

Denominam-se passagens subordinativas aquelas que explicitamente afirmam a sujeição de Jesus ao Pai. Estão entre as mais citadas: Mt 26.39 e 42; Jo 4.34; 5.19 e 30; 14.28; 1Co 11.3; 15.27, 28; Fl 2.7 e 8; Hb 5.8. Valendo-se destas passagens alguns tentam provar que Jesus, sendo subordinado ao Pai, seria inferior a Ele. Acontece que a compressão correta destas passagens, longe de negar, confirma a divindade de Cristo.
Estes textos podem ser divididas em dois grupos: as que fazem referência ao ministério terrestre de Cristo e as que falam da sua posição depois da erradicação do pecado do Universo. As passagens que falam da Sua encarnação devem ser consideradas na perspectiva da humilhação que esta condição lhe impôs.
1. Jo 4.34. Jesus veio ao mundo para cumprir a missão que o céu lhe confiou. Nesta passagem ela é chamada de “a vontade dAquele que Me enviou.” Para poder tornar-se nosso Salvador, Jesus precisou cumprir, em sua vida humana, a vontade de Deus (Sl 40.8).
2. Hb 5.8. Este versículo afirma que Jesus, através de Sua obediência, foi “aperfeiçoado”, ou seja, atingiu maturidade física e espiritual indispensável pra oferecer um sacrifico perfeito e torná-lo “o Autor da salvação eterna para todos os que Lhe obedecem” (vers. 9). Claro que está maturação tem a ver com Sua natureza humana, pois a sua natureza divina não precisa aprender, ou ser aperfeiçoada. Sua humanidade precisava ser desenvolvida. Sua morte só ocorreria no momento certo (veja Jo 7.30 e 44; 8.20; 13.1). Ele deveria estar em plena dependência de Deus, não podendo fazer nenhum milagre para si. Esta dependência tornou-se tão forte que quando se via ameaçado, insistia com o Pai, e isto “com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas” (Hb 5.7), para que fosse protegido. Quando chegou o tempo de oferecer-se como sacrifício Ele, longe de querer livrar-se do sofrimento, aceita cumprir a vontade de Deus (Jo 12.27). No Jardim do Getsêmani Sua natureza humana recuou diante da morte, mas ainda a vontade de Deus lhe era soberana (Mt 26.39). Toda a vida de Jesus, enquanto esteve na terra, foi voltada para fazer a vontade de Seu Pai (Jo 5.19 e 30).
3. A subordinação de Jesus ao Pai não significa que um Deus menor estava prestando obediência a um Deus maior. Era uma subordinação no plano funcional e não essencial. Ao se fazer homem, Cristo não perdeu seus atributos divinos (Cl 2.9).
4. Jo 5.19 deve ser entendido à luz do contexto. No versículo 17, Jesus afirma que: “Meu Pai trabalha até agora e Eu trabalho também”. Ele está reivindicando igualdade com Deus (versículo 18). Ele não pode fazer nada de si mesmo, por que Sua missão é revelar o Pai e não ser um rival dEle. Quando Ele afirma que faz o que vê o Pai fazer deve ser entendido como Ele pode sondar o íntimo do Pai. Só alguém semelhante a Deus poderia fazer isso (1Co 2.11).
5. 1Co 11.3. Não devemos esquecer que a metáfora de Paulo, ao afirmar que Deus é a cabeça de Cristo aplica-se as relações humanas, também. Por ser o homem a cabeça da mulher significa que ela é inferior. Aqui está envolvida uma relação funcional e não essencial.
6. 1Co 15.27 e 28. Com respeito as passagens que referem-se a uma futura subordinação do Filho ao Pai, a que mais se destaca é 1 Co 15. 27 e 28. Mas ela deve ser entendida à luz do que escrevemos sobre a Sua encarnação. Jesus tem tudo debaixo de Sua autoridade (Fp 3.20, 21).
“O verbo sujeitar aqui também não indica desigualdade de pessoas, mas sim uma diferença de papéis. A sujeição refere-se apenas a uma função, e submissão não implica necessariamente inferioridade.”[i]
Homer Ducan esclarece ainda:
“O Novo Comentário da Bíblia, de Eerdman, ajuda-nos nesta passagem difícil, com o seguinte: ‘Nos versículos 24-28, ele transporta as nossas mentes para além dos limites do espaço e do tempo, até à vitória final de Cristo, culminando com Deus sendo tudo em todos (28). Nota como, nestes versículos, o pronome pessoal ‘ele’ se refere algumas vezes a Deus o Pai e outras vezes a Deus o Filho. ‘(Cristo) convém que reine... Porque (Deus) todas as coisas sujeitou debaixo dos seus pés (de Cristo)... Claro que se excetua (Deus) aquele que lhe sujeitou todas as coisas (a Cristo)... o próprio Filho se sujeitará àquele (Deus) que lhe sujeitou todas as coisas (a Cristo).’A relação entre Cristo e o Pai, expressa nesta passagem, é do maior interesse na nossa formulação da doutrina da Santíssima Trindade. Dá-nos uma visão da ‘subordinação do Filho’ – para usar um termo teológico – mas isto não entra de modo algum em conflito com a crença na plena Divindade de Cristo, que partilha com o Pai da ‘substância’ da Divindade. A ‘subordinação’ é de cargo, não de pessoa. A referência é ao Seu trabalho como Redentor e como Rei do reino de Deus. Ele foi escolhido pelo paria para estas funções (Cf 1Co 3.23).
“O Comentário bíblico de Wycliffe, dá a seguinte explicação: 1 aos Cor. 15.27, 28 – A afirmação de que mesmo o próprio Filho será sujeito a Deus tem sido considerada por alguns, como diminuindo a dignidade do Filho de Deus, assim como, possivelmente, fazendo refletir sobre a Sua divindade.Contudo, essa sujeição não é de Filho como Filho, mas como Filho encarnado. Isto, é claro, não envolve desigualdade de essência. O filho dum rei poder ser oficialmente subordinado e, no entanto, é igual, em natureza, ao seu pai... O ponto de Paulo é este: O Filho, como Filho encarnado, tem agora todo o poder (cf. Mt 28.18).Quando Ele entregar a administração do reino terreno ao Pai, então o Deus triúno reinará como Deus e já não através do Filho encarnado. O ministério messiânico é uma fase da filiação eterna do Filho”.[ii]