

O estudante da história sagrada observará que Deus através dos séculos tem atribuído as responsabilidades dos diferentes empreendimentos de Sua obra na Terra a homens cujos talentos capacitavam-nos para o serviço ou que por ensino poderiam habilitar-se para a tarefa requerida.
Durante a visita de Jetro ao acampamento de Israel, o Senhor permitiu-lhe ver quão pesados eram os encargos que repousavam sobre Moisés. Manter a ordem e a disciplina naquela multidão vasta, ignorante e indisciplinada era sem dúvida uma tarefa formidável. Moisés era seu reconhecido líder e magistrado; e não somente lhe eram encaminhados os interesses e deveres gerais do povo, mas também as controvérsias que entre eles surgiam. Consentira com isto, pois que lhe dava oportunidade de instruí-los, conforme disse: "Faço-os saber os estatutos de Deus e as Suas leis." Êxodo 18:16.
Jetro protestou contra essa atitude, dizendo: "O trabalho te é pesado demais; tu só não o podes fazer", e aconselhou Moisés a nomear pessoas idôneas como chefes de milhares, chefes de centenas, chefes de cinqüenta e chefes de dezenas. Estes deviam ser homens "capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que" aborrecessem "a avareza." Êxodo 18:21. Tinham o encargo de julgar todas as questões de menor importância, ao passo que os casos mais difíceis seriam levados a Moisés, o qual, disse Jetro, devia representar o "povo diante de Deus", para levar as suas causas ao Senhor e declarar-lhes os estatutos e as leis, fazendo-os saber o caminho em que deviam andar e a obra que deviam fazer. O conselho foi aceito, e não somente trouxe alívio a Moisés, mas resultou no estabelecimento de ordem e método entre o povo.
HOMENS ESPECIAIS PARA DEVERES ESPECIAIS
Posteriormente, ao ser o tabernáculo construído no deserto, homens escolhidos foram especialmente dotados por Deus de habilidade e sabedoria para a construção do sagrado edifício.
Uma vez concluída a tarefa, elegeram-se homens de confiança para o desempenho de determinadas funções no ofício sagrado. Moisés e Arão e seus filhos deviam ministrar diante do tabernáculo do testemunho. "Disse o Senhor a Arão: tu e teus filhos, e a casa de teu pai contigo, levareis sobre vós as faltas cometidas com relação ao santuário. Tu e teus filhos contigo levareis sobre vós as faltas do vosso sacerdócio. . . . Vós fareis a guarda do santuário e a guarda do altar, para que não haja mais ira contra os filhos de Israel. . . . Tu e teus filhos assumireis o vosso sacerdócio em tudo o que se refere ao altar, e por tudo o que estiver atrás do véu. Eu vos tenho dado o serviço do sacerdócio como dádiva." Números 18:1, 5, 7.
Tão escrupuloso era o Senhor de que esta sagrada obra fosse realizada apenas pelas pessoas por Ele designadas, que chegou a declarar: "O estranho que se aproximar, será morto." Números 1:51.
Todo trabalhador devia saber qual o seu lugar e executar fielmente os deveres especiais a ele confiados, sem interferir naquilo que outro trabalhador era encarregado de fazer. Aos levitas foi confiado o cuidado do tabernáculo e de tudo quanto a ele pertencia, tanto no acampamento como em viagem. Quando o arraial se punha em marcha, era sua incumbência desarmar a tenda sagrada, bem como armá-la ao chegarem a um ponto de parada. A pessoa alguma de outra tribo era permitido aproximar-se, sob pena de morte. Os levitas estavam separados em três divisões, conforme os descendentes dos três filhos de Levi; e a cada uma foi designada sua posição e obra específica. Na frente do tabernáculo e mais próximo dele, estavam as tendas de Moisés e Arão. Ao Sul estavam os coatitas, cujo dever era cuidar da arca e de outras peças do mobiliário; ao Norte estavam os meraritas, encarregados das colunas, dos encaixes, das tábuas etc.; na retaguarda, os gersonitas, a quem fora confiado o cuidado das cortinas e da tapeçaria.
O plano de distribuir cuidadosamente deveres específicos a determinados homens mais confiáveis e competentes para esses deveres, foi minuciosamente estudado por Davi e posto em prática em sua administração no governo de Israel. E agora que Salomão fora elevado ao trono, Davi deu atenção minuciosa à perfeição da organização em todos os ramos da ministração dos sacerdotes e levitas, do funcionalismo civil e do exército.
"Sendo Davi já velho e cheio de dias, fez a Salomão, seu filho, rei sobre Israel. Ajuntou todos os príncipes de Israel, como também os sacerdotes e os levitas. Foram contados os levitas de trinta anos para cima, e foi o número de homens trinta e oito mil. Disse Davi: Destes, vinte e quatro mil promoverão a obra da casa do Senhor e seis mil serão oficiais e juízes. Quatro mil serão porteiros, e quatro mil deverão louvar ao Senhor com os instrumentos musicais que eu fiz para O louvar" 1 Crônicas 23:1-5.
Os quatro mil músicos, divididos em vinte e quatro turmas, eram dirigidos por doze homens habilidosos e especialmente instruídos no uso de instrumentos musicais. A função dos porteiros também foi organizada com precisão. Os sacerdotes foram divididos em vinte e quatro turmas, e fez-se um registro completo e exato desta divisão. Cada turma foi completamente organizada sob seu chefe, devendo cada uma subir a Jerusalém duas vezes por ano, para oficiar durante uma semana no ministério do santuário.
Os levitas, cujo dever era ajudar no serviço do santuário, foram, com idêntica precisão, organizados e investidos em suas funções. O cuidado do tesouro foi posto nas mãos de homens de confiança.
"Quanto aos levitas, Aías tinha o cargo dos tesouros da casa de deus e dos tesouros das coisas sagradas. . . . de todos os tesouros das coisas consagradas que o rei Davi e os cabeças de famílias, que eram capitães de milhares, de centenas e outros capitães do exército haviam dedicado; . . . também tudo o que havia sido consagrado por Samuel, o vidente, Saul filho de Quis, Abner filho de Ner, e Joabe filho de Zeruia, isto é, tudo o que qualquer pessoa havia dedicado estava sob a guarda de Selomite e seus irmãos." 1 Crônicas 26:20, 26, 28.
"Sobre os tesouros do rei estava Azmavete. . . . Sobre os tesouros dos campos, das cidades, das aldeias, das torres, Jônatas. . . . Sobre todos os que faziam a obra no campo, na lavoura da terra, . . . sobre as vinhas, . . . sobre o que das vides entrava para as adegas do vinho, . . . sobre os olivais e sicômoros que havia nas campinas, . . . sobre os gados que pasciam em Sarom, . . . sobre os gados do vales, . . . sobre os camelos, . . . sobre as jumentas, . . . sobre o gado miúdo" foram colocados homens cujo conhecimento e experiência os havia capacitado para estes respectivos deveres. Designaram-se assim muitos homens para serem "administradores dos bens do rei Davi." 1 Crônicas 27:31.
DILIGÊNCIA NO TRABALHO
O Senhor deseja que aqueles que executam qualquer serviço em Sua obra hoje se guardem contra a tendência de tomar sobre si responsabilidades que não são chamados a assumir. Alguns dos servos de Deus devem gerir assuntos comerciais relacionados com Sua obra na terra; outros devem cuidar das questões espirituais. Todos os colaboradores, porém, devem esforçar-se para fazer a contento a parte que lhe toca, deixando que os outros cumpram os deveres que a eles foram confiados.
Durante anos tem o Senhor nos instruído para escolher homens sábios — homens consagrados a Deus, homens que conheçam os princípios do Céu, homens que tenham aprendido o que significa andar com Deus e que tomem sobre si a responsabilidade de tratar dos negócios relacionados com nossa obra. Isso está de acordo com o plano bíblico traçado no sexto capítulo de Atos. Precisamos estudar este plano, pois é aprovado por Deus. Sigamos a Palavra.
É grande erro manter um ministro que tem o dom de pregar com poder o Evangelho, constantemente ocupado com assuntos comerciais. O que proclama a Palavra da vida não deve permitir que excessivos encargos sejam colocados sobre seus ombros. Precisa de tempo para estudar a Palavra e examinar a si próprio. Se fizer um profundo exame de coração e entregar-se ao Senhor, saberá melhor como apoderar-se das coisas encobertas de Deus.
Lembrem-se os ministros e professores que Deus os considera responsáveis pela maneira como se desincumbem de seus encargos, para que usem ao máximo a sua capacidade e ponham na obra suas melhores faculdades. Não devem assumir deveres que se choquem com a obra que Deus lhes deu. Já é tempo de nossos ministros se compenetrarem da responsabilidade e santidade de sua missão. Caso deixem de realizar a obra que eles mesmos reconhecem haver Deus colocado em suas mãos, repousa sobre eles um ai.
As finanças da Causa devem ser devidamente administradas por homens de talento comercial. Os pregadores e evangelistas, porém, são separados para outro ramo de trabalho. Que a direção das questões financeiras fique com outros que não os separados para a obra de pregar o Evangelho.
Nossos ministros não devem ser sobrecarregados com os pormenores comerciais relacionados com a obra evangelística levada a efeito em nossas grandes cidades. Os que se acham à frente das Associações devem procurar administradores para cuidar das particularidades financeiras da Obra na área. Se tais homens não forem encontrados, então que se forneçam recursos a fim de preparar outros que assumam essas responsabilidades.
Deve-se escolher pessoas que tenham experiência nos ramos comerciais e conhecimento prático de contabilidade, para superintender a escrituração das contas em nossas instituições dentro e fora do país. Se essas pessoas tivessem sido nomeadas em anos passados para administrar as questões financeiras de nossas associações e instituições, milhares de dólares teriam sido poupados, e a eficiência do ministério não teria sido tão seriamente abalada pelos fardos de cuidados e perplexidades financeiras que com tanta freqüência repousam sobre a pessoa errada.
Cumpre com freqüência fazer rigorosa auditoria nas transações comerciais dos diferentes departamentos da Causa. Esta obra não deve ser negligenciada. Jamais devemos sancionar qualquer transação que ponha em perigo a pureza da igreja do Senhor e de suas instituições, que são Suas designadas instrumentalidades.
Os que lideram a obra erram por vezes ao permitir a indicação de homens destituídos de tato e habilidade para gerirem importantes empreendimentos financeiros. As aptidões de um homem para um cargo nem sempre o qualificam para outro. A experiência é de grande valor. O Senhor deseja ver relacionados com Sua obra homens inteligentes, aptos para assumir vários cargos de confiança em nossas Associações e instituições. Precisa-se especialmente de consagrados homens de negócios, homens que ponham em toda transação comercial os princípios da verdade. Os que têm a seu cargo questões de finanças, não devem assumir outras responsabilidades, às quais sejam incapazes de fazer face. Tampouco deve a gerência da parte comercial ser confiada a homens incompetentes.
Homens promissores no ramo comercial devem desenvolver e aperfeiçoar seus talentos mediante meticuloso estudo e prática. Devem ser estimulados a colocar-se numa posição em que, como alunos, possam obter rápido conhecimento dos corretos princípios e métodos comerciais. Todos podem melhorar. Ninguém precisa ficar sendo sempre um aprendiz.
Se há em qualquer ramo de trabalho homens que devam aproveitar suas oportunidades para tornar se sábios e eficientes, esses são os que empregam sua capacidade na obra de estabelecer o reino de Deus em nosso mundo. Em vista do fato de estarmos vivendo tão próximos do encerramento da história deste mundo, deve haver maior exatidão no trabalho, mais previdente expectativa, maior vigilância, mais oração e trabalho. Todos os serviços religiosos e todo ramo de negócio devem levar a assinatura do Céu.
"Santidade ao Senhor" deve ser o lema dos obreiros de cada departamento. O instrumento humano deve esforçar-se por alcançar a perfeição, a fim de ser um cristão ideal, completo em Cristo Jesus.
Fonte: Review and Herald, 05/10/1905