

Auxílio aos tentados
Não foi porque nós O amássemos primeiro que Cristo nos amou; mas, “sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8), Ele morreu por nós. Não nos trata segundo os nossos merecimentos. Embora nossos pecados mereçam condenação, Ele não nos condena. Ano após ano, tem lidado com a nossa fraqueza e ignorância, com nossa ingratidão e extravios. Apesar desses desvios, nossa dureza de coração, nossa negligência de Sua santa Palavra, Sua mão ainda se acha estendida para nós. {CBV 161.1}
A graça é um atributo de Deus, exercido para com as indignas criaturas humanas. Não a buscamos, porém ela foi enviada a procurar-nos. Deus Se regozija de conceder-nos Sua graça, não porque somos dignos, mas porque somos tão completamente indignos. Nosso único direito a Sua misericórdia é nossa grande necessidade. {CBV 161.2}
O Senhor Deus, por intermédio de Jesus Cristo, estende o dia todo a mão num convite aos pecadores e caídos. A todos receberá. Dá as boas-vindas a todos. É Sua glória perdoar ao maior dos pecadores. Ele tomará a presa ao valente, libertará o cativo, tirará do fogo o tição. Baixará a áurea cadeia de Sua misericórdia às mais baixas profundezas da ruína humana, e erguerá a degradada alma, contaminada pelo pecado. {CBV 161.3}
Toda criatura humana é objeto de amoroso interesse por parte dAquele que deu a vida a fim de reconduzir os homens a Deus. Almas culpadas e impotentes, sujeitas a ser destruídas pelos ardis e artes de Satanás, são cuidadas como a ovelha do rebanho o é pelo pastor. {CBV 162.1}
O exemplo do Salvador deve ser a norma de nosso serviço pelo tentado e o errante. O mesmo interesse e ternura e longanimidade que Ele tem manifestado para conosco, nos cumpre mostrar para com os outros. “Como Eu vos amei a vós”, diz Ele, “que também vós uns aos outros vos ameis”. João 13:34. Se Cristo habita em nós, manifestaremos Seu abnegado amor para com todos com quem temos de tratar. Ao vermos homens e mulheres necessitados de simpatia e auxílio, não devemos indagar: “São eles dignos?”, mas: “Como os poderei beneficiar?” {CBV 162.2}
Ricos e pobres, elevados e humildes, livres e servos, todos são herança de Deus. Aquele que deu a vida para redimir os homens vê em toda criatura humana um valor que excede ao cálculo finito. Pelo mistério e glória da cruz, devemos discernir Sua estimativa do preço de uma alma. Quando assim fizermos, sentiremos que a criatura humana, embora degradada, custou demasiado para ser tratada com frieza e desdém. Compreenderemos a importância de trabalhar por nossos semelhantes, para que sejam exaltados ao trono de Deus. {CBV 162.3}
A moeda perdida da parábola do Salvador, conquanto se achasse na sujeira e lixo, era ainda um pedaço de prata. Sua possuidora buscou-a porque era de valor. Assim toda pessoa, ainda que desvalorizada pelo pecado, é aos olhos de Deus considerada preciosa. Como a moeda trazia a imagem e inscrição do poder dominante, assim apresentava o homem na sua criação a imagem e inscrição de Deus. Embora estejam ao presente manchadas e obscurecidas pela influência do pecado, os traços dessa inscrição permanecem em cada pessoa. Deus deseja readquiri-la para reimprimir sobre ela Sua própria imagem em justiça e santidade. {CBV 163.1}
Quão pouco nos ligamos com Cristo em simpatia naquilo que devia ser o mais forte laço de união entre nós e Ele — a compaixão para com os depravados, culpados, sofredores, mortos em ofensas e pecados! A desumanidade do homem para com o homem, eis nosso maior pecado. Muitos pensam que estão representando a justiça de Deus, ao passo que deixam inteiramente de Lhe representar a ternura e o grande amor. Muitas vezes aqueles a quem eles tratam com severidade e rispidez se acham sob o jugo da tentação. Satanás está lutando com essas pessoas, e palavras ásperas, destituídas de simpatia, desanimam-nas, fazendo-as cair presa do poder do tentador. {CBV 163.2}
Delicada coisa é o trato com a mente dos homens. Unicamente Aquele que conhece o coração sabe a maneira de levar o homem ao arrependimento. Só a Sua sabedoria nos pode dar êxito em alcançar os perdidos. Podeis erguer-vos inflexivelmente, pensando: “Sou mais santo do que tu”, e não importa quão correto seja o vosso raciocínio ou quão verdadeiras as vossas palavras, elas jamais tocarão corações. O amor de Cristo, manifestado em palavras e atos, encontrará caminho à alma, quando a reiteração do preceito ou do argumento nada conseguiria. {CBV 163.3}
Necessitamos mais da simpatia natural de Cristo; não somente simpatia pelos que se nos apresentam irrepreensíveis, mas pelas pobres almas sofredoras, em luta, que são muitas vezes achadas em falta, pecando e se arrependendo, sendo tentadas e vencidas de desânimo. Devemos dirigir-nos a nossos semelhantes tocados — como nosso misericordioso Sumo Sacerdote — pelo sentimento de suas enfermidades. {CBV 164.1}
Eram os rejeitados, os publicanos e pecadores, os desprezados pelos povos, que Cristo chamava, e por Sua amorável bondade os compelia a aproximar-se dEle. A classe que Ele nunca favorecia era a daqueles que ficavam à parte na própria estima, e olhavam os outros de alto para baixo. {CBV 164.2}
“Sai pelos caminhos e atalhos, e força-os a entrar”, ordena-nos Cristo, “para que a Minha casa se encha.” Lucas 14:23. Em obediência a esta palavra, devemos ir aos não-convertidos que se acham perto de nós, e aos que estão distantes. Os “publicanos e as meretrizes” (Mateus 21:31) devem ouvir o convite do Salvador. Por meio da bondade e da longanimidade de Seus mensageiros, o convite se torna um poder para erguer os que se acham imersos nas maiores profundezas do pecado. {CBV 164.3}
Os motivos cristãos exigem que trabalhemos com um firme desígnio, um infatigável interesse e crescente insistência, por essas almas a quem Satanás está procurando destruir. Coisa alguma nos deve esfriar a fervorosa, anelante energia pela salvação dos perdidos. {CBV 164.4}
Notai como através de toda a Palavra de Deus se manifesta o espírito de insistência, de implorar a homens e mulheres que se cheguem a Cristo. Devemo-nos apoderar de toda oportunidade, tanto em particular como em público, apresentando todo argumento, insistindo com razões de peso infinito para atrair homens ao Salvador. Com todas as nossas forças nos cumpre insistir com eles para que olhem a Jesus, e aceitem Sua vida de abnegação e sacrifício. Devemos mostrar que esperamos que eles dêem alegria ao coração de Cristo, usando todos os Seus dons para honra de seu nome. {CBV 164.5}
Salvos por Esperança
“Em esperança, somos salvos.” Romanos 8:24. Os caídos devem ser levados a sentir que não é demasiado tarde para serem íntegros. Cristo honrou o homem com Sua confiança, deixando-o então sob a vigilância de sua própria honra. Mesmo aqueles que haviam caído mais baixo, Ele tratava com respeito. Era para Cristo uma contínua dor o contato com a inimizade, a depravação e a impureza; nunca, porém, soltou Ele uma expressão que mostrasse estarem as Suas sensibilidades chocadas ou ofendidos os Seus apurados gostos. Fossem quais fossem os maus hábitos, os fortes preconceitos ou as dominantes paixões das criaturas humanas, Ele as encarava a todas com piedosa ternura. Ao partilharmos de Seu Espírito, olharemos todos os homens como irmãos, com idênticas tentações, caindo muitas vezes e lutando por se erguer novamente, combatendo contra o desânimo e as dificuldades, sedentos de simpatia e auxílio. Então nos aproximaremos deles de modo a não desanimá-los nem repeli-los, mas a suscitar a esperança em seu coração. Ao serem assim animados, poderão dizer em confiança: “Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz.” Ele julgará “a minha causa” e executará “o meu direito”. Ele trazer-me-á “à luz, e eu verei a Sua justiça.” Miqueias 7:8-9. {CBV 165.1}
Deus “da Sua morada contempla todos os moradores da Terra.
Ele é que forma o coração de todos eles.” {CBV 166.1}
Salmos 33:14-15.
Ele nos manda, no trato com os tentados e errantes, olhar “por ti mesmo, para que não sejas também tentado”. Gálatas 6:1. Com um senso de nossas próprias enfermidades, teremos compaixão das enfermidades dos outros. {CBV 166.2}
“Quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido?” 1 Coríntios 4:7. “Um só é o vosso Mestre, ... e todos vós sois irmãos.” Mateus 23:8. “Por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? ... Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão.” Romanos 14:10 e 13. {CBV 166.3}
É sempre humilhante ver seus próprios erros apontados. Ninguém deveria tornar a prova mais amarga por desnecessárias censuras. Ninguém já foi conquistado por meio de repreensão; mas muitos têm sido assim alienados, sendo levados a endurecer o coração contra as convicções. Um espírito brando, uma maneira suave e cativante, pode salvar o desviado, e encobrir uma multidão de pecados. {CBV 166.4}
O apóstolo Paulo achou necessário reprovar o erro, mas quão cuidadosamente procurou ele mostrar que era um amigo para os extraviados! Quão ansiosamente lhes explicava o motivo de seu proceder! Fazia-os compreender que lhe doía o causar-lhes dor. Mostrava a simpatia e confiança que tinha para com os que estavam lutando por vencer. {CBV 166.5}
“Em muita tribulação e angústia de coração, vos escrevi”, disse ele, “com muitas lágrimas, não para que vos entristecêsseis, mas para que conhecêsseis o amor que abundantemente vos tenho.” 2 Coríntios 2:4. “Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a minha carta, não me arrependo, embora já me tivesse arrependido; ... agora, folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para o arrependimento. ... Porque, quanto cuidado não produziu isso mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio. ... Por isso, fomos consolados.” 2 Coríntios 7:8, 9, 11 e 13. {CBV 166.6}
“Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós.” 2 Coríntios 7:16. “Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós, fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas, pela vossa cooperação no evangelho desde o primeiro dia até agora. Tendo por certo isto mesmo: que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo. Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração.” Filipenses 1:3-7. “Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados.” Filipenses 4:1. “Porque, agora, vivemos, se estais firmes no Senhor.” 1 Tessalonicenses 3:8. {CBV 167.1}
Paulo escrevia a esses irmãos como a “santos em Cristo Jesus” (Filipenses 4:21); mas não estava escrevendo a pessoas de caráter perfeito. Escrevia-lhes como a homens e mulheres que estavam lutando contra a tentação, e se achavam em perigo de cair. Apontava-lhes “o Deus de paz” que “tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas”. Assegurava-lhes que, “pelo sangue do concerto eterno” Ele os aperfeiçoaria “em toda a boa obra, para fazerdes a Sua vontade, operando em vós o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus”. Hebreus 13:20-21. {CBV 167.2}
Quando uma pessoa em falta se torna consciente de seu erro, cuidai em não lhe destruir o respeito de si mesma. Não a desanimeis pela indiferença ou a desconfiança. Não digais: “Antes de lhe dar minha confiança, quero esperar para ver se ela persevera.” Frequentemente essa mesma desconfiança faz com que o tentado tropece. {CBV 167.3}
Devemos esforçar-nos por compreender as fraquezas dos outros. Pouco sabemos nós das provas de coração daqueles que têm estado ligados em cadeias de trevas, a quem falta resolução e poder moral. Por demais lastimável é a condição daquele que sofre ao peso do remorso; é como uma pessoa aturdida, cambaleante, a afundar-se no pó. Não pode ver nada com clareza. A mente se acha obscurecida, não sabe que passo há de dar. Muita pobre alma é mal compreendida, mal apreciada, cheia de aflição e de angústia — uma ovelha desgarrada, perdida. Não pode encontrar a Deus, e experimenta todavia intenso anseio de perdão e de paz. {CBV 168.1}
Oh, não deixeis escapar nenhuma palavra que vá causar dor mais profunda ainda! À alma cansada de uma vida de pecado, mas não sabendo onde encontrar alívio, apresentai o compassivo Salvador. Tomai-a pela mão, erguei-a, dirigi-lhe palavras de ânimo e esperança. Ajudai-a a segurar a mão do Salvador. {CBV 168.2}
Desanimamos muito facilmente com os que não correspondem imediatamente aos nossos esforços. Nunca devemos deixar de trabalhar por uma pessoa enquanto houver um raio de esperança. Os seres humanos custaram a nosso Redentor demasiado caro para serem levianamente abandonados ao poder do tentador. {CBV 168.3}
Necessitamos colocar-nos a nós mesmos no lugar dos tentados. Considerai o poder da hereditariedade, a influência das más companhias e do ambiente, a força dos maus hábitos. Podemos nós admirar-nos de que, sob tais influências, muitos se degradem? Podemos admirar que sejam tardios em corresponder aos nossos esforços pelo seu reerguimento? {CBV 168.4}
Muitas vezes, quando conquistados para o evangelho, aqueles que se afiguravam vulgares e não promissores, achar-se-ão entre os mais leais de seus adeptos e defensores. Não estão inteiramente corrompidos. Sob um desagradável exterior, há impulsos bons que podem ser atraídos. Sem a mão ajudadora, muitos há que nunca se haveriam de restabelecer, mas mediante esforço paciente e perseverante, podem ser levantados. Essas pessoas requerem ternas palavras, bondosa consideração, auxílio real. Necessitam aquela espécie de conselho que não extinguirá o débil raio de ânimo na alma. Considerem isso os obreiros que se põem em contato com elas. {CBV 168.5}
Serão encontrados alguns cuja mente foi por tão longo tempo desacreditada que nunca na vida se tornarão aquilo que poderiam ter sido sob mais favoráveis circunstâncias. Mas os brilhantes raios do Sol da Justiça podem resplandecer na alma. É seu privilégio possuir aquela vida que se estende paralela à vida de Deus. Implantai-lhes na mente pensamentos que elevem e enobreçam. Que vossa vida lhes patenteie a diferença entre o vício e a pureza, as trevas e a luz. Leiam eles em vosso exemplo o que significa ser cristão. Cristo é capaz de levantar os maiores pecadores, colocando-os no estado em que serão reconhecidos como filhos de Deus, herdeiros com Cristo da herança imortal. {CBV 169.1}
Pelo milagre da divina graça, muitos podem tornar-se aptos para uma vida de utilidade. Desprezados e abandonados, perderam por completo o ânimo; talvez pareçam insensíveis e indiferentes. Sob o ministério do Espírito Santo, todavia, a estupidez que faz parecer impossível seu reerguimento desaparecerá. A mente pesada, obscurecida, despertará. O escravo do pecado será posto em liberdade. O vício desaparecerá, será vencida a ignorância. Mediante a fé que opera por amor, o coração será purificado e a mente, iluminada. {CBV 169.2}
A obra em favor dos intemperantes
Toda verdadeira reforma tem seu lugar na obra do evangelho, e tende ao reerguimento da alma a uma vida nova e mais nobre. A obra da temperança, especialmente, requer o apoio dos obreiros cristãos. Eles devem chamar a atenção para essa obra, tornando-a objeto de vivo interesse. Por toda parte devem apresentar ao povo os princípios da verdadeira temperança, e pedir assinaturas para o voto da mesma. Fervorosos esforços se devem fazer em favor dos que se acham escravizados aos maus hábitos. {CBV 171.1}
Há por toda parte uma obra a ser feita por aqueles que caíram devido à intemperança. Entre as igrejas, as instituições religiosas, e lares supostamente cristãos, muitos jovens estão seguindo o caminho da ruína. Por hábitos de intemperança, trazem sobre si mesmos a enfermidade, e pela ganância de obter dinheiro para pecaminosas transigências, caem em práticas desonestas. Arruínam a saúde e o caráter. Alienados de Deus, rejeitados pela sociedade, essas pobres pessoas se sentem sem esperança tanto para esta vida como para outra, por vir. O coração dos pais fica quebrantado. As pessoas falam desses extraviados como casos sem esperança; assim não os considera Deus. Ele compreende todas as circunstâncias que os têm tornado o que são, e os contempla com piedade. Essa é uma classe que demanda auxílio. Nunca lhes deis ocasião de dizer: “Ninguém se importa comigo.” {CBV 171.2}
Acham-se entre as vítimas da intemperança indivíduos de todas as classes e profissões. Pessoas de elevada posição, de notáveis talentos, de grandes realizações, têm cedido aos apetites a ponto de se tornarem incapazes de resistir à tentação. Alguns, que eram antes possuidores de fortuna, encontram-se sem lar, sem amigos, em sofrimento e miséria, enfermidade e degradação. Perderam o domínio de si mesmos. A menos que uma mão ajudadora lhes seja estendida, hão de cair mais e mais baixo. Aliada a essa condescendência consigo mesmo se acha, não somente um pecado moral, mas uma doença física. {CBV 172.1}
Muitas vezes, ao ajudar os intemperantes, devemos, como Cristo fazia tão frequentemente, atender primeiro a suas condições físicas. Necessitam alimento e bebida saudáveis, não estimulantes, roupas limpas, oportunidades de manter o asseio físico. Necessitam ser rodeados de uma atmosfera de salutar e enobrecedora influência cristã. Deve-se prover em toda cidade um lugar em que os escravos dos maus hábitos possam receber auxílio para quebrar as cadeias que os prendem. A bebida forte é considerada por muitos o único consolo na aflição; mas não será preciso que seja assim, se, em lugar de desempenhar o papel do sacerdote e do levita, os professos cristãos seguirem o exemplo do bom samaritano. {CBV 172.2}
Ao lidar com as vítimas da intemperança, cumpre-nos lembrar que não estamos tratando com pessoas de são juízo, mas com aqueles que, de momento, se acham sob o poder de um demônio. Sede pacientes e mansos. Não penseis na desagradável, repulsiva aparência, mas na preciosa vida para cuja redenção Cristo morreu. Ao despertar o bêbado para o sentimento de sua degradação, fazei quanto estiver ao vosso alcance para lhe mostrar que sois seu amigo. Não profirais uma palavra de censura ou de repugnância. É muito provável que a pobre pessoa se maldiga a si mesma. Ajudai-a a se erguer. Dirigi-lhe palavras que fortaleçam a fé. Procurai fortalecer todo bom traço em seu caráter. Ensinai-lhe a maneira de alcançar um nível mais elevado. Mostrai-lhe que é possível viver de modo a conquistar o respeito de seus semelhantes. Ajudai-a a ver o valor dos talentos que Deus lhe tem dado, mas que ela tem negligenciado desenvolver. {CBV 172.3}
Embora se haja a vontade depravado e enfraquecido, existe para ela esperança em Cristo. Esse lhe despertará no coração mais elevados impulsos e desejos mais santos. Animai-a a apoderar-se da esperança que se lhe apresenta no evangelho. Abri a Bíblia ao tentado e lutador, lendo-lhes repetidamente as promessas de Deus. Essas promessas serão para ele como as folhas da árvore da vida. Continuai pacientemente em vossos esforços, até que, com reconhecida alegria, a trêmula mão se apegue à esperança da redenção em Cristo. {CBV 173.1}
Deveis apegar-vos firmemente àqueles a quem buscais ajudar, do contrário jamais obtereis a vitória. Eles serão continuamente tentados para o mal. Serão repetidamente quase vencidos pelo intenso desejo da bebida forte; aqui e ali poderão cair; não cesseis, entretanto, por isso, os vossos esforços. {CBV 173.2}
Eles decidiram fazer um esforço para viver para Cristo; sua força de vontade, porém, acha-se enfraquecida, e devem ser cuidadosamente guardados pelos que cuidam das almas como quem por elas têm de dar contas. Eles perderam sua varonilidade, que devem reconquistar. Muitos têm de lutar contra fortes tendências hereditárias para o mal. Fortes desejos não naturais, impulsos sensuais, eis a herança que por nascimento receberam. Contra os mesmos devem ser cuidadosamente guardados. Interior e exteriormente, estão o bem e o mal em luta pelo domínio. Os que nunca passaram por tais experiências não podem conhecer o quase avassalador poder do apetite, ou o feroz conflito entre os hábitos de condescendência consigo mesmo e a decisão de ser temperante em todas as coisas. Essa batalha deve ser travada uma e muitas vezes. {CBV 173.3}
Muitos dos que são atraídos a Cristo não possuirão força moral para continuar a luta contra o apetite e a paixão. O obreiro não deve, no entanto, se desanimar por isso. São apenas os que foram salvos das maiores profundidades os que apostatam? {CBV 173.4}
Lembrai-vos de que não trabalhais sozinhos. Anjos ministradores se unem em serviço a todo o sincero filho e filha de Deus. E Cristo é o restaurador. O grande Médico mesmo Se acha ao lado dos fiéis obreiros, dizendo à alma arrependida: “Filho, perdoados estão os teus pecados.” Marcos 2:5. {CBV 174.1}
Muitos serão os párias que se apoderarão da esperança que lhes é apresentada no evangelho, e entrarão no reino do Céu, ao passo que outros que foram beneficiados com grandes oportunidades e grande luz, que não aproveitaram, serão deixados nas trevas exteriores. {CBV 174.2}
As vítimas de maus hábitos devem ser despertadas para a necessidade de fazer esforços por si mesmos. Outros podem desenvolver os mais fervorosos empenhos para erguê-los, a graça de Deus pode-lhes ser abundantemente oferecida, Cristo pode rogar, Seus anjos ministrar; tudo, porém, será em vão, a menos que eles próprios despertem para pelejar o combate em seu favor. {CBV 174.3}
As últimas palavras de Davi a Salomão, então um jovem, e que ia em breve receber a coroa de Israel, foram: “Esforça-te, ... e sê homem.” 1 Reis 2:2. A todo filho da humanidade, candidato a uma coroa imortal, dirigem-se estas palavras proferidas pela inspiração: “Esforça-te, ... e sê homem.” {CBV 174.4}
Os habituados a satisfazer às tendências naturais devem ser levados a ver e a sentir que é mister grande renovação moral, se se querem tornar homens. Deus os convida a despertar e, na força de Cristo, reconquistar a varonilidade que Deus lhes dera, e que foi sacrificada em pecaminosas condescendências. {CBV 174.5}
Sentindo o terrível poder da tentação, o arrastamento do desejo que leva à fraqueza, muito homem brada em desespero: “Não posso resistir ao mal.” Dizei-lhe que ele pode, que ele precisa resistir. Poderá haver sido derrotado uma e outra vez, mas não é necessário que seja sempre assim. Ele é fraco em força moral, dominado por hábitos de uma vida de pecado. Suas promessas e resoluções são como cordas de areia. A consciência das promessas não cumpridas e dos violados votos enfraquece-lhe a confiança na própria sinceridade, fazendo com que ele sinta que Deus não o pode aceitar, nem cooperar com os seus esforços. Não precisa, entretanto, desesperar. {CBV 174.6}
Os que põem em Cristo a confiança não devem ficar escravizados por nenhuma tendência ou hábito hereditário, ou cultivado. Em lugar de ficar subjugados em servidão à natureza inferior, devem reger todo apetite e paixão. Deus não nos deixou lutar com o mal em nossa própria, limitada força. Sejam quais forem nossas tendências herdadas ou cultivadas para o erro, podemos vencer, mediante o poder que Ele nos está disposto a comunicar. {CBV 175.1}
O Poder da Vontade
O tentado necessita compreender a verdadeira força da vontade. É este o poder que governa na natureza do homem — o poder de decisão, de escolha. Tudo depende da devida ação da vontade. Os desejos em direção da bondade e da pureza são em si mesmos justos; mas, se aí ficamos, nada aproveitam. Muitos descerão à ruína, enquanto esperam e desejam vencer suas más propensões. Eles não entregam a vontade a Deus. Não escolhem servi-Lo. {CBV 176.1}
Deus nos deu o poder da escolha; a nós cumpre exercitá-lo. Não podemos mudar o coração, nem reger nossos pensamentos, impulsos e afeições. Não nos podemos tornar puros, aptos para o serviço de Deus. Mas podemos escolher servi-Lo, podemos entregar-Lhe nossa vontade; então, Ele operará em nós o querer e o efetuar, segundo a Sua aprovação. Assim, nossa natureza toda será posta sob o domínio de Cristo. {CBV 176.2}
Mediante o devido exercício da vontade, uma completa mudança pode ser operada na vida. Entregando a vontade a Cristo, aliamo-nos com o divino poder. Recebemos força do alto para nos manter firmes. Uma vida nobre e pura, uma vida vitoriosa sobre o apetite e a concupiscência, é possível a todo aquele que quiser unir sua vontade humana, fraca e vacilante, à onipotente e inabalável vontade de Deus. {CBV 176.3}
Os que estão em luta com o poder do apetite devem ser instruídos nos princípios do viver saudável. Deve-se-lhes mostrar que a violação das leis da saúde, criando um estado enfermo e desejos não naturais, lança as bases para o hábito das bebidas alcoólicas. Unicamente vivendo em obediência aos princípios da saúde, podem eles se libertar da sede de estimulantes contrários à natureza. Ao passo que dependem da força divina para quebrar as cadeias do apetite, devem cooperar com Deus pela obediência a Suas leis, tanto as morais como as físicas. {CBV 176.4}
Os que se estão esforçando para reformar-se devem ser ajudados a obter emprego. Ninguém em condições de trabalhar deve ser ensinado a esperar alimento, roupa e casa de graça. Por amor deles próprios, bem como dos outros, devia ser planejado um meio pelo qual produzam o equivalente àquilo que recebem. Animai todo esforço quanto à manutenção própria. Isso fortalecerá o respeito de si mesmo, e uma nobre independência. E a ocupação da mente e do corpo num trabalho útil é essencial como salvaguarda contra a tentação. {CBV 177.1}
Decepções e Perigos
Os que trabalham pelos caídos ficarão decepcionados com muitos que dão esperança de reforma. Muitos não farão senão uma superficial mudança em seus hábitos e maneiras de proceder. São movidos por impulso, e por algum tempo podem parecer reformados; mas não há verdadeira mudança de coração. Acariciam o mesmo amor-próprio, têm a mesma sede de prazeres vãos, o mesmo desejo de satisfação própria. Não têm conhecimento da obra da formação do caráter, e não se pode confiar neles como homens de princípios. Rebaixaram suas faculdades mentais e espirituais pela satisfação do apetite e da paixão, o que os enfraquece. São inconstantes e mutáveis. Seus impulsos tendem à sensualidade. Essas pessoas são muitas vezes uma fonte de perigo para outros. Sendo considerados como homens e mulheres reformados, confiam-se-lhes responsabilidades, e são colocados em posições em que sua influência corrompe os inocentes. {CBV 177.2}
Mesmo os que estão buscando sinceramente reformar-se não se acham livres do perigo de cair. Precisam ser tratados com grande sabedoria e ternura. A tendência de lisonjear e exaltar os que foram salvos das maiores profundidades provoca por vezes sua ruína. O costume de convidar homens e mulheres para relatar em público os incidentes de sua vida de pecado é cheio de perigos, tanto para o que fala como para os que escutam. Demorar o pensamento em cenas de mal é corruptor para a mente e a alma. E o destaque em que se colocam os que são assim salvos é-lhes prejudicial. Muitos são levados a pensar que sua vida pecaminosa lhes confere certa distinção. São animados o amor da notoriedade e o espírito de confiança em si mesmo, os quais se demonstram fatais à alma. Unicamente desconfiando de si mesmos e confiando na misericórdia de Cristo podem eles subsistir. {CBV 178.1}
Todos quantos dão provas de verdadeira conversão devem ser animados a trabalhar pelos outros. Que ninguém repila uma alma que deixa o serviço de Satanás pelo de Cristo. Quando uma pessoa dá demonstração de que o Espírito de Deus está lutando com ela, dai-lhe todo ânimo para entrar no serviço do Senhor. “E tende piedade de uns, usando de discernimento.”