

No genuíno cristão arde o desejo de conhecer a verdade que Deus envia e resplandece no coração. A experiência do profeta Daniel registrada no Capítulo 8 é cheia de lições importantes. Daniel recebera uma visão importante (Dn. 8:1-14); ele anseia entendê-la, e o anjo Gabriel é enviado para explicar a visão, cujo conteúdo descrevia acontecimentos dos reinos que sucederiam Babilônia até a grande tribulação que sobreviria à igreja cristã no futuro (Dn. 8:15-26); e o profeta termina o capítulo afirmando que não havia entendido plenamente e estava enfraquecido fisicamente (Dn. 8:27).
O que levou o profeta à esta condição? Que assuntos o anjo Gabriel estava explicando que fez o profeta cair enfermo? "Quando a terrível perseguição a recair sobre a igreja foi desvendada à visão do profeta, abandonou-o a força física. Não pôde suportar mais. . . "E. G. White, O Grande Conflito, pág. 324. O profeta contemplou a terrível tribulação predita por Cristo, que se não fosse abreviada, mas que, por causa dos escolhidos, tais dias seriam abreviados (Mt. 24:21,22).
Esta é a parte da História Eclesiástica que adentramos agora, e que a exemplo do profeta Daniel, somos levados a estremecer diante de um quadro de tanta angústia e aflição que sobreveio à igreja no deserto, especialmente no período que vai dos Século 12 ao Século 16. Aquele que deu testemunho da fidelidade de Abrão e de Jó (Gn. 18:19; Jó 1:8), igualmente deu testemunho da fidelidade e amor dos valdenses, que durante vários séculos que precederam a perseguição conservaram a tocha da verdade ardendo nos vales do Piemonte. Eles são descritos como o "povo que conhece o seu Deus. " Daniel 11:32up.
A esse povo descrito com tão sublime característica - um povo que conhece o seu Deus - desabou uma terrível perseguição. E os métodos utilizados por seus implacáveis inimigos , são igualmente descritos na profecia: “Pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo. " Daniel 11:33. Mas durante aqueles tempos turbulentos,milhões permaneceram firmes até à morte. Foram "provados, purificados e embranquecidos"(Dn. 11:35),contudo confessaram a Cristo e Sua verdade diante dos homens (Mt. 10:32), revelaram aquela viva fé na qual nenhuma circunstância, nem mesmo a espada, o fogo, o cativeiro e o roubo, puderam separá-los do amor de Cristo e do apego à fé que foi entregue aos santos (Ro. 8:35,36), proclamaram pelo testemunho de suas vidas, do grande poder transformador da graça de Deus, quando é nutrida no coração: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio dAquele que nos amou"(Rm. 8:37). Que exemplo maravilhoso para ser seguido no tempo presente!
O período quando a inquisição predominou com maior força, foi um tempo de grandes revoluções no mundo: Foi o tempo do surgimento das cruzadas; foi o tempo quando a arrogância do papado e seu acalentado desejo de dominar tanto na esfera religiosa, social e política, alcançou o seu auge; foi igualmente um período quando por toda a Europa surgiram grandes pregadores que despertaram multidões para as mensagens contidas na Bíblia e não para as tradições e dogmas da igreja; este também foi o período quando duas influentes ordens monásticas, os franciscanos e os dominicanos, foram instituídas e aprovadas pela igreja, para combater a crescente onda de pregadores evangélicos que estavam espalhados por toda a Europa; foi o tempo quando vergonhosamente governantes reais e das províncias, juízes,magistrados e príncipes, tornaram-se instrumentos para executar multidões que eram estigmatizados como hereges pela inquisição; foi igualmente o período quando um grande reformador surgiu na Inglaterra, considerado a Estrela da manhã da Reforma, João Wicleff, e posteriormente o grupo de pregadores chamados lolardos, espalharam-se por toda a Inglaterra; nesse período, logo após Wicleff, veio o grande despertamento na Boêmia, pelos mártires Huss e Jerônimo, que finalmente levou a formação da Igreja dos Irmãos Unidos e posteriormente os morávios, e foram os morávios que no Século XVIII teriam grande influência nas primeiras experiências de João Wesley, etc. Certamente foi um período de grandes transformações e profundas revoluções, especialmente na esfera religiosa.
Os primeiros a sofrerem as terríveis provas da perseguição foram os albigenses, no sul da França, no final do Século XII e início do Século XIII, em cuja perseguição eles foram quase que exterminados. Os seguidores de Pedro Valdo, perseguidos inicialmente em Leon, espalharam-se por toda a Europa levando a mensagem evangélica. Em todas as partes os Pobres Homens de Leon e Valdenses, como eram chamados, foram terrivelmente perseguidos e cassados por toda a Europa. Enquanto alguns vacilaram, outros perseveraram até o fim, e prosseguiram na missão de levar a luz do evangelho às partes escuras da Europa, quaisquer que fossem as dificuldades e provas. A perseguição sobreveio com força sobre eles durante todo o Século XIII, e muitos dos perseguidos Pobres Homens de Leon buscaram refúgio entre os valdenses antigos que habitavam nos vales do Piemonte.
Durante os primeiros séculos da elevação do papado como o cabeça da igreja e o corregedor dos hereges, os valdenses que habitavam nos vales do Piemonte para onde se haviam refugiado, pela providência divina foram escudados da perseguição e desfrutaram relativa paz e independência de Roma, como é testificado por muitos historiadores: E. G. White; Boyler; William Beattie; T. Fenwick; Muston. Durante estes séculos sofreram apenas provações brandas. Mas este panorama haveria de mudar a partir do início do Século XIV, e deste então, até o Século XVII, os Vales do Piemonte foram alvo de terríveis perseguições. No ano 1886, E. G. White, visitando juntamente com alguns pastores adventistas o vale do Piemonte, e especialmente Angrona, em Torre Pelice, fez o seguinte comentário: “No dia da ressurreição, milhares serão ressuscitados destes vales e montanhas, que mártires da fé e da genuína religião de Cristo. " Isto resume a maravilhosa experiência dos valdenses, em cujos montes a luz da verdade foi conservada "a arder por entre as trevas da Idade Média. Ali, durante mil anos, testemunhas da verdade mantiveram a antiga fé. " O Grande Conflito, pág. 62.