansando-se de vigiar, volvem às atrações do mundo. Enquanto o homem de negócios está absorto em busca de lucros, enquanto o amante dos prazeres procura satisfação, enquanto a escrava da moda está a arranjar os seus adornos — pode ser que naquela hora o Juiz de toda a terra pronuncie a sentença: "Pesado foste na balança, e foste achado em falta." Daniel 5:27