

Moisés
- Em: Escola Sabatina
- Por: Ellen G. White
“E aconteceu depois de muitos destes dias, morrendo o rei do Egito, que os filhos de Israel suspiraram por causa da servidão, e clamaram; e o seu clamor subiu a Deus por causa da sua servidão. E ouviu Deus o seu gemido, e lembrou-se Deus do Seu concerto com Abraão, com Isaque, e com Jacó; e atentou Deus para os filhos de Israel, e conheceu-os Deus”. Êxodo 2:23-25. Era vindo o tempo para o livramento de Israel. Mas o propósito de Deus devia cumprir-se de maneira a lançar o desdém sobre o orgulho humano. O libertador devia ir como um humilde pastor, apenas com uma vara na mão; Deus, porém, faria daquela vara o símbolo de Seu poder. Guiando seus rebanhos um dia perto de Horebe, “o monte de Deus” (Êxodo 3:1), Moisés viu uma sarça em chamas, estando ramos, folhagem e tronco tudo a arder, não parecendo todavia consumir-se. Aproximou-se para ver a maravilhosa cena, quando uma voz da labareda o chamou pelo nome. Com lábios trêmulos respondeu: “Eis-me aqui.” Advertiu-se-lhe que não se aproximasse irreverentemente: “Tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. [...] Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó”. Êxodo 3:4-6; Êxodo 3; Êxodo 4:1-26. Era Aquele que, como o Anjo do concerto, Se revelara aos pais nos séculos passados. “E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus”. Êxodo 3:6. {PP 174.3}
A humildade e a reverência devem caracterizar o comportamento de todos os que vão à presença de Deus. Em nome de Jesus podemos ir perante Ele com confiança; não devemos, porém, aproximar-nos dEle com uma ousadia presunçosa, como se Ele estivesse no mesmo nível que nós outros. Há os que se dirigem ao grande, Todo-poderoso e santo Deus, que habita na luz inacessível, como se se dirigissem a um igual, ou mesmo inferior. Há os que se portam em Sua casa conforme não imaginariam fazer na sala de audiência de um governador terrestre. Tais devem lembrar-se de que se acham à vista dAquele a quem serafins adoram, perante quem os anjos velam o rosto. Deus deve ser grandemente reverenciado; todos os que em verdade se compenetram de Sua presença, prostrar-se-ão com humildade perante Ele, e, como Jacó, ao contemplar a visão de Deus, exclamarão: “Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; esta é a porta dos Céus.” {PP 175.1}
Esperando Moisés, com um temor reverente, diante de Deus, continuaram as palavras: “Tenho visto atentamente a aflição do Meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores. Portanto desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel. [...] Vem agora, pois, e Eu te enviarei a Faraó, para que tires o Meu povo [os filhos de Israel] do Egito”. Êxodo 3:7, 8, 10. {PP 175.2}
Admirado e aterrorizado com a ordem, Moisés recuou, dizendo: “Quem sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel?” A resposta foi: “Certamente Eu serei contigo; e isto te será por sinal de que Eu te enviei: Quando houveres tirado este povo do Egito, servireis a Deus neste monte”. Êxodo 3:11, 12. {PP 175.3}
Moisés pensou nas dificuldades que seriam encontradas, na cegueira, ignorância e incredulidade de seu povo, muitos dos quais estavam quase destituídos do conhecimento de Deus. “Eis que quando vier aos filhos de Israel”, disse ele, “e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós, e eles me disserem: qual é o Seu nome? Que lhes direi?” A resposta foi: “Eu Sou o Que Sou.” “Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós”. Êxodo 3:13, 14. {PP 175.4}
Moisés recebeu ordem de congregar primeiramente os anciãos de Israel, os mais nobres e justos entre eles, os quais desde muito se haviam afligido por causa de seu cativeiro, e declarar-lhes uma mensagem de Deus, com uma promessa de livramento. Devia então ir com os anciãos perante o rei, e dizer-lhe: “O Deus dos hebreus nos encontrou; portanto, deixa-nos agora ir caminho de três dias no deserto, para que ofereçamos sacrifícios ao Senhor”. Êxodo 3:18. {PP 176.1}
Moisés fora prevenido de que Faraó resistiria ao apelo de deixar ir Israel. Todavia a coragem do servo de Deus não devia faltar; pois o Senhor com isto aproveitaria a ocasião para manifestar Seu poder perante os egípcios e perante o Seu povo. “Eu estenderei a Minha mão, e ferirei ao Egito com todas as Minhas maravilhas que farei no meio dele; depois vos deixará sair”. Êxodo 3:20. {PP 176.2}
Foram também dadas instruções quanto às provisões que deviam fazer para a viagem. O Senhor declarou: “Acontecerá que, quando sairdes, não saireis vazios, porque cada mulher pedirá à sua vizinha, e à sua hóspeda, vasos de prata, e vasos de ouro, e vestidos”. Êxodo 3:21, 22. Os egípcios tinham enriquecido pelo trabalho injustamente exigido dos israelitas, e como estes estavam para partir em viagem para a sua nova morada, era justo que reclamassem a recompensa de seus anos de labuta. {PP 176.3}
Deviam pedir artigos de valor, que pudessem ser facilmente transportados, e Deus lhes daria graça aos olhos dos egípcios. Os grandes prodígios operados para o seu livramento, aterrorizariam os opressores, de maneira que o pedido dos escravos seria satisfeito. {PP 176.4}
Moisés viu diante de si dificuldades que pareciam insuperáveis. Que prova poderia ele dar a seu povo de que Deus na verdade o enviara? “Eis que me não crerão”, disse ele, “nem ouvirão a minha voz, porque dirão: O Senhor não te apareceu.” Provas que apelavam aos seus sentidos foram-lhe então dadas. Foi-lhe dito que atirasse sua vara ao chão. Fazendo-o ele, “tornou-se em cobra”; “e Moisés fugia dela”. Recebeu ordem de apanhá-la, e em sua mão se tornou em vara. Foi-lhe mandado pôr a mão no seio. Obedeceu, “e, tirando-a, eis que sua mão estava leprosa, branca como a neve”. Êxodo 4:1-6. Dizendo-se-lhe que de novo a pusesse no seio, viu, ao retirá-la que se tornara como a outra. Por estes sinais o Senhor assegurou a Moisés que Seu povo bem como Faraó convencer-se-iam de que um Ser mais poderoso do que o rei do Egito Se manifestava entre eles. {PP 176.5}
Mas o servo de Deus ainda se deixava vencer pelo pensamento da estranha e maravilhosa obra que diante dele estava. Em sua aflição e temor, agora alegava como desculpa a falta de uma fala desembaraçada: “Ah Senhor! eu não sou homem eloquente, nem de ontem nem de anteontem, nem ainda desde que tens falado a Teu servo; porque sou pesado de boca e pesado de língua”. Êxodo 4:10. Durante tanto tempo havia ele estado afastado dos egípcios, que não tinha um conhecimento tão claro e um uso tão pronto da língua, como quando estivera entre eles. {PP 176.6}
O Senhor lhe disse: “Quem fez a boca do homem? ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou Eu, o Senhor?” A isto acrescentou-se outra segurança do auxílio divino: “Vai pois agora, e Eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar”. Êxodo 4:11, 12. Mas Moisés ainda rogou que fosse escolhida uma pessoa mais competente. Estas escusas a princípio procederam da humildade e retraimento; mas depois que o Senhor prometera remover todas as dificuldades, e dar-lhe afinal o êxito, qualquer nova recusa e queixa a respeito de sua inaptidão, mostravam falta de confiança em Deus. Isto envolvia um receio de que Deus fosse incapaz de habilitá-lo para a grande obra, para a qual o chamara, ou de que houvesse Ele cometido um erro na escolha do homem. {PP 177.1}
Moisés então foi mandado ir ter com Arão, seu irmão mais velho, que, tendo estado em uso diário da língua dos egípcios, podia falá-la perfeitamente. Foi-lhe dito que Arão vinha ao seu encontro. As palavras seguintes do Senhor foram uma ordem positiva: {PP 177.2}
“Tu lhe falarás e porás as palavras na sua boca; Eu serei com a tua boca, e com a sua boca, ensinando-vos o que haveis de fazer. E ele falará por ti ao povo; e acontecerá que ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus. Toma pois esta vara na tua mão, com que farás os sinais”. Êxodo 4:15-17. Moisés não mais poderia opor resistência; pois todo o motivo de escusa fora removido. {PP 177.3}
A ordem divina dada a Moisés encontrou-o sem confiança em si, tardo no falar, e tímido. Sentia-se vencido pela intuição de sua incapacidade de ser o porta-voz de Deus para Israel. Havendo, porém, aceito o trabalho, deu-lhe início com todo o coração, depositando toda a confiança no Senhor. A grandeza de sua missão chamava à atividade as melhores faculdades de seu espírito. Deus lhe abençoou a pronta obediência, e ele se tornou eloquente, esperançoso e senhor de si, e bem adaptado para a maior obra que já foi entregue ao homem. Isto é um exemplo do que Deus faz para fortalecer o caráter daqueles que nEle confiam amplamente, e dar-lhes, sem reserva, as Suas ordens. {PP 177.4}
O homem adquirirá força e eficiência ao aceitar as responsabilidades que Deus põe sobre ele, e procurar de toda sua alma qualificar-se para dela se desincumbir devidamente. Por humilde que seja a sua posição ou limitada a sua habilidade, atingirá a verdadeira grandeza o homem que, confiando na força divina, procura efetuar sua obra com fidelidade. Houvesse Moisés confiado em sua própria força e sabedoria, e com avidez aceito o grande encargo, e teria evidenciado sua completa inaptidão para tal obra. O fato de que um homem sente a sua fraqueza, é ao menos alguma prova de que ele se compenetra da magnitude da obra a ele designada, e de que fará de Deus seu conselheiro e força. {PP 177.5}
Moisés voltou a seu sogro, e exprimiu o desejo de visitar seus irmãos no Egito. Jetro deu-lhe consentimento, com a bênção: “Vai em paz”. Êxodo 4:18. Com a esposa e os filhos, Moisés pôs-se em caminho. Não ousara dar a conhecer o objetivo de sua missão, receando não fosse permitido que o acompanhassem. Antes de chegar ao Egito, entretanto, ele mesmo achou melhor, para segurança deles, mandá-los voltar para casa, em Midiã. {PP 178.1}
Um temor secreto de Faraó e dos egípcios, cuja ira se acendera contra ele quarenta anos antes, tornara Moisés ainda mais relutante em voltar ao Egito; mas, depois que se dispusera a obedecer à ordem divina, o Senhor lhe revelou que seus inimigos eram mortos. {PP 178.2}
Em caminho, quando vinha de Midiã, Moisés recebeu uma advertência assustadora e terrível, a respeito do desagrado do Senhor. Um anjo apareceu-lhe de maneira ameaçadora, como se o fosse imediatamente destruir. Explicação alguma se dera; Moisés, porém, lembrou-se de que havia desatendido um dos mandos de Deus; cedendo à persuasão de sua esposa, negligenciara efetuar o rito da circuncisão em seu filho mais moço. Deixara de satisfazer a condição pela qual seu filho poderia ter direito às bênçãos do concerto de Deus com Israel; e tal negligência por parte do dirigente escolhido de Israel não poderia senão diminuir a força dos preceitos divinos sobre o povo. Zípora, temendo que seu marido fosse morto, efetuou ela mesma o rito, e o anjo então permitiu a Moisés que prosseguisse com a jornada. Em sua missão junto a Faraó, devia Moisés ser colocado em posição de grande perigo; sua vida unicamente podia preservar-se pela proteção de santos anjos. Enquanto vivesse, porém, na negligência de um dever conhecido, não estaria livre de perigo; pois que não poderia estar protegido pelos anjos de Deus. {PP 178.3}
No tempo de angústia, precisamente antes da vinda de Cristo, os justos serão preservados pelo ministério de anjos celestiais; não haverá segurança para o transgressor da lei de Deus. Os anjos não poderão proteger, então, aqueles que estão a desrespeitar um dos preceitos divinos. {PP 178.4}