

Nosso Deus é um Deus de ordem. Tudo quanto se acha relacionado com o Céu está em perfeita ordem. Sujeição e completa disciplina assinalam os movimentos da hoste angélica.
A ECONOMIA JUDAICA
Durante os dias de Moisés, o governo de Israel caracterizava-se pela organização mais completa e maravilhosa tanto pela sua completude como pela sua simplicidade. A ordem, tão admiravelmente ostentada na perfeição e arranjo de todas as obras criadas de Deus, era manifesta na organização hebraica. Deus era o centro da autoridade e governo, o soberano de Israel. Moisés desempenhava, por indicação divina, o papel de seu chefe visível, a fim de administrar as leis em Seu nome. Dentre os anciãos das tribos foi mais tarde escolhido um concílio de setenta, para auxiliar Moisés nos negócios gerais da nação. Vinham em seguida os sacerdotes, que consultavam o Senhor no santuário. Os chefes ou príncipes governavam as tribos. Abaixo destes estavam os "capitães dos milhares, capitães das centenas, capitães dos cinqüenta e capitães das dezenas" e, por último, oficiais que poderiam ser empregados no desempenho de deveres especiais (Deuteronômio 1:15).
REORGANIZAÇÃO NO INÍCIO DO REINADO DE SALOMÃO
Depois que Davi abdicou em favor de Salomão, ao planejarem a administração dos negócios do reino, o idoso rei, seu filho e seus conselheiros acharam necessário que tudo fosse feito com regularidade, adequação, fidelidade e prontidão. Tanto quanto foi possível, seguiram o sistema organizacional dado a Israel logo após o livramento do Egito. Os levitas foram designados para a obra relacionada ao serviço do templo, que incluía o ministério da música vocal e instrumental e a guarda do tesouro.
Homens capazes de portar armas e de servir ao rei foram divididos em doze turmas de vinte e quatro mil cada. Sobre cada turma foi posto um capitão. "Joabe era chefe do exército do rei." 1 Crônicas 27:34. Essas turmas "entravam e saíam de mês em mês durante o ano." Versículo 1. Assim cada grupo de vinte e quatro mil homens servia ao rei durante um mês cada ano.
Davi nomeou Jônatas, seu tio, como conselheiro, pois era "homem prudente e escriba." Aitofel também era conselheiro do rei. . . E depois de Aitofel, Jeioada. . . e Abiatar." Husai era "amigo do rei." Versículos 32-33. Por seu prudente exemplo, o idoso rei ensinou a Salomão que "na multidão de conselheiros há segurança." Provérbios 11:14.
A completude e inteireza da organização aperfeiçoou o início do reinado de Salomão. A abrangência dos planos para engajar o maior número possível de pessoas no serviço ativo; a ampla delegação de responsabilidades, para que o serviço de Deus e do reino não representassem indevida sobrecarga para qualquer indivíduo ou classe — estas são lições que todos podem estudar com proveito e que os líderes da igreja devem assimilar e pôr em prática.
Uma grande e poderosa nação vivendo na simplicidade e conforto de lares rurais, cada pessoa prestando a Deus um serviço voluntário e não assalariado, é um quadro do qual podemos extrair muitas sugestões úteis.
ORDEM NA IGREJA CRISTÃ
Quando Cristo esteve na Terra, havia ordem na igreja. Depois que Ele partiu, a ordem continuou a ser estritamente observada por Seus apóstolos. E agora nestes últimos dias, em que Deus está levando Seus filhos à unidade da fé, há mais real necessidade de ordem do que nunca, pois, ao passo que Deus une Seus filhos, Satanás e seus anjos estão muito ocupados em procurar desfazer e destruir essa união.
É calculado esforço de Satanás levar os professos cristãos o mais longe que lhe seja possível das medidas tomadas pelo Céu. Portanto, ele engana por vezes mesmo o professo povo de Deus, fazendo-os crer que a ordem e a disciplina são inimigas da espiritualidade e que a única segurança para eles é seguir cada um sua própria orientação. Se não reconhecermos a necessidade de ação harmoniosa e formos desordenados, indisciplinados, desorganizados em nossa maneira de agir, os anjos, que são inteiramente organizados e agem em perfeita ordem, não podem trabalhar com êxito em nosso favor. Afastam-se tristes, pois não são autorizados a abençoar a confusão, a desordem e a desorganização.
Todos quantos desejam a cooperação dos mensageiros celestes, devem trabalhar em harmonia com eles. Aqueles que receberam a unção do Alto hão de em todos os seus esforços promover a ordem, a disciplina e a unidade de ação. Só assim os anjos de Deus poderão cooperar com eles. Jamais, porém, hão de esses celestes mensageiros sancionar a irregularidade, a desorganização e a desordem. Todos esses males são resultado do planejado esforço de Satanás para enfraquecer nossas forças, destruir nosso ânimo e impedir a ação bem-sucedida. Deus deseja que Sua obra seja feita de forma precisa e metódica, a fim de que Ele possa colocar nela o selo de Sua aprovação.
O RESULTADO DO ESFORÇO ORGANIZADO
Faz quase meio século que foram estabelecidas a ordem e a organização entre nós como um povo. Fui uma das pessoas que passaram pela experiência de lutar por seu estabelecimento. Conhecendo as dificuldades que tiveram de ser enfrentadas e os males que a organização pretendia corrigir, tenho notado a influência que ela exerce em relação ao crescimento desta Causa. Na fase inicial da obra, Deus nos deu luz especial sobre este ponto; e esta luz, juntamente com as lições que a experiência nos ensinou, devem ser cuidadosamente consideradas.
Desde o início nossa obra foi dinâmica. Reduzido era o nosso número, e em sua maior parte procedente das classes mais pobres. Nossos pontos de vista eram quase desconhecidos do mundo. Não tínhamos igrejas, possuíamos poucas publicações e escassos recursos para levar avante a nossa obra. As ovelhas estavam dispersas pelas encruzilhadas e desvios dos caminhos, nas cidades, povoados e matas. Os mandamentos de Deus e a fé de Jesus eram a nossa mensagem.
"Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que ninguém se glorie perante Ele. Mas vós sois dEle, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor." 1 Coríntios 1:26-31.
Nosso número aumentou gradualmente. A semente lançada foi regada por Deus, que a fez crescer. A princípio reuníamo-nos para o culto e apresentávamos a verdade àqueles que se dispunham a ouvir, em casas particulares, em espaçosas cozinhas, em celeiros, bosques e edifícios escolares. Não demorou muito tempo, contudo, sem que pudéssemos construir humildes casas de oração.
Com o aumento do nosso número, tornou-se evidente que sem alguma forma de organização, haveria grande confusão e a obra não seria promovida com êxito. Para prover a manutenção do ministério, para levar a obra a novos campos, para proteger de membros indignos tanto as igrejas como o ministério, para a conservação da propriedade da igreja, para publicação da verdade pela imprensa e para muitos outros fins — era indispensável a organização.
Havia, porém, entre nosso povo um forte sentimento contrário à organização. Os adventistas em geral que se haviam retirado das igrejas pertencentes a diferentes denominações sob o chamado da mensagem do segundo anjo, para sair de Babilônia, opunham-se à organização, e muitos adventistas do sétimo dia receavam que a organização da igreja fizesse-nos incorrer em condenação. Depois de buscar ao Senhor em oração fervorosa para que nos fizesse compreender-Lhe a vontade, Seu Espírito nos iluminou, mostrando-nos que deveria haver ordem e perfeita disciplina na igreja e que era essencial a organização. Todas as obras de Deus, em todo o Universo, manifestam método e ordem. A ordem é a lei do Céu, e esta deve ser a lei do povo de Deus sobre a Terra.
Travamos árdua luta para estabelecer a organização. Não obstante haver o Senhor dado testemunho após testemunho a esse respeito, forte era a oposição, e teve de ser enfrentada repetidas vezes. Sabíamos, porém, que o Senhor Deus de Israel nos estava dirigindo e guiando pela Sua providência. Demos início à obra de organização, e uma evidente prosperidade acompanhou essa marcha progressiva.
Como o desenvolvimento da obra nos impelisse a novos empreendimentos, dispusemo-nos a iniciá-los. O Senhor nos dirigiu a mente para a importância da obra educacional. Reconhecemos a necessidade de escolas onde nossos filhos pudessem receber instrução isenta dos erros da falsa filosofia e onde sua educação estivesse em harmonia com os princípios da Palavra de Deus. Fez-se necessário o estabelecimento de instituições de saúde, não só para auxílio e instrução de nosso povo mas como um meio de beneficiar e esclarecer a outros. Este empreendimento foi também levado avante. Tudo isto era obra missionária da mais elevada espécie. Nossa obra não era mantida por grandes doações ou legados, pois poucos eram os ricos dentre nós.
Nossa obra avança firmemente. Qual o segredo de nossa prosperidade? Agimos de acordo com as ordens do Capitão de nossa salvação. Deus tem abençoado nossos conjugados esforços. A verdade tem-se espalhado e florescido. Instituições se multiplicam. A semente de mostarda cresceu até se tornar uma grande árvore. O sistema de organização obteve magnífico êxito. A contribuição sistemática é parte integrante dela de acordo com o plano bíblico. O corpo está "bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas." Efésios 4:16. À proporção que avançamos, nosso sistema organizacional continua a demonstrar-se eficaz.
É verdade que, em algumas partes da obra, a maquinaria se tornou bastante complexa. Isto aconteceu mais especificamente com os folhetos e a obra missionária. A multiplicação de regras e regulamentos fez dela uma pesada e inútil burocracia. Temos, porém, envidado esforços para simplificar a obra, a fim de evitar todas as fadigas e perplexidades desnecessárias.
Os negócios de nossas assembléias de Associação são às vezes sobrecarregados com propostas e resoluções supérfluas e que jamais teriam sido apresentadas se os filhos e filhas de Deus tivessem andado com solicitude e oração perante Ele. Quanto menos regras e regulamentos tivermos, melhor será o resultado final. Caso haja necessidade, que estas regras sejam cuidadosamente consideradas, e, sendo sábias, que sejam cumpridas e não se tornem apenas letra morta. Contudo, não sobrecarregueis nenhum ramo da obra com restrições desnecessárias e invenções humanas. Neste período da história do mundo, tendo diante de nós tão vasta obra, precisamos observar a maior simplicidade, então, justamente por causa desta simplicidade, a obra se fortalecerá.
Ninguém alimente a idéia de que podemos dispensar a organização. A ereção desta estrutura custou-nos muito estudo e orações em que rogávamos sabedoria, e as quais sabemos Deus atendeu. Ela foi estabelecida pela direção divina, em meio a muito sacrifício e lutas. Nenhum de nossos irmãos fique iludido a ponto de tentar derribá-la, pois acarretaria um estado de coisas que nem é possível imaginar-se. Em nome do Senhor declaro-vos que a organização há de ser firmemente estabelecida, robustecida e consolidada. Sob a ordem de Deus que nos dizia "Ide", avançamos, quando as dificuldades a serem superadas faziam com que o avanço parecesse impossível. Sabemos quanto custou no passado executar os planos divinos que fizeram de nós o povo que somos. Portanto, exerça cada um o máximo cuidado para não conturbar a mente no tocante a estas coisas que Deus ordenou para a nossa prosperidade e êxito na promoção de Sua causa.
A obra está prestes a encerrar-se. Os membros da igreja militante que se houverem demonstrado fiéis, tornar-se-ão a igreja triunfante. Ao recapitular nossa história passada, havendo percorrido todos os passos de nosso progresso até o nosso estado atual, posso dizer: "Louvado seja Deus!" Ao ver o que o Senhor tem realizado, encho-me de admiração e confiança na liderança de Cristo. Nada temos de recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira por que o Senhor nos tem guiado ou os ensinos que nos ministrou em nossa história passada.
Fonte: Review and Herald, 12/10/1905